Piscou, perdeu: a disputa dos deputados pelos tempos de discurso no plenário da Assembleia

Em batalhas diárias, base do governo e oposição disputam, em segundos, quem fica como os melhores tempos

Escrito por
Inácio Aguiar inacio.aguiar@svm.com.br
Legenda: Assembleia Legislativa do Estado tem 46 deputados estaduais
Foto: Pedro Albuquerque/Alece

Um detalhe curioso tem chamado atenção nos bastidores da Assembleia Legislativa do Ceará: a corrida contra o tempo — literalmente — entre deputados estaduais para garantir espaço no microfone do plenário. Desde que a nova regra de inscrição foi implementada pela Mesa Diretora, em 2023, os parlamentares disputam ferozmente os seis tempos disponíveis para o primeiro expediente das sessões.

O sistema, que funciona apenas por meio virtual, abre pontualmente às 7h da manhã no dia da sessão, mas o que se vê é uma verdadeira prova de reflexos. Em questão de segundos — por vezes às 7h00min02s — todas as vagas já estão preenchidas.

Quem atrasa dois segundos já fica fora da lista. E há um motivo estratégico para isso: os tempos do primeiro expediente são os mais disputados, com direito a 15 minutos de fala por deputado, no horário nobre da Casa, com transmissão ao vivo pela TV institucional da Assembleia, rádio e redes sociais.

A ordem das falas segue um critério inverso: quem se inscreve primeiro, fala por último entre os seis. O sexto tempo, portanto, é o mais cobiçado — o que tem levado parlamentares a se tornarem quase atletas da pontualidade digital.

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A lógica atual substituiu um modelo igualmente peculiar, que vigorou até a legislatura passada, em que os deputados precisavam chegar de madrugada à Assembleia para garantir a assinatura no livro de oradores. Houve quem praticamente dormisse no prédio para assegurar o direito à fala.

O interesse crescente nos tempos do plenário tem também um componente político: as sessões se tornaram palco frequente dos embates entre a base do governador Elmano de Freitas (PT) e a oposição.

Na sessão desta quarta-feira (2), por exemplo, os dois últimos oradores — justamente os mais visíveis — foram os pedetistas Antônio Henrique e Queiroz Filho, ambos críticos do governo. Em contrapartida, a base ficou com os outros quatro tempos.