'Fiz o meu trabalho', diz em júri um dos PMs acusados de participação na Chacina do Curió

O policial Daniel Fernandes da Silva é o primeiro réu a ser interrogado no 4º julgamento do caso, que começou na última segunda-feira, e ainda não tem prazo para terminar

Escrito por
Emanoela Campelo de Melo emanoela.campelo@svm.com.br
(Atualizado às 19:49)
Pilar com cartaz no TJ-CE e dois homens ao fundo, desfocados e andando. Imagem usada em matéria sobre o depoimento de PM que nega ao júri participação na Chacina do Curió
Legenda: O 4º Júri do Curió chega ao quarto dia e entra na fase de interrogatório dos réus
Foto: Alex Costa/ASCOM TJCE

O interrogatório dos réus no 4º Júri do Curió começou na tarde desta quinta-feira (28). O primeiro policial militar do 'Núcleo de Omissão' a ser ouvido em juízo foi o cabo Daniel Fernandes da Silva. Ao ser questionado pelos magistrados se ele confessava participação na chacina, o agente negou envolvimento no massacre ocorrido há quase 10 anos.

A reportagem do Diário do Nordeste acompanhou o começo do interrogatório, quando Daniel disse que era ele quem estava como comandante da Viatura RD 1301 na madrugada do crime.

O policial falou que naquela noite era ele o responsável na viatura por manter contato direto com a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops): "eu fiz o meu trabalho", disse Daniel ao responder sobre como agiu na data da chacina.

"Eu só tive ciência da ocorrência às 23h22... não foi encontrado nada", complementou o PM justificando que não teria se omitido em prestar socorro a nenhuma vítima baleada e que não teria participado de nenhum comboio com viaturas descaracterizadas ou não que transitaram pela Grande Messejana entre os dias 11 e 12 de novembro de 2015.

Daniel Fernandes passou nove meses preso devido à chacina

Réus

Ao aceitar responder às perguntas da acusação e da assistência de acusação, Daniel Fernandes disse novamente que ele quem falava com a Ciops enquanto estava no comando da viatura.

No entanto, ao ser confrontado com o trecho de uma transcrição exibida pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) mostrando que em determinado momento alguém, provavelmente da composição, chamou as vítimas de "vagabundos", ele negou que a fala havia sido dita por ele.

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Quem também estava na Viatura RD 1301 e estão no banco dos réus são os soldados Luís Fernando de Freitas Barroso (motorista) e Gildácio da Silva (patrulheiro). Eles devem ser os próximos interrogados, seguido dos outros quatro réus, o sargento PM Farlley Diogo de Oliveira e os soldados PM Francisco Fabrício Albuquerque de Sousa; Francisco Flávio de Sousa e Renne Diego Marques.

Como aconteceu a Chacina

Onze pessoas foram assassinadas a tiros, em diversos pontos da Grande Messejana, em Fortaleza, entre a noite de 11 de novembro e a madrugada de 12 de novembro de 2015. As investigações policiais apontaram para a participação de PMs nos crimes, como retaliação à morte de um colega de farda, no início daquela noite.

"Segundo a denúncia, os réus tomaram parte em uma ação articulada de policiais, com divisão de tarefas, como retaliação à morte do policial militar Valtenberg Charles Serpa, assassinado durante roubo ocorrido horas antes no campo de futebol do Uniclinic, situado nas proximidades dos locais dos fatos", descreveu o Ministério Público, nos Memoriais Finais.

Conforme o MPCE, "diversos homens encapuzados circularam pelos locais do fato durante longo tempo, contando com a conivência dos policiais militares que estavam de serviço que, apesar dos insistentes e desesperados apelos da população, não socorreram a tantos que precisavam de proteção".

O cabo Daniel disse durante o interrogatório que era lotado no mesmo batalhão do PM Serpa e na noite da chacina recebeu determinação de ir ao local onde o agente foi assassinado para reforçar o policiamento na área. Daniel negou conhecer qualquer um dos jovens vítimas da chacina.

Expectativa

As 'Mães do Curió' acompanham a sessão. Edna Souza, mãe de Alef Souza, morto aos 17 anos na chacina disse que a esperança dela e de todas as mães e familiares "é que haja Justiça". "Nós precisamos para que a gente continue a vida com mais leveza, tendo a segurança que a Justiça não falhou, que não foi cega. Então a gente quer que a Justiça tire a venda que tem nos olhos e enxergue que 11 vítimas da chacina do Curió tinham que estar vivas hoje".

Já a defesa dos réus considera que não há provas que aponte a omissão dos agentes, assim como não é possível indicar que as mortes no Curió ocorreram como retaliação à morte de um policial militar, ocorrida horas antes da chacina. 

Etapas do julgamento:

* Oitiva das vítimas sobreviventes e das testemunhas de acusação e defesa
* Interrogatório dos réus
* Debate entre acusação e defesa
* Leitura de quesitos
* Votação do jurados
* Sentença dos jurados

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