Legislativo Judiciário Executivo

Série Influências Partidárias: a história do PSD, presidido por Domingos Filho, no Ceará

O presidente da sigla, Domingos Filho, é o entrevistado da Live PontoPoder desta quinta-feira (26)

Escrito por Ingrid Campos , ingrid.campos@svm.com.br
Domingos Filho, PSD Ceará
Legenda: Domingos Filho é ex-vice-governador e presidente do PSD Ceará.
Foto: Thiago Gadelha

Presente em 26 prefeituras, o Partido Social Democrático (PSD) mostra boa capilaridade no Ceará. A legenda, fundada pelo ex-deputado federal Gilberto Kassab em 2011 com dissidentes do antigo DEM, firmou-se no Estado no ano seguinte. 

A cerimônia de inauguração contou com presença de várias lideranças cearenses, mostrando, inclusive, adesão ao governo de então, sob Cid Gomes (ex-PSB, hoje, PDT). 

Veja também

O PSD nacional nasceu com 150 mil filiados, sendo dois governadores, seis vice-governadores, dois senadores, 48 deputados federais, 140 deputados estaduais, 600 prefeitos e 6 mil vereadores.

Em 2023, tem a maior bancada do Senado (15 representantes), 42 deputados federais, governa quatro capitais (Rio de Janeiro, Curitiba, Belo Horizonte e Florianópolis) e dois governadores (Paraná e Sergipe). 

No Ceará, além das prefeituras, o partido tem 301 vereadores, três deputados federais e três deputados estaduais. Até março de 2024, a legenda pretende ter concluído diretórios em todo o Estado.

Esta é a quarta reportagem da série “Influências Partidárias”, na qual o Diário do Nordeste conta a história do PSD, uma das maiores legendas do Estado. 

O PontoPoder também entrevista o presidente estadual da sigla e ex-vice-governador, Domingos Filho, na Live PontoPoder, nesta quinta-feira (26). O projeto "Influências Partidárias" busca, a pouco mais de um ano das eleições municipais de 2024, esmiuçar como os partidos cearenses estão se preparando para o processo eleitoral. 

História do PSD Ceará

Almircy Pinto, filho do ex-senador Almir Pinto e ex-membro do gabinete do ex-governador Cid, foi o responsável pelo processo de instalação local do PSD. Ele presidiu o diretório estadual até 2015.

Foi sucedido por Patrícia Aguiar, por Domingos Neto e por Domingos Filho nesses últimos oito anos. Todos eles da mesma família e da mesma base eleitoral, Tauá, município da região dos Inhamuns.

Almircy Pinto, PSD, Ceará
Legenda: Almircy Pinto fundou o PSD no Ceará.
Foto: Divulgação

O registro nacional foi aprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a tempo de o partido poder concorrer às eleições de 2012. O PSD conseguiu registrar ao menos nove diretórios nos estados (um terço das unidades federativas, proporção exigida para validar a criação) poucos dias antes de o julgamento ser finalizado, em setembro de 2011. 

O Ceará não entrou nessa primeira rodada, apesar de já ter formado 48 comissões provisórias nos municípios naquela altura para coletar assinaturas. 

Mas a fundação do diretório estadual já estava encaminhada. O partido foi inaugurado em solo cearense com nomes vindos sobretudo do PSDB, entre prefeitos e deputados. Cirilo Pimenta, Osmar Baquit, Antônio Cambraia e Rogério Aguiar são exemplos disso. 

Registro PSD, TSE, Gilberto Kassab
Legenda: Registro feito pelo Diário do Nordeste, em 28 de setembro de 2011, sobre a concessão do registro ao PSD pelo TSE.
Foto: Pesquisa/SVM

Estreou com a segunda maior bancada na Assembleia Legislativa, com 8 deputados estaduais, além de um deputado federal, Manoel Salviano. Também estava presente em 146 dos 184 municípios cearenses, sendo 40 deles com prefeitos filiados, o maior do Estado neste quesito.

Em Fortaleza, maior colégio eleitoral do Estado, o diretório foi instalado em 2013, sob a gerência de Eduardo Diogo, então secretário de Planejamento e Gestão do governo Cid. Desde então, o partido ocupou ao menos nove cadeiras na Câmara Municipal. 

Em 2015, chegou a ensaiar uma fusão com o PL, que buscava a recriação junto ao TSE. O processo, encabeçado por Almircy (já vice-presidente do PSD), não vingou devido a problemas na coleta de assinaturas e a veto à fusão de agremiações com menos de cinco anos de existência. 

“A greve nos cartórios, as pessoas que têm filiações a outros partidos. Houve insatisfação do eleitorado em apoiar a criação de um novo partido, maior resistência do que com o PSD. Teve a questão da biometria. Ainda têm outros partidos buscando a criação. Não só o PL”, explicou o dirigente à época.

Antigo PSD

Assim como o PDT e outras legendas com representação no Ceará, o PSD existia antes do Ato Institucional 2 (AI-2), de 1965, que extinguiu os partidos políticos existentes até então e criou um ambiente para a institucionalização do bipartidarismo no Brasil.

Na era pré-Ditadura Militar, inclusive, o PSD era forte no Estado e alternava o poder com a União Democrática Nacional (UDN), sua grande rival. 

A cada eleição, as legendas formavam coligações fortes e alcançavam a vitória, mas acumulavam desgastes ao longo do mandato por não conseguir atender a demandas dos aliados e perdiam força no pleito seguinte. Assim, o partido opositor ganhava vantagem. Essa dinâmica durou entre 1947 e 1964.

Em 1947, a UDN elegeu Faustino Albuquerque (mandato entre 1947/51), em 1950, o PSD venceu com Raul Barbosa (1951/54), a UDN voltou a ganhar em 1954 com Paulo Sarasate (1955/58) e o PSD em 1958 com Parsifal Barroso (1959/63). A única exceção a essas alternâncias na República Liberal-democrática se daria em 1962, com a ‘União pelo Ceará’
Airton de Farias

Além desses nomes, ao longo desse período, o PSD acomodou outras figuras ilustres da política cearense, como César Cals, Menezes Pimentel e o próprio Almir Pinto, já citado aqui.

Já no bipartidarismo, uma ala do PSD passou a reforçar os quadros da Aliança Renovadora Nacional (Arena), de sustentação da Ditadura, e outra foi para o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição.

Em 1987, um novo PSD chegou a ser criado, desta vez sob investida de César Cals, ex-governador cearense e então ministro das Minas e Energia do Governo de João Figueiredo. Em virtude de fusão com o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), deixou de existir em 2003.

Nesse meio tempo, chegou a pleitear eleições estaduais, tendo alcançado êxito no Legislativo com Marcos Cals, filho de César, em 1990 e 1994, e com Delegado Cavalcante, em 2002. 

Recursos partidários

Como o novo PSD foi criado após as eleições de 2010 – ainda que tenha incorporado 48 deputados federais e dois senadores em todo o País de imediato –, não pôde ter acesso ao rateio do Fundo Partidário (o Fundo Eleitoral só foi instituído em 2017). 

Por isso, até o pleito seguinte, recebeu apenas a fatia mínima, oriunda da divisão dos 5% do bolo e dividida igualitariamente por todas os partidos, equivalente a R$ 40 mil mensais. Também se sustentou de doações do setor empresarial, de nomes ligados a Kassab.

Onze anos depois, já com 55 parlamentares no Congresso Nacional, o partido teve acesso a recursos robustos: R$ 66 milhões, um dos maiores valores de 2022. Esse volume de representantes no Legislativo também lhe garantiu um Fundo Eleitoral de R$ 347,2 milhões no ano passado. 

PSD nas eleições de 2022

No ano passado, o PSD concorreu ao governo cearense em chapa encabeçada pelo PDT, com Roberto Cláudio. Ainda em meio à definição sobre a chave que estaria na disputa, Domingos Filho, que foi o candidato a vice-governador, orientou seus prefeitos a manterem neutralidade sobre a escolha entre Izolda Cela e Roberto. 

Os dois pleiteavam a candidatura internamente, no PDT, mas o ex-prefeito de Fortaleza saiu vitorioso nas prévias, o que levou a uma cisão no seu grupo político. O rompimento, sobretudo com o PT, criou um ambiente mais viável para uma chapa com o PSD, que se concretizou pouco tempo depois.

Já na campanha, a postura do dirigente mudou. Domingos Filho passou a tecer duras críticas ao ex-governador Camilo Santana (PT) a quem acusou de "soberba". Para ele, houve "ingratidão" no processo que levou ao racha e acusou o PT de ser um "partido predador". Vale lembrar que o partido compôs a base da gestão Camilo antes do rompimento. 

Domingos Filho, Erika Amorim, Roberto Claudio
Legenda: Domingos Filho, Erika Amorim e Roberto Claudio (em sequência, da esquerda para a direita) fizeram campanha juntos.
Foto: Divulgação

Foi a legenda de Domingos Filho, ainda, que lançou Erika Amorim como a candidata do bloco ao Senado. Presidente do PSD Mulher no Ceará, a ex-deputada já vinha numa trajetória de fortalecimento da participação feminina na legenda. 

“Nas últimas eleições, o partido teve um aumento no número de mulheres eleitas. Em 2018, eu fui eleita juntamente com a Patrícia (que posteriormente se tornaria prefeita de Tauá). [...] Hoje estamos com cinco prefeitas, nove vice-prefeitas e 55 vereadoras”, comenta Erika, filiada desde 2017. 

Ela somou 193 mil votos (3,98%) em 2022 e ficou em terceiro lugar, atrás de Kamila Cardoso (Avante), com 26,2% do eleitorado, e Camilo Santana, com 69,76%.

Já a investida ao Governo do Estado foi frustrada no primeiro turno. PDT e PSD amargaram o terceiro lugar, com 734.976 votos (14,14%). Elmano de Freitas (PT) conseguiu 2.808.300 votos (54,02%) e Capitão Wagner (União) conseguiu 1.649.213 votos (31,72%). 

Contexto atual

Passadas as eleições, hora de planejar os próximos passos. No começo deste ano, com legisladores e gestores empossados, Domingos Filho disse ao Diário do Nordeste que o PSD não teria “disposição” de fazer oposição ao Governo Elmano.

Também afirmou que observaria o cenário para decidir se aderiria à base do PT, assim como já ocorre a nível nacional. A definição veio em agosto, quando o PSD entregou os cargos que tinha na Prefeitura de Fortaleza – sob José Sarto (PDT) – e empossou o deputado federal Célio Studart como secretário estadual. 

A legenda ainda estuda como agirá nas eleições de 2024 na capital cearense. Apesar de não descartar uma candidatura própria, coloca-se ao lado do bloco governista, reconhecendo os nomes prioritários do grupo que podem ser postos em disputa. 

Veja também

“O partido que disser que não tem interesse em disputar a Prefeitura de Fortaleza não está falando a verdade, mas evidentemente já tem nomes postos que, digamos assim, estão articulando, estão na frente desta questão. O PT tem o nome da ex-prefeita Luizianne Lins, tem o nome do Evandro Leitão, que é um nome que começa a se destacar, talvez indo para o PT também”, observou o ex-vice-governador.

Lembrou, ainda, que o próprio PSD tem quadros com expressividade de votos em Fortaleza, como os deputados federais: Célio Studart, que obteve 107 mil votos na Capital em 2022; Luiz Gastão, que alcançou 44 mil votos; e Domingos Neto, que conseguiu 17 mil. 

De toda forma, entende que o cenário em Fortaleza não será tranquilo ainda por conta do impasse entre PT e parte do PDT. 

“Na relação com a gente (PSD), posso dizer que é uma relação muito tranquila, que não vai ter maiores problemas, mas você vê o PDT, que já tem também candidato (o prefeito José Sarto). Enfim, nós não temos prefeito em Fortaleza, temos em um conjunto de outros municípios que, naturalmente, já estamos conversando para, onde der acordo, a gente poder estar junto”, concluiu Domingos Filho.

Assuntos Relacionados