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Nomeação de ex-candidato a prefeito para o Governo Evandro expõe racha interno do Psol Ceará

Técio Nunes é presidente do Psol Fortaleza e titular da Coordenadoria Especial de Políticas Sobre Drogas (CPDrogas)

(Atualizado às 21:26)
técio nunes, psol
Legenda: Técio Nunes foi candidato do Psol à Prefeitura de Fortaleza
Foto: Camila Lima

Expoentes do Psol no Ceará, como o deputado estadual Renato Roseno, divulgaram nota conjunta nesta quinta-feira (16) pedindo o “afastamento imediato” de Técio Nunes, ex-candidato à Prefeitura de Fortaleza, das instâncias partidárias, após este ser nomeado à Gestão Evandro na Capital. A posição expõe a dinâmica conflituosa de diferentes correntes do partido, que há algum tempo vêm protagonizando embates públicos, com as redes sociais como palco. 

Ao PontoPoder, Técio Nunes disse que encarou com naturalidade a manifestação dos correligionários, mas esperava que o tom fosse diferente. "Eu particularmente não agiria igual aos companheiros e companheiras. [...] Eu agiria de forma respeitosa e completamente diferente de como eles estão agindo. Mas eu entendo que isso tem a ver com a dinâmica da disputa interna do partido e a democrática, as opiniões políticas divergentes têm que acontecer", comentou.

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Técio é presidente do Psol Fortaleza. A sua indicação à Coordenadoria Especial de Políticas Sobre Drogas (CPDrogras), contida no Diário Oficial do Município da última sexta-feira (10), foi negociada, segundo ala do partido, “sem consideração nem respeito a qualquer instância partidária, seja a Executiva Municipal, o Diretório Municipal, a Executiva Estadual ou o Diretório Estadual, espaços dos quais Técio Nunes participa”.

A nota também diz que as atividades partidárias estão “paralisadas e silenciadas, sem reunir nem debater”. “A nomeação de Técio, portanto, não nos representa e não representa o que defendemos para o PSOL, tampouco fortalece a relação da nova gestão com o nosso partido, pelo contrário”, afirma, ainda, o texto da corrente Insurgência Reconstrução Democrática no Ceará.

A Gestão Evandro acomoda nomes do MDB, PSDB, União Brasil, Podemos e Avante, classificados como “direita neoliberal” pelo Psol. Uma resolução nacional do partido autoriza o afastamento de filiados que sejam nomeados para participar de administrações compostos por agrupamentos desse tipo. 

O pedido, então, teria o intento de “reafirmar a necessidade da autonomia e independência” do Psol e da sua bancada na Câmara Municipal de Fortaleza diante da nova administração da prefeitura. 

Além disso, estende-se aos que assumam futuramente lugar na nova prefeitura ou componham o Governo do Estado “e que, por quaisquer razões, ainda não se afastaram das instâncias de direção partidária”. Filiados ao Psol, Adelita Monteiro é secretária da Juventude do Ceará e João Alfredo é superintendente do Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace), por exemplo.

“Por fim, reivindicamos que nosso partido volte a reunir suas instâncias e seus filiados para debater seus rumos, campanhas e políticas, retomando sua vida e democracia internas”, completa a nota.

Reunião da direção

Conforme Técio, a direção estadual do partido vai se reunir, no sábado (18), para tratar sobre o assunto. O presidente do Psol Ceará, Alexandre Uchoa, confirmou a programação. Além do ex-candidato a prefeito em Fortaleza, a psolista Zuleide Queiroz passou a compor uma gestão municipal como secretária dos Direitos Humanos do Crato.

"É importante salientar que não há nenhuma resolução partidária – sou da Executiva Nacional do partido, sou secretário de organização, inclusive, e ajudei a escrever a resolução vigente – que me obrigue ou obrigue qualquer militante do partido a se afastar das instâncias de direção do partido para ocupar casos nos municípios", afirma Técio.

"A resolução versava sobre um problema pontual de 2022 na participação do Governo Federal do Lula e dos governos estaduais. Não há ainda uma posição nacional do partido – eu acredito que não haverá, inclusive – sobre a ocupação de dirigentes em instâncias de governos municipais", pontuou, ainda. 

Desgastes internos

Essa não é a primeira vez que disputas internas do partido acabam sendo levadas ao debate público. Um dos casos guarda semelhanças com a atual crise. A nomeação de Adelita Monteiro (Psol) para o comando da Secretaria da Juventude do Ceará pegou de 'surpresa' militantes e parlamentares do partido, que na época alegaram ter recebido a informação pelas redes sociais. Na época, ela era secretária-geral do Psol Ceará. 

Devido à resolução nacional do partido sobre cargos no Executivo, Adelita Monteiro se afastou do cargo na direção do Psol Ceará antes de assumir como secretária da Juventude. 

Em 2023, uma troca de acusações pública entre o deputado Renato Roseno e o ator e jornalista Ari Areia voltou a expor os atritos dentro da legenda no Ceará.

Ari Areia anunciou a desfiliação do partido no dia 28 de junho daquele ano, dia do Orgulho LGBTQIA+. No anúncio, teceu críticas ao que chamou de "esvaziamento sistemático, o enfraquecimento proposital e a inviabilização inevitável" de quadros ligados à pauta no partido. Areia foi suplente de deputado estadual na legislatura 2018-2022, mas não chegou a assumir. 

O jornalista citou também supostos problemas trabalhistas com o Psol Ceará — após o atraso no pagamento por serviço prestado a ele — e atribuiu ao Roseno e ao grupo político liderado por ele a responsabilidade por essa falta de pagamento. Ele também afirmou ter sofrido um "um processo de apagamento" dentro do partido. 

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Em nota publicada na época, Renato Roseno chamou de "postagens inverídicas" as feitas por Ari Areia. Roseno ainda afirmou que não faz parte da direção do Psol Ceará e "tampouco o campo político que integro possui maioria na Executiva do partido". "As acusações de que exerci influência sobre qualquer processo de desligamento nesse período são, portanto, infundadas", disse na época.

Em nota, a atual Executiva do Psol Ceará confirmou o atraso no pagamento do ex-filiado, mas disse que o motivo foi o bloqueio temporário das contas. Na época, uma parte dos filiados saiu em defesa do parlamentar, enquanto outro grupo acompanhou o ex-filiado da legenda, inclusive com declarações públicas.

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A definição da candidatura para Prefeitura de Fortaleza em 2024 também foi palco de divergências. Na época, a corrente partidária 'Insurgência' — que hoje, pede afastamento de Técio Nunes da direção partidária — defendia que a escolha fosse feita por prévias. Contudo, a candidatura acabou definida em votação na Executiva. 

Logo depois, houve uma nova disputa, dessa vez com a Rede Sustentabilidade, partido que integra federação com o Psol. Na época, a Rede havia lançado a pré-candidatura da ambientalista Cindy Carvalho. Ao final, Carvalho acabou concorrendo como vice de Técio Nunes. Na época, ele disse que as divergências haviam sido superadas. 

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