Impasse no PDT, quebra de aliança e candidatura do PT dão o tom das eleições em Quixadá
Definições devem ficar mais claras após a janela partidária, que se encerra em 5 de abril
O prefeito de Quixadá, Ricardo Silveira (PSD), deve disputar a reeleição em chapa composta pelo atual companheiro de mandato, o vice-prefeito Marcelo Ventura (PSD). A empreitada, contudo, deve contar com uma oposição consolidada no município, coordenada pelo ex-prefeito Ilário Marques (PT), atualmente assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais do Governo Lula.
Nesse meio, surge outra liderança do Sertão Central e ex-prefeito da cidade: o deputado estadual Osmar Baquit (PDT). Alinhado a Marques desde 2016, quando o petista foi eleito ao governo municipal, o parlamentar deve caminhar ao lado de Silveira neste pleito.
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Apesar do distanciamento admitido por ambos, eles negam a existência de um rompimento propriamente dito. Em dezembro do ano passado, Ilário avaliou que uma reintegração de Baquit ao grupo político em Quixadá seria bem-vinda. Na entrevista cedida ao portal SerTão TV, ele ressaltou que ambos compõem a base governista estadual.
"Falta conversar. Eu não conversei com ele nem ele comigo quando ele anunciou que estaria se aproximando agora do Ricardo, mas eu vejo que o Osmar é uma pessoa que tem pragmatismo, é um deputado experiente, de muitas realizações, e ele sabe que a política não se faz simplesmente por vontade própria, mas pelo que é de melhor para as pessoas que representamos”, disse o assessor do Governo Federal.
Também lembrou que apoiou a campanha de Osmar à Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), em 2022, mesmo que o PT tenha lhe convidado – a insistido – a concorrer a uma cadeira na Casa. Por outro lado, ponderou que o voto dado ao colega não foi uma moeda de troca para que o deputado apoiasse alguma investida de Ilário à Prefeitura.
Já o próprio Baquit aponta que pessoas ligadas a Ilário fizeram campanhas públicas para candidatos distintos – todos do PT –, inclusive seu filho Victor, em 2022. O cenário denotaria certa incoerência porque o petista defendeu e votou em Baquit à Alece, mas o seu entorno, não.
“Não rompi com ninguém. Quando a gente toma uma posição de votar no A ou no B, não quer dizer que a gente rompe com ninguém. [...] Quando você tá num grupo, você quer empenho e lealdade, coisa que, em maioria, eu não tive. Pronto, tá explicado aí”, disse Baquit ao SerTão TV, em junho do ano passado.
Reforço na base
Na mesma entrevista, o deputado comentou sobre a aproximação à atual gestão e os planos de apoiar a recondução no Executivo.
“Eu não fecho porta para ninguém. Poderei votar no Ricardo, dependendo do que nós vamos conversar. Não quero nada para mim, não preciso disso. Não adianta Quixeramobim estar forte se Senador está fraco, ou Quixadá forte e Ibaretama fraco, todo o Sertão Central tem que estar forte para que a gente tenha políticas públicas que ajudem todas as famílias dessa terra”, disse.
Ele lembrou que tem ligações familiares com o clã Silveira, mas que a política tem parcela de culpa no afastamento. Os irmãos Ricardo, Amilcar (presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará, a Faec) e Everardo Filho (empresário) são herdeiros do ex-prefeito de Quixadá Everardo Silveira, que morreu há menos de um ano.
“Nunca é tarde para recompormos as amizades. Se isso vai desaguar na política, quem sabe é deus e as nossas conversas. Eu não fecho porta para ninguém”, afirmou naquela ocasião. Meses depois, disse que a aliança é “muito viável”.
A posição de Baquit na "cidade dos monólitos" gera dúvidas não só ao esforço de Ilário, mas também do próprio PDT. Isso porque o parlamentar é um dos que devem deixar o partido em breve, caso consiga aval da Justiça Eleitoral, para se filiar ao PSB. O caminho é o mesmo feito pelo senador Cid Gomes e por dezenas de prefeitos no começo de fevereiro deste ano, após conflitos na agremiação pedetista a dividir em dois segmentos adversários.
Presidente estadual do PDT, Flávio Torres informou ao Diário do Nordeste que o partido está estruturando novamente o diretório em Quixadá e que está inclinado a lançar candidatura própria. Contudo, esse desfecho ainda é incerto, uma vez que o próprio dirigente prefere que a legenda apoie a reeleição de Silveira.
As discussões ainda estão em fase inicial. Os contornos devem ficar mais nítidos com o fim da janela partidária, em 6 de abril.
“A gente criou uma comissão que vai determinar essas coisas. O partido não é meu, né? Então tem que conversar com a comissão. Nós estamos no meio dessas tratativas, eu estou querendo nomear uma comissão provisória, porque o partido lá não existe mais. Já que o deputado Osmar Baquit está querendo sair, a gente tem que refazer o partido lá”, explica.
O Diário do Nordeste procurou Osmar Baquit para saber mais detalhes sobre como estão as tratativas eleitorais em Quixadá, mas não obteve retorno. O prefeito Ricardo Silveira também foi contatado, mas não houve resposta. Já o presidente do PSD Ceará (ao qual o gestor é filiado), Domingos Filho, apenas reiterou que o deputado se uniria à campanha de reeleição, sem dar mais detalhes.
Até o momento, é conhecido que a campanha de reeleição terá o apoio, ainda, do Solidariedade. “Em Quixadá, nós vamos apoiar o atual prefeito porque estamos aliados lá ao deputado Osmar Baquit”, disse o presidente estadual George Lima.
Oposição
Líder da articulação do PT em Quixadá, a qual governou por quatro mandatos, Ilário Marques é uma opção do partido para a disputa municipal, mas também pode lançar o filho Victor à eleição. O jovem é professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Paulo, mas faz esse intercâmbio com o Ceará por intermédio da família – a mãe é Rachel Marques, ex-deputada e coordenadora estadual da campanha de Lula à reeleição no Planalto, em 2006.
“Há uma tendência de que seja ele, mas nós estamos fazendo ainda toda uma programação, visitando os distritos e bairros para consulta e legitimação”, explica o ex-prefeito.
Mesmo sendo conhecido do eleitorado, o cargo de Ilário em Brasília é estratégico, e aliados consideram mais vantajoso para a região mantê-lo nessa posição. Além disso, Ilário enfrenta um processo no Tribunal de Contas da União (TCU) que pode torná-lo inelegível. Em janeiro, a Corte determinou perda dessa parte dos direitos políticos por má aplicação de recursos na construção do Hospital Eudásio Barroso, de Quixadá, 20 anos antes.
Segundo o assessor do Governo Federal, já há três recursos opostos à decisão do TCU. Por isso, a medida só passa a valer se for mantida até o trânsito em julgado. Por enquanto, ele segue elegível.
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Devido à federação, PCdoB e PV já estão garantidos no arco de aliança do PT. De acordo com Ilário, o diálogo segue com outros partidos na intenção de manter o grupo político estadual unido em Quixadá. Há conversas em curso, ainda, com o União Brasil e com o MDB, que confirma as tratativas.
Já o PSB, afirma, é uma “prioridade de aliança”, um apoio que “seria muito simbólico”. Isso já contando com a futura filiação de Osmar Baquit.
“O deputado Osmar não oficializou uma posição, ele tem uma aliança recente conosco. Nas duas ultimas eleições de prefeito e de deputado, nós estivemos juntos, mas agora o deputado teve uma abertura de diálogo com os nossos opositores. Temos toda abertura e buscaremos essa conversa, até por conta do alinhamento estadual”, informa Ilário.
O Diário do Nordeste procurou o presidente estadual do União Brasil, Capitão Wagner, para entender como estava o planejamento eleitoral em Quixadá. Sem mais detalhes, o dirigente disse: “estamos definindo no mês de março”.
O líder da seção cearense do PSB, Eudoro Santana, também foi consultado, mas não houve retorno.
Em outra via
Ainda em diálogo com o PT, o União Brasil planeja ter candidatura própria em Quixadá enquanto organiza a sua estruturação no município. Quem coordena esse processo local é Sérgio Onofre, que foi postulante à Prefeitura em 2020 pelo Cidadania. Ele informa ao Diário do Nordeste que é pré-candidato ao Executivo em 2024.
“Creio que o partido sairá bem articulado tanto para majoritário como para proporcional. Temos o total apoio do nosso deputado federal Danilo Forte nesse projeto e estamos mobilizando lideranças de vários segmentos sociais para fortalecer o grupo”, relata.
Segundo Onofre, ainda não há coligação com outros partidos, mas manterá “um diálogo constante com outras frentes de oposição a tua gestão”. A encabeçada pelo PT, por exemplo, é a principal corrente adversária a Silveira em Quixadá.
O cenário leva o União Brasil a não descartar a possibilidade de ambos comporem uma chapa para outubro, ainda que a alternativa de candidatura própria seja a mais provável.
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“Até porque temos um objetivo em comum, que é resgatar a cidade da péssima administração a que está submetida. Nossas pautas também se assemelham quanto as questões de educação, saúde e demais áreas”, explica.
“Entretanto, será analisado bem a projeção política dos dois grupos, e acredito que o candidato que tiver melhor condição de êxito no processo receberá o apoio do outro”, completa.
Já a Rede, que lançou Cícero Freitas à Prefeitura em 2020, ainda fecha entendimento sobre o assunto. “Ainda precisamos definir numa relação de diálogo com a federação que envolve o Psol”, comenta o ex-postulante.
O Psol é consideravelmente próximo ao PT em Quixadá, o que poderia inviabilizar uma candidatura própria do parceiro de federação. Ao ser questionado se essa relação poderia levar a Rede a apoiar a investida petista ao Executivo, Freitas diz que “na configuração atual, é pouco provável”.
Pré-candidatos à Prefeitura de Quixadá:
- Ricardo Silveira (PSD): atual prefeito de Quixadá, eleito em 2020, que vai buscar a reeleição. Filho do ex-prefeito Everardo Silveira e irmão de empresários conhecidos no Estado. Já foi Superintendente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) no Ceará;
- Victor Marques (PT): filho do ex-prefeito Ilário Marques e da ex-deputada Rachel Marques. Atualmente, é professor do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC (FABC);
- Sérgio Onofre (União): candidato à Prefeitura de Quixadá em 2020 pelo Cidadania. É advogado e tem trajetória de atuação em diversas organizações sociais, religiosas e estudantis.