A rosácea é uma doença crônica da pele com prevalência nas mulheres, mas que pode atingir pessoas de diferente sexos e idades. Embora não seja grave é, pelas suas manifestações, bastante incômoda e por vezes constrangedora do ponto de vista estético e na relação com os outros.
A doença é relativamente comum e está presente em cerca de 16 milhões de pessoas só nos Estados Unidos. No Brasil, a incidência estimada é de dois milhões de casos por ano, de acordo com dados da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Existe uma manifestação praticamente comum a todas as formas de rosácea: a vermelhidão da face, também conhecida por "couperose". “A fisiopatologia desta condição, porém, não é completamente compreendida. Existem associações com uma variedade de condições sistêmicas crônicas, como doenças cardiovasculares, distúrbios metabólicos, doenças autoimunes e doença de Parkinson, mas que ainda precisam de mais estudos”, avalia a médica dermatologista Raíla Macedo*.
Ela evidencia, ainda, que o melhor especialista para avaliar a pele, em casos de sintomas, é o dermatologista e que o atraso no diagnóstico pode comprometer a evolução da doença.
O que é rosácea?
Trata-se de uma doença comum da pele que acomete a face. As características incluem vermelhidão, pápulas, pústulas que podem ser confundidas com espinhas (acne), aumento de vasinhos na face e até manifestações oculares, explica a dermatologista.
Essas alterações faciais podem causar constrangimento, baixa autoestima e ansiedade, com um efeito negativo na qualidade de vida. Normalmente a condição se inicia entre os 30 e 50 anos de idade e é caracterizada por episódios de melhora e piora.
É mais frequente em mulheres, porém atinge muitos homens e, neles, o quadro tende a ser mais grave, segundo Raíla Macedo, evoluindo continuamente com rinofima (aumento gradual do nariz por espessamento e dilatação folículos). Raramente ocorre em negros.
A origem da rosácea ainda não é conhecida. Há uma predisposição individual (mais comum em brancos e descendentes de europeus) que pode ser familiar (30% dos casos têm uma história familiar positiva), evidenciando uma possível base genética. Há forte influência de fatores psicológicos (estresse).
Hoje, considera-se importante a participação de um ácaro da flora normal da pele chamado de Demodex folliculorum, e da bactéria Bacillus oleronius, que colonizam esse fungo.
Quais são os tipos de rosácea?
Existem quatro tipos rosácea:
- Eritemato-telangiectásica: se apresenta habitualmente como um rubor persistente no nariz e nas bochechas e episódios recorrentes de “flushing”, que são ondas de calor, com vermelhidão intensa na face. A presença de pequenos vasos sanguíneos visíveis no rosto, geralmente na bochecha, chamados aranhas vasculares ou teleangiectasias, também são comuns. A pele ressecada é outra característica desta forma de rosácea.
- Pápulo-pustulosa: é caracterizada pela presença de pápulas e pústulas localizadas preferencialmente na face central. As lesões podem ser confundidas com acne comum, mas diferem por serem mais nodulares e não conterem os característicos pontos negros ou brancos de cravos e espinhas.
- Fimatosa: se caracteriza por hipertrofia e espessamento da pele, tornando-a irregular. Essa é a forma esteticamente mais incômoda. O envolvimento mais comum é do nariz, que recebe o nome de rinofima, mas também pode ser visto em outros pontos da face, como o queixo (gnatofima), testa (glabelofima) ou bochechas.
- Ocular: ocorre em mais de 50% dos pacientes. Manifestações comuns incluem vermelhidão dos olhos, terçol, sensação de queimação ou corpo estranho, olho seco, visão embaçada, coceira nos olhos ou alterações no lacrimejamento. O acometimento ocular pode preceder, suceder ou ocorrer simultaneamente com as lesões da pele. Crianças e adultos podem ser afetados.
Quais são os sintomas de rosácea?
A rosácea é uma doença que afeta a pele principalmente da região centrofacial. Caracteriza-se por uma pele sensível, geralmente mais seca, que começa a ficar eritematosa (vermelha) facilmente e se irrita com ácidos e produtos dermatológicos, no geral, descreve Raíla Macedo.
Aos poucos, a vermelhidão tende a ficar permanente e aparecem vasos finos (telangiectasias), pápulas e pústulas que lembram a acne, podendo ocorrer edemas e nódulos. Fequentemente, surgem sintomas oculares, de olho seco e sensível à inflamação nas bordas palpebrais (blefarite).
Na fase pré-rosácea, há eritema discreto na face, que se agrava com surtos de duração variável, surgindo espontaneamente ou pela ação de fatores citados. Aos poucos, os episódios podem se tornar frequentes e até permanentes. Um sintoma pode ser mais proeminente que outro, variando muito de pessoa a pessoa. As lesões não necessariamente evoluem.
Sinais e sintomas típicos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia:
- Flushing facial: períodos de sensação abrupta de vermelhidão e calor na pele como se fosse um surto de vasodilatação.
- Telangiectasias: dilatação de pequenos vasos permanentes.
- Persistente eritema facial.
- Pápulo-pustulosas: podem ocorrer nódulos. As pápulas podem, eventualmente, quando numerosas, formar placas granulomatosas (rosácea lupoide);
- Rinofima: espessamento irregular e lobulado da pele do nariz e dilatação folicular, levando ao aumento e deformação do nariz . Esses espessamentos podem ocorrer em outras áreas como na região frontal, malares (maçãs do rosto) e pavilhões auriculares.
- Alterações oculares: ocorrem em 50% dos casos (irritação, ressecamento, blefarite, conjuntivite e ceratite).
Como tratar a rosácea?
A depender do grau e subtipo de rosácea, pode ser tratada de diversas formas. Existem medicamentos tópicos (à base de pomadas) como o uso de metronidazol a 0,75%, ácido azelaico ou ivermectina. A vermelhidão deve ser enfrentada com medicamentos orais como betabloqueadores. Pode ser tratada também com o laser vascular, muito eficaz no desaparecimento da vermelhidão e dos capilares dilatados da face, tão inestéticos como indesejados.
O laser permite não só clarear a pele como contribui para a melhoria sintomática da doença diminuindo ou fazendo desaparecer os surtos de rubor e de calor facial, tão frequentes nesta patologia. Ao "fechar" muitos capilares dilatados, o laser ajuda a tratar as outras manifestações da doença dependentes da vasodilatação e atrasa a sua evolução. Estudos recentes mostraram que a aplicação de toxina Botulínica também tem efeito positivo na melhora da rosácea.
É importante enfatizar que o uso de filtros solares cotidianamente no rosto é fundamental para controle da doença e manutenção dos resultados, pois a radiação ultravioleta é um fator desencadeante e agravante. Outros fatores agravantes são bebidas alcoólicas, bebidas quentes ou condimentados, temperatura muito fria ou muito quente, medicamentos vasodilatadores e fatores emocionais.
Como saber se tenho rosácea?
De acordo com Raíla Macedo, caso a pessoa note que o rosto fica vermelho com facilidade, tenha aumento dos vasinhos no rosto, aparecimento de lesões tipo espinhas na fase adulta ou passe a notar uma sensibilidade maior do rosto, deve procurar atendimento com médico dermatologista, pois são indícios de que pode haver uma rosácea.
O que usar para tratar a rosácea, com relação a medicamentos e tratamentos?
O tratamento mais adequado para cada tipo de rosácea será decidido pelo dermatologista juntamente com o paciente, pois uma avaliação detalhada da qualidade de pele assim como as lesões, fatores desencadeantes, devem ser levados em consideração, ressalta a dermatologista.
“Sabemos que a terapia combinada é necessária para alcançar um tratamento eficaz, especialmente em pacientes com rosácea grave ou múltiplas características de rosácea. Como exemplo temos terapia oral combinada com terapia tópica e terapia com laser com terapia tópica. Uma terapia combinada que normalmente gosto bastante e com boa resposta e baixos efeitos colaterais é a associação de laser com toxina botulínica intradérmica”, explica.
O que deve ser evitado por quem tem essa condição?
A dermatologista aconselha os pacientes a manter um diário para identificar os gatilhos que podem exacerbar a rosácea. Por exemplo, cosméticos, condições climáticas, entre outros fatores como exercícios, medicamentos, alimentos apimentados, bebidas alcoólicas e estresse. E, portanto, adiciona a médica, indica-se evitar os gatilhos identificados.
É fundamental o uso diário de protetores solares que protejam contra a exposição à radiação ultravioleta A e ultravioleta B, e que tenham fator de proteção solar superior a 50.
“Sugerimos o uso de produtos de limpeza sem sabão e com hidratantes não oleosos. Muitos hidratantes foram desenvolvidos para pessoas com peles sensíveis e facilmente irritáveis. Às vezes esses produtos contêm pigmento verde para neutralizar o vermelhidão facial”, frisa Raíla Macedo.
Além disso, a orientação é evitar maquiagem à prova de água, que pode ser difícil de remover; toníficos adstringentes (ou seja, produtos que contêm álcool, mentol, hortelã-pimenta, cânfora, hamamélis ou óleo de eucalipto). Não deve ser feito uso, ainda, de cosméticos contendo laurilsulfato de sódio, fragrâncias fortes, ácidos de frutas ou ácidos glicólicos.
Rosácea tem cura?
Para doenças de pele crônicas como a rosácea a indicação é realizar um tratamento contínuo. “Alguns pacientes conseguem melhorar, a longo prazo, sem necessidade de constantes intervenções, mas recaídas podem acontecer”, comenta a dermatologista.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é basicamente clínico, diz Raíla Macedo. Em algumas situações específicas pode-se utilizar de biópsia de pele para se chegar a uma conclusão. O médico dermatologista será o responsável pelo diagnóstico e tratamento.
É contagiosa?
De forma alguma, enfatiza a médica. O convívio entre pessoas com rosácea deve ser mantido.
Existem medidas preventivas?
Uma pele bem cuidada, com o uso de produtos específicos, sem procedimentos abrasivos desnecessários ou uso de cosméticos em excesso, além da aplicação diária de protetore, são medidas que podem evitar que a rosácea extrema surja, indica a dermatologista.
*Raíla Macedo é médica dermatologista formada pela Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte. Tem residência de Clínica Médica pela Escola de Saúde do Ceará e especialização em Dermatologia pela Santa Casa de Saúde de Recife. Possui Mestrado em Biotecnologia da Saúde pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Atua na área da Dermatologia, Cosmiatria e Laser em sua clínica no Hospital São Mateus.