Influenciadas por Marília Mendonça, mulheres cearenses trilham carreira na música sertaneja

Aos vinte e poucos anos, Luh Barboza e Letícia Lima se apresentam nos bares de Fortaleza com o sonho de alcançar públicos maiores

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Começando a atuar no segmento aos 12 anos, Luh Barboza realiza apresentações em bares, restaurantes e festas privadas de Fortaleza
Foto: Divulgação

Elas mal viraram a segunda década de vida e já podem ser consideradas veteranas quando o assunto é música sertaneja. Afinal, das paixões que começam a despertar desde cedo, essa foi uma capaz de consolidar horizontes e projetar outros. Mulheres cearenses estão se lançando com grande vigor em um cenário ainda notadamente marcado pela presença masculina.

Muito dessa vontade de quebrar barreiras no meio e ir adiante com talento e perseverança se conecta com a herança deixada por Marília Mendonça. Vítima de acidente aéreo na última sexta-feira (5), a cantora e compositora goiana é presença frequente na fala da também artista musical Luh Barboza, 21.

“Ela foi e sempre será a minha maior inspiração”, destaca, situando a tristeza em receber a notícia da morte de quem tanto admirava. “Tive muita dificuldade de comparecer a alguns shows em barzinhos que eu já havia fechado. Foi um grande baque para todos nós”. Mas o que poderia ser motivo de paralisia, agora injeta cada vez mais fôlego nos trabalhos adiante.

Legenda: No próprio meio musical, Luh Barboza tem a sorte de ainda não ter encontrado nenhum obstáculo por ser mulher
Foto: Divulgação

Nos palcos desde os 12 anos, Luh percebe que seguir na música e construir uma carreira nunca foi e nunca será fácil. Mesmo assim, não desiste de buscar a realização de sonhos e de tocar o público pela emoção. Ela coroa as noites de Fortaleza com um repertório que caminha entre o sertanejo e o piseiro, gêneros favoritos.

Os temas das canções são os mais variados: sobre ex-parceiros, amigas, amor e estado civil. “Músicas que não podem faltar em meus shows, são: ‘Graveto’, ‘Alô, porteiro’, ‘Presente de Deus’ e ‘Meu Mel’”, enumera. “O gosto pelo sertanejo começou ao ver Marília Mendonça e Paula Fernandes compondo, tocando e dando voz  para nós, mulheres”.

Tendo crescido em berço evangélico, a cearense sofre bastante com as escolhas musicais por conta da religião. Contudo, no próprio meio artístico, ela teve a sorte de ainda não ter encontrado nenhum obstáculo por ser mulher. “Tenho muitos amigos que me incentivam, principalmente por ser compositora e querer juntar o sertanejo e o piseiro”.

Legado estendido

Quando reflete sobre as artistas responsáveis por alavancar novos percursos para outras integrantes do panorama, os nomes vêm facilmente. Além das já citadas Marília Mendonça e Paula Fernandes, Luh Barboza referencia Maiara & Maraisa, Simone e Simaria e Naiara Azevedo. Segundo ela, o reconhecimento conquistado pela nova geração de mulheres no sertanejo e no piseiro só foi proporcionado por conta dessas intérpretes.

“A música é isso, dar voz. Nosso Nordeste é cheio de talentos, acredito que muitas cantoras se tornarão conhecidas mundo afora. Assim como eu, muitas mulheres estão cantando em bares, restaurantes, casamentos e eventos fechados, como aniversários, festas entre amigos e momentos em família”.
Luh Barboza
Cantora e compositora

Em cada um desses instantes, brota uma satisfação de ver a alegria nos olhos das pessoas quando a veem cantar. Para a artista, o retorno é inexplicável e repleto de amor. “Não há coisa melhor no mundo do que receber palavras de encorajamento, de persistência, de ver que meu público acredita que eu posso ir além”.

Inclusive, por ela possuir um timbre forte e ao mesmo tempo delicado, alguns espectadores acabam recordando de Marília ou de Paula Fernandes ao estar em contato com a performance de Luh. Marília Mendonça, não sem motivo, a ensinou a nunca desistir dos sonhos; dar sempre o melhor; investir em si e nas pessoas que apostam no seu potencial; escolher bem os amigos; e fazer música, não importa a situação. 

Somadas, todas essas prerrogativas já fizeram com que a cearense tenha lançado um clipe, em 2019, a partir de uma música sobre a necessidade de conscientização à depressão e ao suicídio – no rastro da campanha Setembro Amarelo; e um EP no início deste ano, intitulado “Não Nego”, disponível em todas as plataformas musicais.

“Estou trabalhando em um novo EP, com uma mistura de sertanejo e piseiro. Acredito que até o finalzinho do mês estarei soltando algumas músicas”, adianta. “Para as mulheres que estão iniciando no ramo, meu conselho é que tenham atenção com quem dividem os sonhos, usem a internet a favor de vocês, e componham, preparem um repertório e cuidem em cantar nos bares e restaurantes de Fortaleza, para adquirir experiência musical e de vida também”.

Sempre um romantismo 

Igualmente com pouca idade, Letícia Lima Araújo, 22, também escolheu percorrer esse caminho musical e elege o componente romântico como a bandeira-master de sua atuação nos bares, restaurantes e festas privadas da Capital.

“Convite de casamento”, de Luan Santana, e “O que falta em você sou eu”, de Marília Mendonça, estão entre as músicas que não podem faltar nas apresentações de Letícia. O objetivo, de acordo com ela, é tocar as pessoas, fazendo com que o clima de afeto e união paire entre os casais e os outros espectadores que acompanham o show.

Legenda: “O que falta em você sou eu”, de Marília Mendonça, é uma das músicas que não podem faltar nas apresentações de Letícia Lima Araújo
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“Desde 2016 canto em barzinhos e sempre coloquei o sertanejo em meu repertório pelo fato de ser um ritmo que gosto, e também pelo público”, explica, referenciando também que, com ela, outras mulheres estão se lançando na cena, esticando os modos de fazer e presentificar a música sertaneja entre nós.

“Graças a Deus, nunca sofri nada por ser mulher. As pessoas em geral e meu público sempre foram muito legais e agradáveis comigo”. Essa realidade, conforme aponta, deve-se bastante à atuação de cantoras como Marília Mendonça. Na visão de Letícia, ela é a maior artista do Brasil.

“Quando comecei a cantar, meu repertório era só Marília, e até hoje também tem muitas músicas dela no meu show. As pessoas sempre pedem muito, Marília atingiu todas as idades e gêneros”. É continuar seguindo essas mulheres para comprovar que a semente plantada está rendendo inspirados e cativantes frutos.

 

Serviço
Você pode acompanhar o trabalho de Luh Barboza e de Letícia Lima Araújo, respectivamente, por meio destes links: @luhbarbozaoficial@leticialimacantora

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