Série "Assédio" leva para TV aberta caso real de abuso sexual contra mulheres

Produção estreia nesta sexta-feira (3), na Globo e tem no elenco Adriana Esteves e Antonio Calloni

Escrito por Wolney Batista , wolney.santos@verdesmares.com.br
Legenda: Ator Antonio Calloni interpreta o médico Roger Sadala, autor do crime de assédio sexual contra dezenas de mulheres
Foto: FOTOS: DIVULGAÇÃO/ GLOBO/ RAMÓN VASCONCELOS

Sonho transformado em dor. Os destinos de várias mulheres se encontram quando elas têm o desejo da maternidade convertido em horror após sofrerem o crime de assédio sexual cometido pelo famoso Dr. Roger Sadala (Antonio Calloni).

A estreia da série "Assédio" na Globo, amanhã, após o "Globo Repórter", leva para a TV aberta o enredo atual e urgente, exibido a priori no serviço de streaming Globoplay.

A trama, apresentada em 10 episódios, gira em torno da luta por justiça de Stela (Adriana Esteves), Eugenia (Paula Possani), Maria José (Hermila Guedes), Vera (Fernanda D'umbra) e Daiane (Jéssica Ellen). Com histórias de vida distintas, elas se ligam umas às outras quando procuram o médico para realizar uma inseminação artificial. Violentadas no consultório e silenciadas pelo costumeiro descaso da sociedade, as vítimas acolhem-se entre si. Na batalha em busca de fazer o culpado pagar pelos crimes, o quinteto ganha ainda uma forte aliada, a determinada jornalista Mira (Elisa Volpatto).

Do outro lado, o Dr. Roger Sadala tem uma prestigiada e poderosa carreira. Rico e sedutor, ele mantém a aparência da família perfeita. Internamente, o casamento com Glória (Mariana Lima) desmorona diante das traições dele e do ciúme dela. Com os quatro filhos, o médico é alvo de um misto de admiração e desprezo.

Devido ao vínculo profissional e pessoal, Sadala começa a se envolver também com Carolina (Paolla Oliveira), casada com um juiz amigo dele. Ela chegará a ser segunda esposa do médico e estará ao seu lado quando o processo criminal vir à tona.

No desenrolar da história, as vozes das cinco mulheres se somam a outras dezenas de vítimas que reconhecem o médico e denunciam os assédios sofridos.

A obra é inspirada livremente no livro do escritor Vicente Vilardaga, "A Clínica: A Farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih", que conta o caso real do especialista em reprodução in vitro condenado a 278 anos de prisão por 52 estupros cometidos contra 39 mulheres, em São Paulo.

"Através da série as pessoas vão vibrar com as mulheres, odiar o médico e discutir o assunto. A violência contra mulher é uma coisa que não dá mais para suportar", resume o ator Antonio Calloni. A produção tem ainda participações especiais de Mônica Iozzi, Bárbara Paz e Vera Fischer, entre outras.

Comando feminino

A diretora artística de "Assédio", Amora Mautner, aponta que um dos pontos fortes do projeto é ter a participação de tantas mulheres. "Estar com outras mulheres para falar deste assunto nos deu esse privilégio. Temos a sensação comum de já termos sido assediadas em algum momento da vida, em algum aspecto".

À frente da série estão também as escritoras Maria Camargo e Bianca Ramoneda, que dividem a autoria do texto com Fernando Rebello e Pedro de Barros. A direção-geral é de Joana Jabace e direção de Guto Botelho.

Amora Mautner revela ainda que a estética usada na série teve o propósito de reforçar a crueza do tema. "Aquelas mulheres estão morrendo por dentro. Então, procuramos uma luz mais verde, como as de necrotérios. Mas as personagens, de alguma forma, pulsam vida. Eu gravava aquelas cenas sempre lembrando que elas seriam vitoriosas".

A autora Maria Camargo conta que apesar da série abordar o crime do médico, ela também alcança o protagonismo feminino. "Vamos falar sobre essas mulheres que em algum momento deixam de ser apenas vítimas de assédio e violência sexual e passam a ser protagonistas das suas histórias. Elas representam esse mundo que está mudando. Vamos falar de uma sociedade que há muito tempo está calcada em um modelo machista de funcionamento, de coisas que são consideradas naturais e normais, e não deveriam ser", pontua.

"Os assédios e, sobretudo, os estupros e a violência sexual são o ponto mais radical desse funcionamento. Estamos falando de mulheres que são atacadas por um médico especialista em fertilização. São mulheres que estão com uma fragilidade emocional, que desejam muito um filho e se sentem fracassadas por não ter. Então recorrem a esse homem, como última esperança de realizar esse sonho", completa a autora.

Função artística

Para compor a personagem, a atriz Adriana Esteves detalha que buscou empatia com as vítimas. "Um trabalho com essa denúncia, ele cumpre uma função artística e social muito grande. Esse assunto tem que deixar de ser um tabu. É uma série corajosa, que fala de sororidade, de amizade. Essa é uma porta aberta, que não vai se fechar mais. Ainda vamos ter que pensar muito, gritar muito, falar muito sobre isso".

Adriana define Stela como uma mulher vítima de dores e frustrações fortes, que foram agravadas por uma enorme sensibilidade. "Procuro ter responsabilidade em apresentar uma história, com fidelidade e respeito a pessoas que passaram por situação semelhante", conta. Para ela, a construção cênica é algo que beira o artesanal. "Aos pouquinhos a personagem vai nascendo, amadurecendo, crescendo, se encontrando em sua função. Só quando vai ao público, consigo dimensionar o que foi feito".

Stella (Adriana Esteves) 

Professora, casada com o piloto de avião Homero (Leonardo Netto), ela vive feliz no casamento e tenta ter um filho há algum tempo. Depois da primeira consulta com Roger Sadala, sai radiante com a perspectiva da maternidade, mas o mundo cheio de esperanças dá lugar a dias sombrios após ela ser violentada pelo médico enquanto estava anestesiada. Os anos que se seguem são de silêncio e amargura. 

Eugênia (Paula Possani) 

Assim como aconteceu com Stela e Homero, o casal Eugênia e Ronaldo (Felipe Camargo) procura tratamento para fertilização. A arquiteta sonha em gerar um herdeiro do amado, que fez vasectomia após ter filho do primeiro casamento. Violentada pela primeira vez, ela sai do consultório sem entender o que aconteceu. Eugênia é assediada novamente e, junto ao marido, procura um advogado. 

Vera (Fernanda D'Umbra) 

Ela sofre agressões psicológica e física do Dr. Roger quando resolve fazer a família aumentar e ter um filho com a esposa Elisa (Simone Iliescu). As duas registram o crime com a ajuda de um advogado e anos depois conhecem Eugênia, outra cliente estuprada pelo médico. Elas decidem, então, se juntar na luta contra os abusos sofridos e se ajudam mutuamente na árdua trajetória de provar os acontecimentos. 

Daiane (Jéssica Ellen) 

A personagem é uma testemunha crucial no caso. Recepcionista do consultório de Roger Sadala, Daiane acredita que algo de errado acontece durante as consultas, mas não tem certeza do que ocorre exatamente. Procurada pela primeira esposa do médico, Glória (Mariana Lima), para espiar o patrão, é atacada por ele. A funcionária rompe o silêncio e decide publicar o crime. 

Maria José (Hermila Guedes)

Com pouca condição financeira, ela e o marido Odair (João Miguel) empregam todas as economias quando decidem sair de Vitória da Conquista, na Bahia, para buscar, em São Paulo, ajuda profissional para engravidar. Após o assédio do médico, ela sofre desconfiança do marido, que acredita que a relação foi consensual. Ela segue o tratamento mesmo depois do ataque em nome da vontade de gerar uma prole.

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