'Situação é semelhante a casa com fiação gasta'

Conforme Levy, chegou a hora de fazer os ajustes necessários para que o País continue a crescer

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Legenda: Joaquim Levy e o presidente do BNB, Marcos Holanda, fecharam o fórum
Foto: Foto: jl rosa

Durante sua participação no XXI Fórum Banco do Nordeste de Desenvolvimento, que encerrou a programação do evento, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fez tudo que pôde para convencer os presentes de que o atual ajuste fiscal, assim como outras mudanças estruturais, é fundamental para que a economia brasileira retome a rota do crescimento. Diante de um auditório lotado por empresários, políticos, funcionários do BNB e autoridades, Levy usou até uma analogia para defender seu ponto. Segundo ele, a situação do Brasil é semelhante à de uma casa com fiação desgastada, onde tudo precisa ser trocado para garantir o bom funcionamento do local.

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"A gente vive uma situação assim: temos uma casa e tivemos anos bons, onde compramos uma porção de coisas para preenchê-la, tais como um freezer e uma geladeira maior. Chega uma hora, porém, que se você não mudar a fiação tudo isso vai queimar. O problema de fazer isso é que é muito chato, traz desconforto, leva tempo, mas é necessário", disse o ministro. "O Brasil é um pouco assim. Temos que fazer essa ajuste e algumas reformais para trocar a fiação. Só assim o País vai suportar o nível que chegou, especialmente em uma situação internacional menos favorável", completa.

De acordo com ele, quando o assunto é reforma estrutural, o principal ponto são os gastos públicos, que precisam ser revistos. Conforme diz, só o ajuste fiscal não é suficiente. "Não adianta só criar impostos, até porque as empresas perdem interesse em investir, assim como não adianta dar desconto aqui para cobrar ali. Não é uma conta que feche", ressaltou Levy, alfinetando, de certa forma, as políticas de desoneração do antigo ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Quem também falou durante o encerramento do fórum foi o presidente do BNB, Marcos Holanda. Após agradecer a participação de todos e enaltecer o trabalho do banco, ele disse que não teme a redução do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), proposto pela PEC 87. "Enquanto estivermos aplicando bem o FNE, ele estará garantido", disse.

Causas

Ainda de acordo com o ministro da Fazenda, uma série de fatores levou a economia brasileira para a situação atual. Segundo ele, a margem que o País tinha entre arrecadação e gastos foi se erodindo ao longo dos anos, muito por conta da perda de receitas, em virtude da eliminação de alguns impostos e tributos, além de uma política de desoneração extremamente agressiva e gastos com aposentadoria e salários de funcionários. "Também tivemos a desaceleração da economia de nossos parceiros internacionais, como a China", disse.

Joaquim Levy negou que a desaceleração da economia brasileira esteja sendo causada pelas medidas do governo. "Ela não estão mais devagar porque o governo resolveu apertar o orçamento ou gastar um pouco menos, prova disso é que o superávit estrutural vinha se deteriorando e agora está mais estabilizado", ressalta. "A incapacidade de atingir a meta do superávit fiscal é reflexo da fraqueza da própria economia, inclusive por fatores que não são econômicos, como políticos e de natureza externa".

Importância para o NE

O ministro da Fazenda também avisou que o equilíbrio das contas públicas do País é de suma importância para o Nordeste, tendo em vista que as transferências federais respondem por até 20% do PIB da região. "Estamos fazendo um esforço muito grande para continuar com as ações. Só o FPM e FPE injetam R$ 50 bilhões na região. Óbvio que o governo federal continua importante e é fundamental que tenhamos uma solidez fiscal para que isso continue", pontua Levy.

Um detalhe que pode atrapalhar o desempenho das transferências federais para o Nordeste é a queda da arrecadação do Imposto de Renda, informa Levy. "Estamos combatendo a situação. Precisamos retomar a arrecadação do Imposto de Renda. Por isso a importância de avançar no ajuste fiscal", defende.

Elogios à CSP

Na manhã de ontem, Levy visitou a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) e, durante sua participação no fórum, fez questão de elogiar a siderúrgica, a quem chamou de "extraordinária". "A usina vai produzir recursos não só para a exportação, mas, pela qualidade do aço, tenho certeza que vai suprir outras siderúrgicas no Brasil, inclusive para a produção de insumos para a cadeia de óleo e gás e outras áreas de alta tecnologia", finaliza.

Áquila Leite
Repórter

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