Velocidade 3 vezes acima do permitido e 'zigue-zague': laudo detalha colisão que matou jovem no Meireles
O empresário que dirigia a caminhonete foi indiciado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE)
Laudos da Perícia Forense do Ceará (Pefoce) detalham os instantes que antecederam a colisão entre uma caminhonete, dirigida pelo empresário Rafael Elisário Ferreira, e uma motocicleta onde estavam os jovens Kauã Guedes e Igor Lima da Silva, vítimas do 'acidente', no bairro Meireles, em Fortaleza. A reportagem do Diário do Nordeste teve acesso a documentos, que mostram imagens inéditas da ocorrência.
A perícia apontou que antes da colisão o veículo guiado pelo empresário trafegava em velocidade superior ao triplo do limite legal, estava parcialmente na contramão, realizando movimentos irregulares ('zigue-zague') e acionando o freio apenas antes do impacto.
Rafael Elisário foi indiciado nessa sexta-feira (11) por homicídio doloso no trânsito e colocado à disposição da Justiça, segundo a Polícia Civil do Ceará (PCCE). O suspeito chegou a ser preso em flagrante e solto em audiência de custódia. A defesa do empresário não foi localizada pela reportagem.
O carro dirigido por Rafael já tinha histórico de 25 multas, destas, 17 são exclusivamente de transitar em velocidade superior a permitida
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Dois meses antes da colisão que matou Kauã Guedes e deixou Igor Lima, ainda hospitalizado, com sequelas, o veículo Ford Ranger em questão se envolveu em um capotamento.
'DESATENÇÃO E DESRESPEITO'
O relatório complementar assinado no 2º Distrito Policial (Meireles) renovou o indiciamento de Rafael após pedidos de mais diligências feitos pelo Ministério Público do Ceará (MPCE).
"A maneira como ele conduzia o automóvel nos minutos que precederam a chocante colisão demonstra o descaso e desprezo com a segurança viária, a segurança dos demais usuários (motociclistas, condutores de automóveis, pedestres e outros) e a segurança de si mesmo", diz trecho do relatório assinado pela autoridade policial.
"Aliás, após incorrer em dezessete multas por infração de trânsito, todas por excesso de velocidade, presume-se que o indiciado costumava proceder dessa forma ao dirigir veículos automotores"
Ainda conforme os laudos da Pefoce, "o sinistro em questão é classificado como colisão transversal, com fator gerador predominante o fator humano: desatenção, desrespeito à sinalização de parada obrigatória, velocidade incompatível e circulação em contramão"
IMPACTO NA COLISÃO
A análise evidenciou que a motocicleta foi colhida abruptamente, sem tempo hábil para qualquer reação ou frenagem, sendo lançada ao solo no momento do impacto.
"As marcas de sulcagem no pavimento foram causadas pelo atrito da motocicleta caída sendo arrastada pelo V1 (carro dirigido pelo empresário) até o ponto de repouso, caracterizando o prolongamento da movimentação pós-impacto"
A Ranger prosseguiu até colidir contra uma árvore, na calçada de um condomínio residencial. A perícia mostrou que a árvore foi arrancada por completo devido ao impacto.
Ainda conforme a investigação, minutos antes da colisão que vitimou os dois jovens, Rafael avançou o sinal vermelho no cruzamento das avenidas Dom Luís e Senador Virgílio Távora, "duas movimentadas artérias da cidade. Durante a temerária ultrapassagem, por pouco ele não interceptou um veículo de cor preta. Ainda no mesmo contexto, cerca de quarenta minutos antes, as câmeras flagraram o indiciado em trânsito na Rua Barbosa de Freitas forçando a ultrapassagem, saindo da faixa da esquerda e passando para a da direita com velocidade incompatível com a via. Um motociclista percebeu as manobras perigosas e, rapidamente, desviou do caminho da Ford Ranger".
Testemunhas relataram que o homem estava sob efeito de álcool. Em um vídeo, gravado depois do episódio que vitimou Kauã, ele foi confrontado e reconheceu ter bebido, mas negou que estivesse em alta velocidade. "Eu sei, mas estava devagar", diz ele na gravação, concordando com uma mulher que alegou que estava com "bafo de álcool".
SOLTO EM AUDIÊNCIA
Cerca de 12 horas após dirigir alcoolizado, avançar a preferencial e colidir um carro com uma motocicleta, no bairro Meireles, em Fortaleza, o empresário foi solto pela Justiça Estadual.
O condutor da moto, o jovem Kauã Oliveira Guedes, de 18 anos, morreu no dia da soltura do suspeito, enquanto o passageiro, Igor Lima da Silva, 23, segue internado.
O juiz decidiu restituir a liberdade de Rafael Elisiário mediante o pagamento de fiança no valor de 10 salários mínimos (o que totaliza R$ 15.180), em audiência de custódia realizada no Plantão Judiciário (já que era feriado), por volta de 12h15 daquela quinta-feira. O valor foi pago pelo suspeito, e logo ele foi solto.
Até aquele momento, o caso era tratado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) como um crime de trânsito de "praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor" (sem intenção de provocar a lesão), com o agravante de dirigir alcoolizado.