A candidíase é uma alteração no equilíbrio da flora vaginal, em que ocorre um aumento do fungo Candida Albicans e isso gera sintomas locais como desconforto, ardência, vermelhidão, inchaço e principalmente coceira.
“Ela também pode alterar o aspecto da secreção que passa a ser em maior quantidade, com grumos (pedacinhos), branca/amarelada, sendo comparada a um leite talhado/queijo cottage, explica a ginecologista e obstetra Naiara Galvão*.
A Candida Albicans pertence a uma parte natural da microbiota. Ela não gera problemas até acontecer um desequilíbrio com os outros microrganismos no corpo, aí sim este fungo pode se tornar "malvado", destaca a nutricionista e especialista em saúde da mulher, Mariana Sales**.
“É simples: vamos imaginar que a cândida é como uma planta. Essa planta cresce no nosso jardim em quantidades ideais sem fazer mal nenhum. Mas, se a gente não cuidar bem de nós mesmos, ela pode ficar brava. Aí ela pode crescer demais e tomar conta do jardim todo, sufocando as outras plantas e até entrando na nossa casa. Isso é o que acontece quando a cândida se torna patogênica. Isso pode ocorrer se não cuidamos bem da nossa saúde, tomando remédios que não devemos, comendo coisas que não fazem bem, negligenciando o sono e a saúde emocional, por exemplo”, explica, em analogia, a nutricionista.
Além de cuidar da saúde física e emocional, é importante sempre observar o aspecto da secreção vaginal, destaca Naiara Galvão. “É normal a mulher ter secreção vaginal. Assim como o olho tem lágrimas, a boca tem saliva, a vagina, por ser uma mucosa, precisa de umidade. Observar o aspecto da sua e a ciclicidade das alterações é super importante para o autoconhecimento e detecção de alterações precoces. Manter hábitos de vida saudáveis é sempre bom, inclusive para evitar candidíase”, frisa.
Apesar de acometer mais as mulheres, a manifestação da infecção nos homens é chamada de balanite, uma inflamação aguda ou crônica da glande do pênis, e seu tratamento é o mesmo realizado nas mulheres, acrescenta a nutricionista.
O que é candidíase?
Trata-se de uma alteração no equilíbrio da flora vaginal causada pelo crescimento excessivo do fungo Candida Albicans, que pode afetar mulheres, em sua maioria, mas também homens de qualquer idade.
Os fungos fazem parte do nosso ecossistema, presentes nas mucosas do nosso organismo, principalmente na mucosa intestinal, e a espécie do fungo Candida Albicans pode se proliferar mais frequentemente na região genital, causando sintomas como coceira intensa na região íntima, vermelhidão, corrimento esbranquiçado, dor e ardor ao urinar e dor ou desconforto durante a relação sexual, detalha Mariana Sales.
Além disso, a candidíase pode surgir em outras partes do corpo, como boca (sapinho), garganta, intestino, pele ou unhas, por exemplo.
Quais as causas?
Somos hospedeiros de inúmeros microorganismos, dentre eles os fungos. A convivência entre esses microorganismos é natural e, na maioria das vezes, pacífica. “Mas, quando ocorre um desequilíbrio entre eles, pode ser instalado um processo chamado de disbiose intestinal, resultando no comprometimento da eficiência do sistema imunológico, sendo este um dos fatores que trazem suscetibilidade para a multiplicação exacerbada dos fungos”, explica a nutricionista.
Além disso, existem questões alimentares e ambientais que favorecem esta disbiose intestinal com prevalência fúngica:
- Alimentação pobre em nutrientes;
- Alto consumo de açúcar e carboidratos refinados;
- Consumo regular de alimentos contaminados com bolores;
- Baixo consumo de legumes, verduras e frutas;
- Jejum prolongado e dietas restritivas;
- Roupas sintéticas e pouco ventiladas;
- Higiene íntima inadequada
- Antiácidos, antibióticos, corticosteróides, anticoncepcionais hormonais e laxantes;
- Próteses dentárias;
- Intervenções cirúrgicas e processos invasivos;
- Estresse mental e emocional;
- Desregulação hormonal
Qual o tratamento para candidíase, para mulheres e homens?
Para o tratamento ou prevenção da candidíase vulvovaginal é necessária uma adequada terapia nutricional antifúngica em conjunto com o tratamento ginecológico, cita Mariana Sales.
“Atualmente, existem alguns desafios quanto ao tratamento da candidíase vulvoaginal e um deles é a resistência fúngica aos medicamentos utilizados. O uso de derivados azólicos no tratamento da candidíase não é tão eficaz devido à sua toxicidade. Existe uma baixa efetividade no combate ao fungo patogênico, que apresenta diversos fatores de virulência e risco de surgimento de cepas resistentes junto com a formação do biofilme”, acrescenta a nutricionista.
No quesito alimentação, o mais importante, no que se refere ao tratamento da infecção pela cândida, é melhorar a função digestiva e o sistema imunológico, assim ela não encontrará ambiente propício para o crescimento excessivo.
A candidíase no homem também existe e pode ser completamente assintomática ou ainda apresentar os seguintes sinais e sintomas:
- Vermelhidão;
- Coceira;
- Ardência no local
- Ardência urinária.
A manifestação da infecção nos homens é chamada de balanite, uma inflamação aguda ou crônica da glande do pênis, e seu tratamento é o mesmo realizado nas mulheres, acrescenta a nutricionista.
Como saber se estou com candidíase?
De acordo com a ginecologista Naiara Galvão, primeiro faz-se necessário avaliar a presença ou não dos sintomas, e idealmente consultar um médico que examine e avalie a vulva e a secreção vaginal.
A identificação correta da candidíase vulvovaginal muitas vezes é equivocada devido à semelhança de sintomas com vulvovaginites de outras origens, como vaginose bacteriana, que é a primeira vaginite mais comum entre as mulheres, comenta Mariana Sales. Há também a vaginose citolítica, que é a mais confundida com a candidíase vulvovaginal por seus sintomas serem muito semelhantes, acrescenta a nutricionista.
Mariana também faz um alerta: “A falta de informação e os variados sintomas permitem que as mulheres, infectadas ou não, realizem seu autodiagnóstico e consequentemente, sua automedicação. Isso pode afetar diretamente a microbiota intestinal, elevando as chances da infecção de repetição”.
Quanto tempo dura a candidíase?
O tempo de duração da candidíase depende da gravidade da infecção, do tratamento escolhido e da saúde da pessoa que desenvolveu a infecção, comenta Naiara Galvão.
“Na candidíase de repetição, que é caracterizada pela presença de quatro ou mais episódios no mesmo ano, na minha experiência tenho melhores resultados quando o tratamento nutricional é realizado pelo período de 12 semanas”, explica a nutricionista.
O que é bom para tratar a candidíase?
No sentido de tratamento, é necessário melhorar a saúde intestinal através da alimentação e suplementação (quando necessário, o uso de probióticos e prebióticos), diminuir ou eliminar o consumo de alimentos ultraprocessados, controlar o estresse, melhorar a qualidade do sono, modular o sistema imunológico e tratar as alergias individuais, caso existam.
Opções naturais de banho de assento (por Mariana Sales)
Com bicarbonato de sódio
Diluir duas colheres de sopa de bicarbonato e um litro de água em temperatura ambiente e ficar com a vulva imersa por 15 minutos. O bicarbonato é básico e por isso alivia os sintomas da candidíase (que se desenvolve em ambiente ácido). O uso excessivo dele, no entanto, pode gerar um desequilíbrio básico, o que favorece a vaginose bacteriana.
Com chá de camomila ou calêndula
Fazer infusão com três colheres de sopa de extrato seco de camomila para um litro de água. Coar o conteúdo e diluir em bacia com água em temperatura ambiente. Permanecer sentada com a vulva totalmente imersa, por, no mínimo, 15 minutos. Causa alívio dos sintomas, como coceira e ardor.
Propriedades fitoterápicas do banho: cicatrizante, anti-inflamatório, antisséptico, bactericido, antifúngico e analgésico.
E, por fim, passar na região externa o óleo de coco, o qual pode ajudar a aliviar a ardência. Este item é antifúngico e cicatrizante.
O que é bom, para candidíase, no sentido da alimentação?
A alimentação é fundamental, tanto no tratamento quanto na prevenção da disbiose intestinal com prevalência fúngica, frisa a nutricionista. Alimentos naturais como verduras, legumes e frutas fornecem vitaminas e nutrientes para fortalecer o sistema imunológico. Além disso, pode-se utilizar chás e temperos naturais com propriedades antifúngicas, como alho, alecrim, gengibre, canela e orégano.
Mais do que uma alimentação saudável também é importante não ingerir:
- Alimentos fontes de fermentação para os fungos como açúcar (qualquer tipo);
- Lactose;
- Proteínas de difícil digestão (proteínas do leite, da soja, do trigo, do centeio e da cevada);
- Cítricos (laranja, limão, tangerina, laranja lima);
- Suco de uva e de maçã (altamente fermentáveis);
- Carboidratos refinados;
- Álcool
Existem também os alimentos que possuem alta contaminação por fungos, ressalta Mariana Sales, principalmente devido às condições de armazenamento, como as oleaginosas (amendoim, castanhas, amêndoas, nozes, avelã), frutas secas, azeitona, produtos em conserva, levedo de cerveja e alimentos que ficam mais de dois dias na geladeira.
Com quanto tempo é possível ter relação sexual?
A candidíase vulvovaginal não é considerada uma DST, destaca a nutricionista. No geral, apesar de nenhum estudo ter conseguido provar a relação entre a transmissão sexual e a eficácia do tratamento dos parceiros na prevenção das infecções de repetição, é importante evitar o contato sexual durante o tratamento devido ao atrito durante o coito que pode piorar os sintomas, acrescenta Mariana Sales. Pode também contribuir para irritação e inflamação da área vaginal. Outro fator é relacionado com o sêmen que, em contato com a vagina, pode alterar temporariamente o pH vaginal.
Por que grávidas têm chance maior de ter candidíase?
A candidíase na gravidez é uma situação bastante comum entre as grávidas, pois, durante este período, surge alteração hormonal, os níveis de estrogênio ficam mais elevados, favorecendo o crescimento de fungos, especialmente da Candida Albicans que habita naturalmente na região íntima da mulher.
“No entanto, e embora não seja possível controlar os hormônios, existem alguns cuidados que podem reduzir o risco de desenvolver uma candidíase, como, por exemplo, secar bem a região íntima, evitar colocar produtos na região genital, dormir sem calcinha e sem calças e evitar duchas íntimas”, frisa a nutricionista.
*Naiara Galvão é médica pela Universidade de Brasília. Com especialização em Ginecologia/Obstetrícia (HUB/UnB). Pós-graduada em ecografia em ginecologia e obstetrícia – Nexus. Pós-graduada em Medicina Fetal – Nexus. Pós-graduanda em Nutrologia - Sanar/Cetrus.
**Mariana Sales é nutricionista. Especialista em saúde da mulher, modulação intestinal e pós-graduanda em Fitoterapia. Atua como nutricionista focada em Síndrome Fúngica e Candidíase com atendimentos online e presenciais no seu consultório no Rio de Janeiro.