Musical "Cartas para Gonzaguinha" chega a Fortaleza após temporada de sucesso no Rio de Janeiro

Serão apresentadas três sessões do espetáculo neste fim de semana, no Cineteatro São Luiz

Escrito por Wolney Batista , wolney.santos@verdesmares.com.br
Legenda: Ator Marcelo Alvim interpreta José, um trabalhador fabril
Foto: FOTOS: MARCELO RODOLFO

O homem que estava lado a lado com a "moçada que não foge da fera e enfrenta o leão" estaria orgulhoso em ver que seu legado continua a ressoar nos palcos do Brasil por meio de um grupo de artistas, tão jovem quanto resistente, assim como na canção dos anos 1980.

Em cartaz no Rio de Janeiro há sete meses - com sessões lotadas -, "Cartas para Gonzaguinha - O Musical" chega à Capital cearense para três apresentações neste fim de semana, no Cineteatro São Luiz.

O espetáculo parte de um fato real para enveredar na dramaturgia. "O Gonzaguinha, quando escreveu a música 'O que é, o que é?', lançou uma campanha pedindo para que as pessoas mandassem cartas para uma revista dizendo o que era vida para elas. Então, tem uma personagem que é faxineira e está imbuída pelo desejo de escrever essa carta para o Gonzaguinha. Ela vai, durante a peça, perguntando para todos os funcionários, inclusive para os chefes", situa a diretora do musical Rafaela Amado.

Legenda: Carta de uma faxineira em resposta a Gonzaguinha é o ponto de partida da peça

No palco, 23 jovens costuram essas histórias e montam um painel imaginário, mas fiel, da sociedade, tanto de 40 anos atrás, onde a peça é ambientada, como a contemporânea. O resultado é um espetáculo com extrema força política, mas sem soar partidário. Essa separação foi justamente o maior desafio, conta Rafaela.

"Tive que ficar atenta o tempo todo. É uma linha muito tênue. O elenco é de uma geração com cerca de 20 anos de idade, que não passou pela ditadura. Mas eles têm uma garra política muito grande, nasceram em uma época que sempre puderam defender as ideias. Tiveram momentos em que a gente precisou sentar e conversar".

Os ensaios aconteceram durante o pulsante período eleitoral de 2018, o que deixou claro para a equipe o quanto os temas levantados por Gonzaguinha continuam atuais. "Fomos vendo como as coisas estão parecidas. A peça se passa em um momento de abertura política. As pessoas estão saindo de uma ditadura de muitos anos que houve no Brasil. Estão muito impregnadas pelo medo da repressão, de expressar as suas ideias e ao mesmo tempo estão com esperança no futuro. Nesse período a gente estava como se tirando a cabeça da água e voltando a respirar. Nos ensaios, em muitos momentos a gente via que estava em um momento político que perigava um retrocesso. Uma iminência de censura, a cultura sendo menosprezada".

Repertório

Ao todo, o processo durou quatro meses entre dramaturgia, criação de texto, ensaios e montagem. Durante o percurso, o grupo ganhou o acompanhamento da filha de Gonzaguinha, Nanan Gonzaga, que tornou-se responsável pela pesquisa e participa como assistente geral. "Ela foi uma catalisadora do Gonzaguinha. A família ajudou muito em tudo o que a gente precisou mas nos deixou totalmente livres", analisa a diretora.

Legenda: Cenografia é ambientada em uma fábrica nos anos 1980

O repertório formado por 30 músicas do artista foi construído em conjunto pela equipe, mas tem na direção musical João Bittencourt, o idealizador do projeto. Para chegar ao número de canções, Rafaela Amado revela que a seleção foi um trabalho árduo. "A obra dele é interminável. A gente tinha umas 50 músicas que queríamos botar no espetáculo. Mas não dava. Tivemos que ir escolhendo as músicas para contar a história dos personagens que a gente queria contar".

Uma dessas trajetórias é a do personagem José, um trabalhador de fábrica que percebe os esfacelamentos acontecer ao redor e entende a necessidade de agir. O intérprete e um dos protagonistas do espetáculo, Marcelo Alvim, ressalta o caráter popular do acervo de Gonzaguinha. "No Rio, a gente percebeu como o público se identifica com a história. E como é atual; questões de preconceitos, políticas. É uma peça muito voltada para o povo", define.

"Quando estreou, vimos a força disso e das palavras do Gonzaguinha", reforça a diretora, e completa que apesar da crueza dos temas, o espetáculo versa sobre a positividade, o otimismo. "O José é um cara que tem esperança, que vai resolver. É o que a gente está precisando hoje, um pouco de esperança. Porque a função do teatro também é colocar um pouco de poesia na vida das pessoas"

Serviço
Cartas para Gonzaguinha - O Musical
Horários: sábado (27), às 16h e às 20h, e domingo (28), às 18h.
Local: Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500, Centro).
Ingressos: plateia inferior - R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)/ plateia superior - R$ 30  (inteira) e R$ 15 (meia)
Informações: (85) 3252.4138

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