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Prefeito foragido de Choró jogou celular na água para despistar Polícia Federal na Avenida Beira-Mar

Os peritos federais têm especialização para acessar aparelhos bloqueados e resgatar evidências. O aparelho de Bebeto Queiroz acabou virando peça central das investigações

(Atualizado às 12:15)
Câmeras de segurança capturaram o momento em que Bebero Queiroz arremessou o próprio telefone
Legenda: Câmeras de segurança capturaram o momento em que Bebero Queiroz arremessou o próprio telefone
Foto: Reprodução/Relatório da FICCO

Foragido da Justiça desde 5 de dezembro do ano passado, o prefeito eleito de Choró, Carlos Alberto Queiroz (PSB), o Bebeto Queiroz, tentou dar fim a uma prova central da investigação sobre o esquema de manipulação eleitoral no Ceará, que teria usado recursos de emendas parlamentares do deputado federal Júnior Mano (PSB). Ao se ver alvo de uma operação da Polícia Federal (PF), Bebeto tentou inutilizar o próprio telefone celular, arremessando o aparelho em um espelho d’água de um prédio na Avenida Beira-Mar, em Fortaleza.

O episódio ocorreu em 4 de outubro do ano passado, no âmbito da operação Mercato Clauso, a primeira que teve Bebeto como alvo. À época, quatro policiais federais e um delegado da corporação foram até o apartamento do político, no bairro Meireles, para cumprir um mandado de busca e apreensão. Ao chegarem ao local, por volta das 6h, foram informados que o prefeito eleito estava na Avenida Beira-Mar fazendo atividade física. 

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A equipe policial saiu então em busca de Bebeto e localizou o veículo do investigado estacionado. Logo em seguida, o político e sua irmã, Cleidiane de Queiroz Pereira — também investigada —, se aproximaram do automóvel e os agentes iniciaram a abordagem.

“No momento em que a equipe procedeu com a abordagem, Carlos Alberto, de maneira furtiva, lançou seu aparelho celular em direção ao espelho d'água do edifício ao lado (...) numa tentativa evidente de ocultar provas e dificultar o acesso a informações potencialmente comprometedores à investigação”, apontaram os agentes policiais.

A trama está descrita em um relatório a que teve acesso o Diário do Nordeste. O documento da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), feito a partir de uma investigação da Polícia Federal, esmiúça as evidências colhidas até agora sobre o esquema criminoso. O inquérito foi aberto em setembro do ano passado.

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Resistente à água

A tentativa de inutilizar o aparelho telefônico foi flagrada pelas câmeras de segurança do edifício na Beira-Mar e da Prefeitura de Fortaleza. “Comprovando a tentativa do investigado de destruir a evidência”, cita a PF.

Após o arremesso, a equipe policial conseguiu recuperar o aparelho, “que não sofreu danos aparentes apesar do impacto com a água”. Diante do aparelho intacto, a PF aponta que o prefeito ainda fez uma nova tentativa de dificultar o trabalho de investigação, se recusando a fornecer a senha de acesso ao dispositivo. Os peritos federais, no então, têm especialização e recursos para acessar aparelhos bloqueados e resgatar evidências.

As câmeras flagraram a trajetória do celular arremessado por Bebeto Queiroz
Legenda: As câmeras flagraram a trajetória do celular arremessado por Bebeto Queiroz
Foto: Reprodução/Relatório FICCO

Após o episódio na Avenida Beira-Mar, Bebeto e Cleidiane foram conduzidos até o apartamento no bairro Meireles, onde foi cumprido o mandado de busca e apreensão. No local, foram arrecadados documentos, um montante em espécie de R$ 14,5 mil e “anotações suspeitas”. 

“Todos os itens foram lacrados e encaminhados para análise, sendo formalizada a apreensão dos materiais como evidência no inquérito”, relatam os agentes.

Evidências

O telefone arremessado por Bebeto e recuperado pela PF virou prova central para desvendar o esquema ilegal de desvio de emendas parlamentares e manipulação eleitoral no pleito do ano passado. Conversas interceptadas durante a apuração mostraram, por exemplo, um leque de aliados e eleitores de Bebeto solicitando a transferências de quantias em dinheiro.

Na análise das conversas, os analistas da PF apontam que há evidências de abuso de poder econômico. 

“Conseguimos coletar evidências de um intrincado esquema eleitoral envolvendo o grupo criminoso liderado por Carlos Alberto Queiroz, popularmente conhecido como Bebeto do Choró, que articulava a compra de votos na região de Canindé-CE, mediante o oferecimento de vantagens materiais e financeiras, práticas estas tipificadas no art. 299 do Código Eleitoral”, conclui o relatório da PF.

O paradeiro de Bebeto

Além da operação em 4 de outubro, no dia 5 de dezembro, Bebeto Queiroz voltou a ser alvo da Polícia Federal no âmbito da operação Vis Occulta, um desdobramento da operação Mercato Clauso. Bebeto não foi localizado pelos agentes federais, portanto, é considerado foragido desde então.

Entre uma operação e outra, ele também foi alvo do Ministério Público do Ceará (MPCE) em uma investigação de irregularidades em contratos feitos pela Prefeitura de Choró. À época, o prefeito eleito Bebeto Queiroz foi considerado foragido pela Justiça, mas se entregou à Polícia Civil no dia seguinte. Ele chegou a ficar 10 dias detido, mas foi liberado. 

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Sob risco de ser preso, em 1º de janeiro deste ano, Bebeto Queiroz não compareceu à cerimônia de posse em Choró. O vice-prefeito Bruno Jucá Bandeira, do PRD, também não foi empossado. A cerimônia contou com a presença de oficial de Justiça que cumpriu determinação expedida pela 6ª Zona Eleitoral de Quixadá. Que atualmente comanda o município interinamente é o vereador Paulo George Saraiva, o 'Paulinho', do PSB. 

Ainda em dezembro, a assessoria de Bebeto se posicionou nas redes sociais dizendo ter recebido com serenidade a informação que ele era investigado e disse ser inocente com relação aos fatos investigados. 

Defesas

Em nota ao Diário do Nordeste, a assessoria de comunicação do deputado Júnior Mano disse que a investigação conduzida pela PF tramita sob segredo de justiça, por isso não pode se manifestar sobre o caso. 

“O deputado federal Júnior Mano reafirma seu compromisso com a legalidade, estando à disposição das autoridades policiais e judiciais para o completo esclarecimento dos fatos. A defesa confia que, ao término da investigação, sua inocência será plenamente reconhecida e informa que todas as manifestações serão realizadas exclusivamente nos autos do processo”, concluiu.

Companheiro de chapa de Bebeto, o vice-prefeito eleito de Choró, Bruno Jucá Bandeira, foi procurado pela reportagem, mas não houve retorno.

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