Denunciado como um dos mandantes da Chacina das Cajazeiras é condenado a 790 anos de prisão

14 pessoas morreram na chacina ocorrida dentro e no entorno do 'Forró do Gago', em janeiro de 2018

Escrito por
Emanoela Campelo de Melo emanoela.campelo@svm.com.br
(Atualizado às 14:03)
chacina cajazeiras forro do gago
Legenda: 14 pessoas morreram na chacina ocorrida dentro e no entorno do 'Forró do Gago', em janeiro de 2018.
Foto: Thiago Gadelha

Após 15 horas de júri, Ednardo dos Santos Lima foi condenado a 790 anos e 4 meses de prisão pela Chacina das Cajazeiras. O réu foi o primeiro acusado pelo crime a ser levado para o Tribunal do Júri, em Fortaleza.

A decisão pela condenação partiu do conselho de sentença formado por sete jurados populares. A pena deve ser cumprida em regime inicialmente fechado, sendo negado ao réu recorrer em liberdade. 

[ATUALIZAÇÃO às 12h08]

A defesa diz que recorreu da sentença e pede a anulação do júri. Veja nota na íntegra no fim da matéria.

Ednardo já saiu do Fórum Clóvis Beviláqua sob escolta. O acusado é apontado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) e pelo Ministério Público do Ceará (MPCE) como um líder da facção Guardiões do Estado (GDE) e um dos mandantes do ataque.

14 pessoas morreram na chacina ocorrida dentro e no entorno do 'Forró do Gago', em janeiro de 2018. O episódio foi um dos mais violentos no Ceará. A defesa do réu não foi localizada pela reportagem para comentar a sentença. 

Veja também

O JÚRI

O julgamento começou por volta das 9h30, com o sorteio dos jurados. Em seguida, uma testemunha convocada pela defesa foi ouvida e o interrogatório do réu finalizado.

A sessão foi suspensa para almoço e retomada por volta das 13h, quando se deu início a fase dos debates entre acusação (Ministério Público) e defesa (advogados). Houve réplica e tréplica. 

A reportagem do Diário do Nordeste apurou que Ednardo foi pronunciado no dia 25 de julho de 2023. A defesa dele recorreu, mas a 1ª Câmara Criminal do TJCE manteve, na íntegra e por unanimidade, a decisão de que Ednardo fosse ao Tribunal do Júri.

O Ministério Público afirma que "restou evidenciado que o denunciado, em unidade de desígnios e em concurso com outras pessoas, igualmente denunciadas, atuou para consumar os intentos homicidas, na condição de mandante, bem como os crimes conexos, o que justifica a responsabilização com relação aos homicídios tentados e consumados", sobre a participação de 'Aço' no crime.

Veja também

GUERRA DE FACÇÕES

Conforme denúncia do MP, a Chacina das Cajazeiras foi motivada por uma disputa entre facções criminosas rivais: "aqui é tudo três", gritaram os criminosos ao invadir o Forró do Gago, efetuando disparos de arma de fogo, indiscriminadamente".

O grupo de atiradores chegou ao Forró do Gago em, pelo menos, dois veículos. Eles estavam determinados a acabar com a festa e com vidas. O objetivo era atacar integrantes do Comando Vermelho (CV), facção que na época dominava o tráfico de drogas na região em volta da casa de shows.

Na ação principal constam nove réus, todos eles pronunciados, mas ainda não há data para o julgamento do grupo. Outros três homens acusados de participar do crime foram impronunciados nos últimos anos.

QUEM TAMBÉM DEVE IR A JÚRI:

  • Noé de Paula Moreira, 
  • Misael de Paula Moreira, 
  • Fernando Alves de Santana, 
  • Ruan Dantas da Silva, 
  • Zaqueu Oliveira da Silva, 
  • Joel Anastacio de Freitas  
  • Francisco Kelson Ferreira do Nascimento 
  • Auricélio Sousa Freitas


RELEMBRE QUEM FORAM AS VÍTIMAS ASSASSINADAS:

  • Maíra Santos da Silva (15)
  • José Jefferson de Souza Ferreira (21)
  • Raquel Martins Neves (22)
  • Luana Ramos Silva (22)
  • Wesley Brendo Santos Nascimento (24)
  • Natanael Abreu da Silva (25)
  • Antônio Gilson Ribeiro Xavier (31)
  • Renata Nunes de Sousa (32)
  • Mariza Mara Nascimento da Silva (37)
  • Raimundo da Cunha Dias (48)
  • Antônio José Dias de Oliveira (55)
  • Maria Tatiana da Costa Ferreira (17)
  • Brenda Oliveira de Menezes (19)
  • Edneusa Pereira de Albuquerque (38) 

Onze dos 14 mortos sequer tinham antecedentes criminais. Pelo menos outras 14 pessoas ficaram feridas e sobreviveram. 

VEJA NOTA NA DA DEFESA NA ÍNTEGRA:

"A defesa de Ednardo dos Santos Lima informa que interpôs recurso perante o Tribunal de Justiça, requerendo a anulação do julgamento realizado pelo Tribunal do Júri. A medida busca reverter a decisão proferida, considerando que a votação dos jurados se deu por maioria de 4 votos a 3, o que, na visão da defesa, reforça a certeza da inocência do Sr. Ednardo dos Santos Lima na referida chacina.

A defesa ressalta que as recentes e intensas guerras de facções ocorridas nesta semana na região podem ter exercido influência indevida sobre a decisão dos jurados que votaram pela condenação. O clima de tensão e insegurança gerado por esses eventos pode ter comprometido a imparcialidade do julgamento, levando a um veredicto baseado no temor em vez de em provas concretas da culpabilidade do acusado.


A defesa sustenta que o resultado apertado da votação, somado ao contexto de violência e instabilidade, corrobora a convicção da defesa na inocência do Sr. Ednardo dos Santos Lima, uma vez que a prova apresentada não foi capaz de superar a presunção de inocência e gerar a certeza necessária para uma condenação unânime.
O recurso apresentado ao Tribunal de Justiça detalha os fundamentos jurídicos para a anulação do júri, buscando demonstrar a fragilidade das evidências apresentadas e a potencial influência externa decorrente do cenário de violência, que pode ter afetado a livre convicção dos jurados, levando a uma decisão equivocada sobre a participação do Sr. Ednardo dos Santos Lima.

A defesa confia no Poder Judiciário para que a matéria seja devidamente analisada, considerando o delicado contexto em que o julgamento ocorreu, e que a justiça, com o reconhecimento da inocência do Sr. Ednardo dos Santos Lima, seja restabelecida".

>> Acesse nosso canal no Whatsapp e fique por dentro das principais notícias

Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados