'Nova Okaida': quem são os membros da facção condenados a 40 anos de prisão no Ceará

Um terceiro acusado foi absolvido por todos os crimes.

Escrito por
Emanoela Campelo de Melo emanoela.campelo@svm.com.br
viatura da policia interior sul.
Legenda: Os homens foram investigados por supostamente cometeram crimes nas cidades de Ipaumirim e Baixio, Interior do Estado.
Foto: Reprodução.

Dois homens acusados de participar da facção 'Nova Okaida' foram condenados e um terceiro foi absolvido na Justiça do Ceará. Somadas, as penas chegam a 40 anos de prisão, que devem ser cumpridas em regime fechado.

Foram condenados por integrar organização criminosa armada, tráfico de drogas e associação para o tráfico: Anderson Gonçalves Leandro (19 anos e um mês de prisão) e Cirilo Mateus de Lima Neto (21 anos de prisão). O absolvido por todos os crimes é Emerson Mendes de Sousa.

O Ministério Público do Ceará (MPCE) acusou e pediu a condenação do trio afirmando que eles cometeram crimes nas cidades de Ipaumirim e Baixio, Interior do Estado. Os juízes da Vara de Delitos de Organizações Criminosas entenderam que não havia provas sobre a participação de Emerson na facção.

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A reportagem apurou que as defesas dos condenados já recorreram da sentença. Os advogados de Anderson e Cirilo não foram localizados pelo Diário do Nordeste para comentar sobre a decisão.

DIÁLOGOS DE WHATSAPP E VÍDEO NO YOUTUBE

Consta em documentos que a reportagem teve acesso que a investigação contra membros da 'Nova Okaida' começou quando um vídeo foi publicado no YouTube e compartilhado no WhatsApp divulgando uma música que fazia referência ao grupo criminoso no Ceará.

A partir da apreensão de celulares dos suspeitos de participar da facção, os investigadores chegaram a dezenas de nomes e tiveram acesso a prints com movimentações financeiras provenientes do tráfico de drogas.

Em um dos diálogos, o investigado Cirilo Mateus teria confirmado "vender droga para a facção Nova Okaida" e seria "responsável por vender droga no município de Baixio", segundo o MP.

A facção criminosa tem a imagem de Osama Bin Laden como símbolo
Legenda: A facção criminosa tem a imagem de Osama Bin Laden como símbolo
Foto: Reprodução

Já Anderson supostamente movimentava contas bancárias transferindo dinheiro da facção: "ao que apontou o Ministério Público, o réu estaria integrando o grupo de WhatsApp da facção criminosa "Ipaumirim – Baixio – Nova Okaida". A linha telefônica, por sua vez, também estava cadastrada com o número de Anderson Gonçalves Leandro, inclusive esse era o contato informado nas redes sociais como sendo seu profissional. A soma desses dois elementos permite comprovar, de forma inequívoca, que o réu utilizava aquele número".

Os juízes decidiram que os áudios demonstram a participação do acusado no esquema de tráfico de drogas em prol da facção criminosa e acrescentaram sobre Cirilo que nos celulares "foram encontradas também capturas de tela de um diálogo em que o réu teria confirmado vender drogas para a facção criminosa Nova Okaida. A identidade do acusado foi confirmada, porque os filhos do réu constam como em sua foto de perfil, além de ter mencionado expressamente que 'eu sou cria daqui, já levei tiro no corri se você não sabe, né de hoje não'".

FACÇÃO DE ORIGEM PARAIBANA

O colegiado de juízes da Vara de Organizações Criminosas resume na sentença que em 2019 a 'Okaida' passou por uma reestruturação interna, surgindo a 'Nova Okaida', que já se encontra ativa em três estados que fazem divisa com o Ceará.

"No Ceará, a facção consolidou presença em diferentes comunidades, adotando símbolos e imagens de Bin Laden como marca identitária e instrumento de intimidação, especialmente em Ipaumirim e Baixio. Por meio dessas referências a grupos terroristas, a facção criminosa buscou disseminar o medo e reafirmar seu poder, ao mesmo tempo em que estabelecia alianças com organizações criminosas locais. Essa atuação evidencia sua estratégia de expansão territorial para além da Estado em que nasceu, fortalecida inicialmente por parcerias com facções de outras regiões, como era o caso do Comando Vermelho"
Juízes

Em 2024, o Diário do Nordeste noticiou a chegada da facção no Ceará. O ingresso no Estado foi descoberto pela Polícia Civil do Ceará (PCCE), que deflagrou uma operação contra a organização criminosa, em junho do ano passado. No mês seguinte, o MPCE denunciou 22 integrantes da facção.

A palavra "Okaida" é uma referência à pronúncia do nome da organização fundamentalista islâmica Al-Qaeda, considerada por muitos países como um grupo terrorista, que tem como um dos fundadores Osama Bin Laden - apontado como idealizador do ataque às Torres Gêmeas, em Nova Iorque, nos Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001, e morto por forças militares norte-americanas em 2011. 

A imagem de Bin Laden é utilizada como símbolo da facção Nova Okaida, inclusive em grupos de membros da organização criminosa na rede social WhatsApp, segundo a extração de dados de aparelhos celulares dos investigados, autorizada pela Justiça do Ceará.

Conforme a Polícia Civil do Ceará, a Nova Okaida "é a maior facção criminosa com atuação no Estado da Paraíba, é resultado de dissidências das antigas Facções Okaida e Okaida RB e comanda o tráfico de drogas em todo o estado".

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