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Com Síndrome de Down, filha de Romário critica fala de titular do MEC: 'não atrapalho'

Em entrevista, Milton Ribeiro disse que estudantes com deficiência "atrapalhavam, entre aspas" o aprendizado de outros alunos

Escrito por Redação ,
Romário e filha com Síndrome de Down
Legenda: O parlamentar tem a inclusão como uma das principais pautas na atuação política
Foto: reprodução/Instagram

Filha do senador e ex-jogador Romário (PL-RJ), a jovem Ivy Farias usou as redes sociais, nesta terça-feira (17), para criticar a declaração do Ministro da Educação, Milton Ribeiro, de que crianças com deficiência "atrapalhavam, entre aspas" o aprendizado de outros alunos. 

"A minha presença e a de outras pessoas com deficiência não é ruim, muito pelo contrário, desde a escola, meus coleguinhas aprendem uma lição que parece que o Sr. não teve a oportunidade de aprender: a diversidade faz parte da natureza humana e isso é uma riqueza. A fala do senhor revela muita falta de educação. Como pode achar que a deficiência torna alguém incapaz de estudar? A deficiência não nos torna incapaz de nada, basta que tenhamos oportunidade", escreveu a jovem com Síndrome de Down em uma carta aberta ao titular da pasta. 

À TV Brasil no dia 9 de agosto, Ribeiro disse que, no que classificou de "inclusivismo", estudantes com deficiência "atrapalhavam, entre aspas" o aprendizado de outros alunos sem a mesma condição. Os motivos que causavam isso, segundo ele, são que "a professora não tinha equipe, não tinha conhecimento para dar a ela atenção especial".

Na publicação, Ivy ainda mandou um recado diretamente ao gestor. "Seu ministro, uma criança com deficiência em sala de aula contribui mais com a educação deste país do que o senhor neste ministério", finalizou ela.

Na segunda-feira (16), o pai da jovem, Romário, criticou as declarações de Ribeiro em uma série de publicações nas redes sociais. 

"Somente uma pessoa privada de inteligência, aqueles que chamamos de imbecil, podem soltar uma frase como essa. Eles existem aos montes, mas não esperamos que estes ocupem o lugar de ministro da Educação de um país", disse o senador. 

O parlamentar ainda defendeu que "pessoas com deficiência em sala de aula estão, com a sua presença, também contribuindo para uma importante lição, a de que somos diversos e que não podemos deixar ninguém pra trás". Por fim, Romário escreveu: "O ministro da Educação faltou a muitas aulas, deixando a imbecilidade tomar o lugar da inteligência e da humanidade."

Aspas fora de contexto

Nesta terça-feira o ministro disse que a fala que foi ao ar na TV Brasil foi tirada de contexto. Segundo o jornal O Globo, ele disse que nunca utilizaria uma terminologia "tão baixa e preconceituosa nesse sentido que foi colocada". Porém, completou afirmando que algumas crianças, dependendo do grau de deficiência, "criam dificuldades" para elas e outros colegas na escola. 

"Quando fiz essa referência, fiz questão de falar que estava colocando entre aspas. O inclusivismo, que foi política do governo anterior, pega a criança com deficiência e joga na sala de aula, sem nenhum preparo, capacitação, preparação do ambiente para receber essas crianças", declarou durante o seminário "Educação híbrida e os novos quadrantes do ensino e da aprendizagem", realizado pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes).

Ribeiro ainda continuou dizendo que "os graus de deficiência têm níveis diferentes": "Temos, por exemplo, uma criança com Síndrome de Down que chega numa classe e vira celebridade, pela simpatia, pelo sorriso. Mas temos algumas com autismo severo que criam dificuldades para elas e outros alunos. Foi nesse contexto", explicou. 

Fala 'capacitista'

Ao O Globo, o presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD), Antônio Carlos Sestaro, avaliou que a declaração do titular do MEC é capacitista, pois classifica a pessoa com deficiência como menos capaz

"Se a própria Constituição diz que devemos promover o bem de todos sem qualquer forma de discriminação, não há de se falar que criança com deficiência atrapalha. O ministro desconhece ou não cumpre a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e a Lei Brasileira de Inclusão, que colocam que ninguém vai ser discriminado pela sua deficiência", declarou.

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