Polícia aguarda parecer da Pefoce há quase um ano para concluir inquérito por morte no CE

A Perícia Forense respondeu que todos os laudos periciais foram enviados à Polícia Civil.

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Redação producaodiario@svm.com.br
A foto mostra uma mulher branca, com cabelo preto e roupa vermelha. Ela morreu no Município de Monsenhor Tabosa, em maio de 2023.
Legenda: A gerente de funerária Alane da Silva de Mesquita morreu aos 31 anos, no Município de Monsenhor Tabosa, em maio de 2023.
Foto: Arquivo Pessoal.

A investigação da Polícia Civil do Ceará (PCCE) sobre a morte da gerente de uma funerária, Alane da Silva de Mesquita, no Município de Monsenhor Tabosa, no Interior do Ceará, aguarda há quase um ano por um parecer da Perícia Forense do Ceará (Pefoce).

Questionada pela reportagem sobre o parecer, a Pefoce respondeu que já enviou 10 laudos à Polícia Civil e "continua apurando todas as informações e esclarecimentos necessários relacionados ao caso e que prestará todas as respostas e análises técnicas às autoridades competentes, sempre dentro dos trâmites legais e das normas que regem a perícia oficial".

Alane morreu com um tiro no ouvido, aos 31 anos, na madrugada de 15 de maio de 2023. O caso foi tratado inicialmente como suicídio. Porém, a família da gerente suspeitou de feminicídio cometido pelo companheiro dela.

O Diário do Nordeste noticiou, no último dia 7 de dezembro, que a investigação da Delegacia de Polícia Civil de Monsenhor Tabosa sobre a morte completou 2 anos e 6 meses, no último mês de novembro. Porém, o tempo não foi suficiente para os investigadores concluírem se Alane tirou a própria vida ou foi assassinada.

Após a publicação da matéria, a Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Ceará (Adepol-CE) enviou nota à reportagem em que justificou que a equipe da Delegacia de Monsenhor Tabosa tem "dado seguimento ao pedido de análise dos laudos periciais necessários à elucidação da morte".

Segundo a Adepol-CE, a Delegacia recebeu um laudo inconclusivo e, mesmo assim, remeteu à Justiça Estadual. "Relevante consignar que, ainda em janeiro de 2025, o delegado em questão solicitou à perícia, em caráter de urgência, um parecer técnico sobre a causa morte, o que é aguardado até a presente data", acrescentou a Associação.

"A matéria ressalta que a família aguarda por um desfecho da justiça, em face do tempo ocorrido desde o fato.  A Adepol se solidariza com as pessoas enlutadas e envoltas na dolorosa perda. Ao mesmo tempo, convém registrar que a Delegacia de Monsenhor Tabosa, por meio do seu titular Dr. Clécio Cardoso, vem promovendo todos os esforços ao seu alcance para dirimir as lacunas", destacou a Associação.

A Perícia Forense do Ceará garantiu, em nota, que "todos os laudos periciais referentes à investigação da morte de Alane Mesquita, ocorrida em maio de 2023, no município de Monsenhor Tabosa, foram concluídos e devidamente encaminhados à autoridade policial responsável, conforme estabelecido pelas normas técnico-científicas que regem a instituição e dentro do prazo legal".

Segundo a Pefoce, as análises entregues "contemplaram todos os exames necessários à elucidação técnica do caso. Ao todo, foram emitidos 10 laudos, entre eles: local de crime, cadavérico, laboratoriais e de comparação balística".

Os laudos periciais emitidos pela Pefoce constituem, portanto, provas técnicas autônomas e conclusivas em seu campo de competência, devendo ser interpretados em conjunto com os demais elementos informativos e probatórios colhidos pela autoridade policial no curso do inquérito."
Perícia Forense do Ceará
Em nota

Por fim, a Pefoce reiterou "seu compromisso com a imparcialidade, o rigor científico e a transparência, pilares que norteiam a atuação da perícia oficial em todos os casos sob sua responsabilidade".

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Problemas estruturais na Polícia

A Associação dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Ceará também ressaltou, na nota, que problemas estruturais da Polícia Civil têm prejudicado o andamento da investigação da morte suspeita e outras apurações.

"Importante lembrar que a Delegacia aludida vem sofrendo, assim como muitas outras da Região Norte, de um baixo efetivo policial. Apesar de sempre questionar e cobrar a administração superior, esta unidade conta com apenas dois policias - o que torna o trabalho de resposta à comunidade quase impossível do ponto de vista da eficácia", denunciou a Adepol-CE.

Conforme a Associação, a Delegacia de Monsenhor Tabosa passou a receber ocorrências de Tamboril (cidade vizinha), em 2024, o que também prejudicou o trabalho investigado de crimes ocorridos naquele Município.

"A Adepol então, embora seja solidária à família da vítima, além de todas as demandas sociais, clama por uma estrutura mínima para todas as delegacias da polícia judiciária, a fim de exercer o trabalho que tanto almeja a população cearense", concluiu.

Também procurada pela reportagem, a Polícia Civil do Ceará informou, por nota, que "segue investigando as circunstâncias da morte de uma mulher de 31 anos no município de Monsenhor Tabosa, Área Integrada de Segurança 16 (AIS 16), ocorrida em maio de 2023".

Ao longo desse tempo a Delegacia Municipal de Monsenhor Tabosa realizou diligências, oitivas e solicitações de laudos à Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) para a conclusão das investigações."
Polícia Civil do Ceará
Em nota

Em relação ao efetivo, a PCCE afirmou que "vem buscando aumentar seu efetivo. O Governador Elmano de Freitas autorizou a realização de dois concursos para a PCCE em 2025 que, somados, garantem um reforço de, pelo menos, mais 600 novos policiais civis ao Estado. Um, com 100 vagas para o cargo de Delegado e, outro, com 500 vagas para o cargo de Oficial Investigador de Polícia".

A foto mostra uma mulher branca, com cabelo preto e blusa azul, posando de lado para a fotografia.
Legenda: A mãe de Alane de Mesquita lembra dela como 'uma menina feliz e inteligente, uma boa filha, cheia de planos'.
Foto: Arquivo Pessoal.

Suicídio ou feminicídio?

A morte de Alane da Silva de Mesquita foi tratado inicialmente como suicídio. Porém, a família de Alane suspeitou do companheiro dela, um guarda municipal - que tinha posse e porte de arma de fogo.

A reportagem opta por não publicar o nome do guarda municipal em razão dele não ter sido indiciado pela Polícia Civil por um suposto crime.

A mãe de Alane Mesquita, a professora aposentada Joselina da Silva Mesquita, afirmou ao Diário do Nordeste, na semana passada, que "toda família está indignada. Quanto mais tempo passa, mais temos certeza de que não foi um suicídio, e tudo nos leva a crer que tem algo errado nessa história".

O meu sentimento é de angústia, de revolta, porque eu tenho certeza que não foi ela que fez isso. Eu não acredito que ainda tem algum resultado para sair. É o que sempre me diz (a Polícia) quando eu vou lá procurar. Eu não vou sossegar enquanto eu não tiver uma resposta. Eu peço justiça, é o que eu quero."
Joselina da Silva Mesquita
Mãe de Alane

Joselina lembra que ouviu a filha chorando, poucos minutos antes dela ser baleada. Elas moravam em casas vizinhas. "Depois, eu escutei ele chamando por ela três vezes. E ela não respondeu. Em seguida, eu escutei o tiro", relata.

"Vivemos um pesadelo sem fim. Tem noites que acordo e parece que ouço tudo aquilo, como ouvimos naquela madrugada. Não gosto de lembrar, mas não sai do meu pensamento. Ela era uma menina feliz e inteligente, uma boa filha, cheia de planos", recorda a mãe.

Em fevereiro de 2024, a reportagem ouviu o guarda municipal que era casa com Alane. Ele sustentou que a esposa tirou a própria vida, com um tiro no ouvido, e disse que recebeu "com surpresa" a suspeita da família de Alane sobre um feminicídio.

Eu afirmo para você que jamais fiz isso com a minha esposa. Foi um momento de muita dor. Eu perdi minha esposa, com quem eu passei 16 anos. A gente tava muito bem, no casamento, na união. Eu não sou um assassino. Eu não tive coragem e jamais teria coragem de fazer isso."
Guarda municipal
Companheiro de Alane

A família de Alane afirmou à reportagem, na época, que o guarda municipal era agressivo. "Eles me conhecem, sabem que eu nunca trisquei minha mão na minha esposa. Discussões casais têm. Mas nós estávamos muito bem, nós tínhamos uma convivência muito boa", rebateu o agente de segurança.

O guarda relatou que tinha posse e porte de arma de fogo, devido a sua profissão, e que a esposa sabia onde ele guardava a arma. A mulher ainda tinha conhecimentos de como atirar, pois ela praticava tiro esportivo junto dele, em um stand de tiros

"Mas, em momento algum, minha esposa mencionou ou fez algum gesto de fazer alguma coisa (relacionada a suicídio). Até hoje me pergunto: por que ela não me deu a chance (de evitar o suicídio), não conversou comigo? Porque eu não esperava ela fazer isso", garantiu o guarda municipal, à época da entrevista.

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