IV Festa Literária da Associação Cearense de Escritores homenageia Raimunda Tapeba e ancestralidades

Evento acontece a partir desta segunda-feira (25) e segue até sexta (29), abraçando diferentes expressões da literatura

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Mestra da Cultura e Pajé Raimunda Tapeba é a patronesse da IV FliAce, onde participará de alguns momentos
Foto: Foto: Helene Santos

Foi dentro da mata, junto ao verde, que Raimunda Rodrigues Teixeira cresceu. À época da mocidade, banhava-se no rio limpo, caçava caranguejo para comer e ornava a cabeça com coloridos penachos. Era também ali, no seio da natureza, que ela ouvia e contava histórias. Primeiro, num movimento de conhecer as próprias origens; e depois, com a missão de repassá-las às novas gerações, perpetuando as leituras dos povos da terra sobre a vida, o meio e o mundo.

A força com a qual expressava saberes logo traduziu-se em reconhecimento: tornou-lhe a primeira mulher a ocupar o papel de pajé numa etnia indígena no Ceará. Fez-lhe igualmente Raimunda Tapeba, Mestra da Cultura e líder de uma comunidade estimada em oito mil habitantes. Vivem às margens do rio Ceará, em Caucaia, e têm a memória, os costumes e as lendas, passadas de geração em geração, como armas para preservar aquilo de mais precioso: a ancestralidade.

É sobretudo essa sabedoria dos livros vivos que ganhará destaque na IV Festa Literária da Associação Cearense de Escritores (FliAce), evento que se inicia hoje (25) e segue até sexta-feira (29), no Shopping Benfica. A ação elege como patronesse desta edição exatamente Raimunda Tapeba – que ontem completou 75 anos de idade – e, consequentemente, toda a herança milenar carregada no semblante ativo, forte e inspirador. 

“Vários nomes vivos e de destaque na literatura e cultura cearense foram sugeridos e, após algumas reuniões, a escolhida foi uma Pajé Tapeba. Sem holofotes. Sem palco. Sem aplausos. Uma líder indígena de um povo perseguido e que vem sendo exterminado física e culturalmente há séculos. Essa escolha foi um belíssimo rompimento”, explica Silas Falcão, presidente da Associação Cearense de Escritores e um dos componentes do corpo curatorial da festa.

Com ele, outros nove profissionais da palavra organizaram uma programação cujo recorte prima pela pluralidade ao determinar como tema do evento “Inclusão Cultural, Tradição e Oralidade”.

Abrangência

Entre as atividades planejadas, acontecendo diariamente entre 10h e 22h, estão lançamentos de livros, palestras, mesas, encontros e diálogos. A Feira do Livro e o Palco Aberto são fixos, e uma profusão de apresentações musicais contemplando músicas africanas e cantos indígenas ganhará maior amplitude nos dias.

Legenda: Poeta Mika Andrade participará da mesa "Mulheres-crônicas-cotidiano"
Foto: Foto: Arquivo Pessoal

Convém também demarcar espaços de trocas a respeito de temáticas cada vez mais sintonizadas com a contemporaneidade. Discussões sobre o sertão, a relação entre literatura e mídias sociais e o lugar da mulher integram esse panorama. Sobre este último assunto, a mesa “Mulheres-crônicas-cotidiano”, com mediação de Cleudene Aragão, reunirá fortes nomes para ecoar impressões.

“Vamos conversar sobre o narrar o cotidiano, aquilo que parece banal. O detalhe perdido, mas capturado pelo olhar da mulher; o evocar lembranças e o retratar de uma janela à luz da escrita de nossas vivências”, situa a poeta Mika Andrade, uma das participantes do encontro.
 

Por sua vez, um dos curadores da FliAce, José Rubens Venceslau, reitera a organicidade da iniciativa. “Sempre procuramos nos pautar dentro de um contexto atual, nunca repetindo um mesmo autor, lançamento, palestra ou qualquer outro tema contemplado anteriormente. Buscamos o debate de situações que se mostram pertinentes, com vistas à necessidade social que ora se vive”.

Legenda: Entre os livros com lançamento marcado no evento, está "Não sei falar de amor" (Aliás Editora), da escritora cearense Virgínia Munhoz

Os pontos mencionados ganham ainda maior alcance frente às homenagens que o evento reserva. Haverá certificação de Raimunda Tapeba; entrega do Troféu Mandacaru à Casa de Juvenal Galeno, pelo centenário; e entrega da placa Procura de Poesia à primeira vice-presidente da ACE, Eudismar Mendes. Os autores indicados ao Prêmio Jabuti neste ano igualmente receberão honrarias.

“Nos cinco dias de programação, o novo que não acontece em eventos culturais estará sempre presente na festa”, conclui Silas Falcão.

Serviço
IV Festa Literária da Associação Cearense de Escritores (FliAce)
De hoje (25) a sexta-feira (29), das 10h às 22h, na Galeria BenficArte, no Shopping Benfica (Avenida Carapinima, 2200 - Benfica). Gratuito. Contato: (85) 3243-1000

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