Casal de cearenses povoa cidade satélite de Ceilândia

Escrito por Redação ,
Legenda:
Foto:
Raimundo Carnaúba gerou 40 filhos que moram em Ceilândia, no DF. A prole o levou ao livro dos recordes

Brasília. Os cearenses que vieram para Brasília nestes 50 anos se destacaram em várias atividades. Bons carpinteiros, serralheiros, mecânicos, operários da construção. Uns são ótimos garçons, outros insuperáveis na arte culinária. Dizem que os cearenses são os japoneses da cozinha. Não criam, mas copiam com perfeição qualquer prato.

Tem cabeça chata brilhando no comércio, na indústria, nas letras, no magistério e no judiciário. Muitos estão na diplomacia e na política. Mas só um, só ele, entre todos os cearenses que até hoje moram em Brasília, conseguiu a proeza de fazer 40 filhos, 32 deles com a mesma mulher.

Raimundo Carnaúba era um bom marceneiro mas só se destacou pelo preparo físico e sexual O que mais causa admiração é a disposição para criar, alimentar e educar tanta gente num mundo em que a maioria dos casais não passa do segundo filho.

Quando a cidade tomou conhecimento do formidável desempenho de Raimundo e dona Madalena, eles logo viraram notícia e passaram a atrair a curiosidade de todos que queriam saber detalhes de sua história.

Jornalistas do mundo inteiro desembarcaram na casa deles, na Ceilândia, uma das cidades satélites do Distrito Federal. Uma equipe da imprensa alemã não quis nem saber de hotel. Alojou-se na marcenaria que o Raimundo tinha ao lado da residência. Para aproveitar o máximo de tempo no convívio da numerosa família, os alemães dormiram até em rede.

Jornalistas da Noruega também estiveram na Ceilândia, mas o que causou mais curiosidade foram os japoneses. Os jornalistas nipônicos ficaram, impressionados com a fertilidade do casal cearense.

O fotógrafo japonês jamais será esquecido pela família Carnaúba nem ele vai esquecer o dia em que passou na Ceilândia fazendo suas fotos.

Um dos filhos de Carnaúba estava tomando cachaça com rapadura raspada, uma meladinha deliciosa, mas que derruba rapidamente o freguês, principalmente se for marinheiro de primeira viagem.

O japonês se encantou com o sabor e sem conhecer o efeito meteu a cara na meladinha. Horas depois já nem sabia onde estava a máquina. Quando o motorista veio apanhá-lo estava bêbado, sem conseguir ficar de pé. A preocupação dos Carnaúba só cessou no dia seguinte quando o mesmo motorista retornou. Era o tal japonês que estava pedindo mais rapadura raspada para repetir a formula que o deixara biruta.

A vitalidade de Raimundo Carnaúba, - palavra que identifica uma árvore do semi-árido nordestino, chamada também de a árvore da vida, - transformou este cearense no maior pai de Brasília, aquele, sem dúvida, que teve mais filhos.

Nos dias do Pai ou da Mãe e nas festa de Natal, Raimundo Carnaúba e dona Maria Madalena de Souza viram notícia. Até hoje ela é procurada para falar de sua vida e da prole.

Uma história de amor que começou no século passado, no interior do Ceará. Dona Madalena veio ao mundo no dia 22 de julho de 1920 no município de Tamboril. Ainda menina, aos 10 anos de idade, ela conheceu Raimundo Carnaúba. Foi amor à primeira vista. Naquele tempo as crianças começavam a trabalhar muito cedo, ajudando a lavar roupa, a varrer a casa, fazer compras, cuidando dos irmãos menores, se envolvendo de tal forma nos afazeres domésticos que passavam a ser tratadas como pessoas adultas.

Raimundo, um vendedor de querosene, de 24 anos de idade, prometeu àquela menina que voltaria para casar quando ela completasse 13 anos.

A idade permitida para casamento era maior. A autorização só era dada para quem tinha 14 anos completos. Mas isso não foi impedimento. A filha caçula, Maria Aparecida Carnaúba, conta que dona Madalena alterou a certidão de nascimento para poder casar. Mesmo contra a vontade de seus pais, a moça de 13, fingindo ter 14, se uniu ao marceneiro.

Mais de 400 pessoas compareceram a festa de casamento que foi até a manhã do dia seguinte. Foram 61 anos juntos. Desde então, até aos 47 anos de idade, quando chegou a menopausa, dona Madalena, uma cearense de 1,50m, não parou de ter filhos. A criação dos filhos não permitiu nem que dona Madalena frequentasse uma escola. Desde cedo assumiu a profissão de mãe.

O médico lá da cidade de Tamboril chegou até a passar um remédio para evitar gravidez, mas Raimundo colocou medo nela, dizendo que ela podia morrer tomando aquele medicamento. Raimundo nem esperava direito o período de resguardo. Dona Madalena diz que "era só tempo de descansar um pouquinho". A barriga não parava de crescer.

Cinco gestações foram de gêmeos. E quando dona Madalena estava com aquela barriga ela tinha certeza que era a hora que estava sendo traída. Foram nesses intervalos que Raimundo andou fazendo oito filhos, ou mais, em outras mulheres.

Dona Madalena contou que sempre que o marido a traía com outras mulheres, ele ficava mais carinhoso com ela. "Eu ficava brava, mas depois esquecia"contou sem demonstrar ressentimento. A vida no interior do Ceará não era fácil. De Tamboril a família mudou-se para Nova Russas. A falta de infraestrutura nas cidades do interior tornava a vida das pessoas um tormento. O jeito foi procurar pela cidade grande.

LONGE DA SECA
Família fugiu do sertão pobre


A falta de infraestrutura nas cidades do interior do Ceará tornava a vida das pessoas um tormento. O fogão era à lenha, não existia banheiro muito menos sanitário. Banho era no rio, as necessidades no mato, as pessoas faziam verdadeira ginástica para enfrentar o dia-a-dia.

Uma vida de sacrifício que Raimundo resolveu colocar um basta quando decidiu vir para Brasília. Em 1961 viajou com alguns dos 26 filhos e foi se instalar na Vila do IAPI, no Núcleo Bandeirante.

Arranjou emprego no Tribunal de Contas, onde ficou até a aposentadoria. Poucos meses depois foi dona Madalena que trocou o Ceará por Brasília. Foram oito dias e oito noites num caminhão pau-de-arara.

A mulher e mais o resto da meninada. O caminhão rodando por aquelas estradas esburacadas, tremia mais que vara verde. A dormida era em meio aos peões na escuridão daquelas noites que pareciam não ter fim.

Era 1961, a cidade estava com um ano, as pessoas estavam alegres. Nova terra, nova esperança e a certeza de que seriam felizes.

O casal fez logo amizades com os vizinhos e Raimundo começou a organizar reuniões dominicais. Ao som da voz de Nelson Gonçalves as festas de Carnaúba iam até a madrugada de segunda feira.

A filha caçula conta que o pai fretava um ônibus que ia buscar as pessoas e dançavam até o clarear do dia, com, muita comida e bebida. Muitas dessas convidadas iam pra cozinha ajudar a fazer as paneladas com comida. Segundo a filha Maria Aparecida "muitas dessas comadres vinham para ajudar minha mãe e já saíam de bucho cheio, literalmente, já que o marido de dona Madalena gostava mesmo era das mulheres.

Raimundo Carnaúba morreu há 16 anos, aos 85 anos, vítima de diabetes. Ele tinha 1,95m de altura. Fosse gaúcho poderia ter sido um belo jogador de basquete. O que lhe sobrava de filhos faltava de dentes. Detalhe que nunca o incomodou. Abria aquela boca num sorriso espontâneo, principalmente quando encontrava uma mulher.

Era um excelente profissional, um marceneiro de mão cheia, aquele profissional que trabalha a madeira com mais arte do que o carpinteiro. Ele não bebia. O que gostava mesmo era de fazer filhos e amigos.

Os filhos vivem espalhados pelas cidades satélites do Distrito Federal. Dos 32 apenas 17 sobreviveram. São onze homens e seis mulheres.

Alguns morreram pequenos, ainda no Ceará. O mais velho está com 74 anos. Algumas das filhas mulheres, até para comprovar que são filhas de Carnaúba, se danaram a parir feito a mãe. Maria das Medalhas, hoje com 56 anos, teve 15 filhos.

A irmã, Maria das Graças deu à luz 13. A caçula, Maria Aparecida (Cida) é que só teve um filho. Hoje. Cida e o irmão Manoel tomam conta de dona Madalena.

SAÚDE
Lucidez e vitalidade aos 89 anos
 

Atualmente dona Madalena mora com os filhos Maria Aparecida e Manoel Carnaúba. Ela é a caçula das mulheres e ele o mais novo dos homens vivos, com 52 anos. "Mesmo depois de velho, ela ainda cuida de mim. Se eu sair de casa com sol e sem o boné, ela me chama e briga. É uma supermãe", diz.

A casa é simples mas confortável. Dona Madalena cuida de pássaros com a mesma paciência com que cuidou dos 32 filhos, e ajudou a criar seus 160 netos, 100 bisnetos e 25 tataranetos.

Uma das missões mais difíceis de cumprir, lembra, era dar banho em toda aquela meninada. Ainda bem que os mais velhos sempre ajudavam olhando o outro. À medida que os filhos iam crescendo, eles também aprendiam a ajudar a mãe nos afazeres de casa. Quando um desobedecia ai a coisa ficava feia. "Meu pai era bravo. Bastava um olhar dele para a gente ficar quieto. Quando não dava conta de bater em todo mundo de uma vez só, ele pegava a gente de madrugada, dormindo", conta Maria Aparecida.

A roupa suja, a louça e a redes onde os filhos dormiam, eram lavados em um rio distante alguns quilômetros de casa.

Ainda hoje, cuidar da família é o maior prazer dessa cearense, que em 1977 figurou no livro dos recordes. Ela foi para o ´Guiness Book´ como a mulher mais fértil do mundo.

Dona Madalena passou 24 anos grávida à sombra de seu Raimundo Carnaúba que lhe encheu a vida de prazer, filhos e alegria. Realmente um casal cearense sem igual.

GUINNESS BOOK 
Brasileira estaria hoje em terceiro lugar no livro

O livro de recordes, o ´Guinness Book´ indica que a mulher que teve maior número de filhos foi a russa Fyodora Vassilet (1816-1972), que viveu na corte do czar Alexander II. Ela teve 69 filhos em 27 partos, sendo 16 gêmeos, 7 trigêmeos e quatro vezes foi mãe de quadrigêmeos.

A segunda colocada seria de Leontina Albinafrom, da localidade de Santo Antônio, no Chile. Ela afirma ser a mãe de 64 filhos, mas só tem certidões de nascimento de 55 deles.

Madalena Carnaúba estaria hoje em 3º lugar no livro de recordes com os 32 filhos, sendo 24 homens e 8 mulheres. Pariu dos 13 aos 47 anos.

Já o homem que teve mais filhos reconhecidos na história foi o imperador de Marrocos, Ismail Mulai (1646-1727). Em 1703 ele tinha pelo menos 342 filhas e 525 filhos. Já em 1721 a prole teria aumentado para 700 descendentes masculinos.

Os dois casos de mulheres que tiveram filhos com mais idade são das americanas Ellen Ellis, que teve seu 13º filho com 72 anos, em 1776, quando estava casada há 46 anos, e Ruth Alice Kistler, que com 57 anos, teve, em 1956, um filho.

O livro dos recordes teve sua primeira edição lançada em 1955. Em 2003, o livro chegou a 100 milhões de cópias vendidas, desde a sua primeira edição, sendo a publicação mais vendido da história. É publicado em 37 línguas.

WILSON IBIAPINA
SUCURSAL