Justiça nega devolução de celulares para advogada acusada de envolvimento com CV no Ceará
Wanessa teria se valido da advocacia para integrar o grupo e se aliar a um traficante da fronteira entre Brasil e Bolívia
A Justiça do Ceará negou devolver os celulares da advogada Wanessa Kelly Pinheiro Lopes, acusada de participar da facção criminosa carioca Comando Vermelho (CV). Os juízes da Vara de Delitos de Organizações Criminosas constataram que a denunciada sequer comprou "de forma satisfatória a procedência lícita da aquisição dos bens apreendidos".
Wanessa teria se valido da advocacia para integrar o grupo e se aliar a um traficante da fronteira entre Brasil e Bolívia. A Polícia chegou ao nome da advogada a partir de uma investigação iniciada no ano de 2021. A defesa dela não foi localizada pela reportagem.
O Ministério Público do Ceará (MPCE) apontou que foi possível identificar a participação de Wanessa Kelly no CV, "a qual atuava facilitando a comunicação entre indivíduos soltos e reclusos no sistema penitenciário, além de efetuar diversas transações financeiras com membros da referida orcrim".
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A defesa da acusada alegou que os bens apreendidos não interessam ao processo e que os celulares têm relevante valor, contendo informações pessoais importantes. O MP destacou ser prematura e eventual devolução dos bens, "haja vista a necessidade de aguardar o deslinde processual".
"Além da requerente não ter não comprovado de forma satisfatória a procedência lícita da aquisição dos bens apreendidos, permanece o interesse da apreensão do referido aparelho celular para a instrução criminal. Ressalte-se que os aparelhos apreendidos em poder de incriminados são instrumentos eficazes para a comprovação da materialidade de delitos envolvendo organizações criminosas, mostrando-se, desta feita, inviável a restituição do bem ora reclamado"
RELAÇÃO COM O TRÁFICO
Wanessa Kelly foi presa no Ceará em 2023, alvo da Operação Sarmat e sob suspeita de praticar o tráfico interestadual de drogas. Na época, a advogada foi apontada pela Polícia Civil do Ceará como responsável pelo envio de grande quantidade de cocaína da região do Norte do Brasil para o Ceará.
Antes da prisão, as autoridades passaram a investigar o que estava por trás de uma série de homicídios na região dos bairros Bonsucesso e João XIII, ocorrida a mando de uma facção carioca. Investigadores prenderam os suspeitos pelos crimes e analisaram dados dos celulares apreendidos, após autorização judicial.
A partir da análise do celular de Caio da Rocha Freire, o 'Bazuca', a Polícia verificou indícios de movimentação financeira referente ao tráfico de drogas envolvendo o suspeito e Helder Paes de Oliveira Júnior, residente da cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia, fronteira com a Bolívia.
Não demorou até que as autoridades localizaram outras transações financeiras atípicas para Helder.
O Laboratório de Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro da PCCE encontrou 31 transações, sendo de três pessoas jurídicas, com domicílio no Ceará. A advogada Wanessa Pinheiro era uma delas.
Conforme documentos que a reportagem do Diário do Nordeste teve acesso, a advogada transferiu R$ 38,5 mil para Helder Paes de Oliveira Júnior, também alvo da Operação 'Sarmat'.
DENTRO DOS PRESÍDIOS
Os passos de Wanessa Kelly Pinheiro passaram a ser seguidos pelos investigadores. Na apuração, a Polícia verificou que a investigada está cadastrada junto ao Sistema Penitenciário como “companheira” de José Glauberto Teixeira do Nascimento, o 'Gleissim'.
Glauberto é apontado como líder de uma facção carioca e nome conhecido na Segurança Pública do Ceará.
O homem tem extensa ficha criminal, incluindo organização criminosa, tráfico de drogas (já sendo preso pela Polícia Federal em posse de mais de 30 quilos de pasta base de cocaína), ataque a carro-forte e é suspeito de comandar rebeliões em presídios.
As visitas de Wanessa a Glauberto se tornaram frequentes. Só em outubro de 2022, ela teria ido a uma unidade prisional nove vezes, ao encontro do suposto companheiro.
Além de 'Gleissim', a advogada já teria visitado um outro membro da facção carioca, conhecido no Ceará: Max Miliano Machado da Silva, conhecido como `Lampião`.
De acordo com a investigação da Polícia Civil do Ceará, a relação entre Max Miliano e Wanessa ia além de um trato entre cliente-advogado. "A análise do relatório permite concluir pela existência de indícios de utilização de serviços ilícitos prestados por advogado(s) a integrantes da facção criminosa CV, mais especificamente em relação à facilitação de comunicação (envio de recados/mensagens de interesse da organização criminosa) entre os indivíduos reclusos e os que estão em liberdade", afirmam os policiais sobre os bastidores dos encontros.
Consta ainda nos documentos que os depósitos e transferências bancárias para Helder Paes são recentes, ainda do último ano de 2022, indicando que "o investigado permanece praticando a atividade criminosa, remetendo imensurável quantidade de cocaína para o Estado do Ceará, tendo como um de seus “depositantes” a investigada Wanessa Kelly".