Projeto usa pintura de ambientes como processo terapêutico no Hospital de Saúde Mental de Messejana

Durante o acompanhamento "Tintas Terapêuticas", pacientes colorem janelas, escadas e portas de ambientes compartilhados

Escrito por Redação ,
Projeto Tintas Terapêuticas
Legenda: Projeto é realizado há quatro meses nas duas alas masculino do HSM. Expectativa é que a ação também seja desenvolvida nas alas femininas da Instituição
Foto: Arquivo Pessoal

Quando usada em terapia, a cor traz sensação de acolhimento e mudança. Por isso, o projeto "Tintas Terapêuticas" utiliza a pintura de ambientes coletivos para promover o bem-estar em pacientes do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), localizado no bairro Messejana, em Fortaleza. O objetivo é decorar os ambientes comuns da instituição de uma forma mais receptiva, colocando o paciente como autor da transformação.

Duas alas masculinas do HSM já receberam a terapia decorativa e a ideia deverá atingir também as duas unidades femininas do Hospital até o fim do mês. Por trás da dinâmica está a psicóloga e musicoterapeuta Ré Campos. Ela conta que a iniciativa surgiu há quatro meses em adição à terapia musical já realizada no HSM. Promover o pertencimento e autonomia dos participantes é o principal objetivo da ação.

“As pessoas que têm sofrimento psíquico precisam de formas diferentes de expressão que não seja só a verbal. A expressão artística é muito rica. A arte, as cores, deixa os pacientes mais seguros, mais confiantes, para que ele possa aderir melhor ao tratamento. Eles se sentem autores daquela mudança”, explica Ré, colaboradora do HSM há 16 anos.

Tintas Terapêuticas
Legenda: Além das paredes, o chão, as janelas e as escadas também recebem a decoração colorida.
Foto: Arquivo Pessoal

Casa

O projeto é realizado duas vezes por semana e a quantidade de participantes oscila entre um encontro e outro. “As pessoas que estão aqui não passam muito tempo. Então, nem sempre são as mesmas pessoas que participam”, detalhada Ré. Horários e locais de pintura ficam a critério dos pacientes. “É no momento que eles podem, quando eles querem. São três pacientes que participam por semana, mas é um público rotativo”, adiciona.

As intervenções acontecem primordialmente em espaços compartilhados pelos internos e reduzem a sensação hostil nas unidades. “Nada de sala do médico ou enfermaria”, frisa Ré. “Nosso trabalho acontecem nos refeitórios, no pátio. Decoramos os combogós de cada leito. Eles estão pintando os ambientes em que eles estão todo o dia. É o que dá o sentimento de casa e não de hospital”, complementa. 

Mudar os espaços fez com que João (nome fictício), um dos internos, se sentisse mais acolhido dentro do HSM. “Fica mais bonito, mais limpo. Me senti muito bem, até o dia se passou mais ligeiro”, brinca. Compartilhar essa receptividade com os outros pacientes é motivador para quem continue nas pinturas. “Quero que os outros que vierem também se sintam à vontade”, explica. 

Acolhimento

Além de ser uma oportunidade para colocar a mão na massa, aponta a terapeuta, a Tinta Terapêutica faz com que o HSM fique com mais cara de lar. “Eles falam que o ambiente está mais alegre, que não se sentem tão desconfortáveis quanto antes. O que era branco, fica cinza depois de um tempo. Eles se sentem mais felizes, fica mais parecido com casa e não com hospital. Quando você traz as cores, traz uma alegria”, conta Ré. 

Ainda segundo a psicóloga, as cores preferidas são azul, lilás, amarelo, vermelho e verde. nada fica de fora da pintura. Além das paredes, o chão, as janelas e as escadas também recebem a decoração colorida. Ao longo da experiência, Ré percebeu uma semelhança entre os que frequentam o projeto. “Os que se interessam mais são pedreiros, pintores, serventes. Eles já fazem serviços lá fora”, enumera. 

É um caminho para que o interno se aproprie do tratamento e não se limite ao acompanhamento medicamentoso.

“Quando você vai fazer uma atividade diferente, está fazendo um trabalho funcional, laboral. Não está só tomando medicação. Ele precisa se sentir útil, se sentir sujeito”, finaliza a psicóloga.