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Cenário pré-eleitoral em Sobral tem Ferreira Gomes rompidos e oposição articulando nome em família

O atual prefeito, Ivo Gomes, estuda quem será seu candidato em outubro, enquanto o antigo rival, Oscar Rodrigues, busca se viabilizar na disputa

Escrito por Ingrid Campos , ingrid.campos@svm.com.br
Sobral
Legenda: Disputa pela Prefeitura de Sobral pode apresentar embate semelhante ao de 2020.
Foto: Luiz Queiroz/Divulgação

É comum que os maiores colégios eleitorais do Ceará reflitam nitidamente as dinâmicas partidárias estaduais e nacionais, mobilizando lideranças emblemáticas. Sobral é um exemplo disso: berço político de um dos grupos mais tradicionais da política cearense, é governada por Ivo Gomes (PDT) e vive os dilemas do rompimento entre os irmãos Ferreira Gomes. Em meio a isso, figuras de oposição visam a conquista do eleitorado na chamada “Princesinha do Norte”, articulando também entre nomes familiares. 

A Ivo, fica a missão de escolher o nome que vai substituí-lo na busca pelo comando do Executivo sobralense, uma vez que já atingiu o segundo mandato e não pode mais concorrer ao cargo. Na lista de cotados, há quem esteja dentro e fora da gestão. São eles o empresário Lucio Feijão; o chefe de gabinete da Prefeitura, David Duarte; o ex-vice-prefeito Carlos Hilton; o diretor da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Luciano Arruda Filho; e a atual vice-prefeita, Christianne Coelho (PT).

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O grupo coordenado pelo senador Cid Gomes é sempre muito reservado quando se trata da escolha do(a) candidato(a) a cargo majoritário. Em entrevista concedida ao Diário do Nordeste, em outubro do ano passado, ele deixou claro que o anúncio da chapa deve ficar para última hora, como tem acontecido nas últimas eleições.

"Quando se trata de reeleição, as decisões já acontecem dois anos antes. Mas quando é novo candidato, para quem tem a responsabilidade de governar, é de todo inconveniente que se antecipe. Primeiro, a máxima diz que quem deve começar a campanha é a oposição, principalmente se a gestão for bem avaliada, que, graças a Deus, é o caso de Sobral", afirmou, na ocasião.

E assim deve ser até o começo de abril deste ano, prazo para que possíveis candidatos se filiem a partidos políticos, ou até o começo de agosto, quando acabam as convenções partidárias e o período de registro de candidaturas. 

As discussões seguem nos próximos meses tanto no sentido de delimitar nomes quanto na intenção de firmar o arco de aliança. Com a perspectiva de migração do bloco cidista do PDT para o PSB no início de fevereiro, a sigla socialista é que deve coordenar as tratativas. 

Segundo articuladores, a perspectiva é de que o PT renove a boa relação com o grupo, esta que possibilitou uma dobradinha vitoriosa com o PDT em 2020. "A gente não tem nomes ainda, isso vai ficar lá para a frente", diz Christianne, explicando que o PT também resolveu adiar definições nesse sentido a fim de conciliar o diálogo com os aliados em Sobral. 

"Ainda não houve nenhum tipo de conversa (entre os partidos), mas a gente sabe da intenção do PT de manter (a aliança). Isso tem sido conversado em reuniões do PT como também publicamente. O Ivo e o Cid têm dito isso, que querem manter a aliança. Agora, a gente ainda não sabe o formato", completa. 

Outro nome lembrado nesse cenário é o da ex-governadora Izolda Cela. Atualmente sem partido, ela ocupa o cargo de secretária-executiva do Ministério da Educação (MEC), ao lado de Camilo Santana (PT). Questionada pelo Diário do Nordeste se deve se colocar como opção em Sobral, a assessoria de imprensa da gestora diz que ela não comenta o assunto e que o foco, no momento, é o trabalho no MEC.

O Diário do Nordeste buscou os presidentes estaduais do PSB, Eudoro Santana, e do PT, Antônio Filho (Conin), para entender como estão as tratativas em Sobral, mas não conseguiu contato. Por meio da assessoria de imprensa, o prefeito Ivo Gomes reforçou que as definições devem vir à tona apenas a partir de julho, quando começam as convenções partidárias. 

O espaço do PDT

Sem a Prefeitura de Sobral e as lideranças que garantiram a presença do PDT na região, a legenda deve recalcular rota em 2024. Berço político dos Ferreira Gomes, a sigla brizolista perde Cid, Ivo e Lia Gomes (deputada estadual), mas mantém o ex-governador Ciro e sua lista de aliados. 

A situação atual do PDT é delicada, tendo em vista que muitos componentes dos diretórios municipais estão de saída, acompanhando Cid. Por isso, ainda é incerto falar sobre candidaturas no Interior. O que há de seguro, até o momento, são as disputas em Fortaleza, com José Sarto (PDT), e São Gonçalo do Amarante, com o deputado estadual Cláudio Pinho (PDT).

Segundo o vereador de Fortaleza e tesoureiro da comissão provisória do PDT Ceará, Iraguassú Filho, as negociações serão guiadas pelo novo presidente estadual, Flávio Torres; o presidente do diretório municipal, Roberto Cláudio; e o presidente nacional interino do partido, André Figueiredo. 

A reportagem tentou contato com Ciro Gomes via assessoria de imprensa e com os três dirigentes citados, mas não obteve retorno. 

Oposição articulada

Enquanto um lado busca se manter no poder, o outro estuda formas de quebrar a hegemonia na cidade da Região Norte. Em 2024, pode haver embate semelhante ao de 2020. Naquele ano, Ivo Gomes (à época, do PDT) enfrentou Oscar Rodrigues (à época, do MDB) nas urnas e levou a melhor. 

Em outubro próximo, o nome indicado pelo grupo de Ivo vai disputar a Prefeitura contra o mesmo rival ou nome próximo, desta vez completamente alinhado politicamente a Capitão Wagner, ex-deputado federal e um dos líderes da oposição no Estado. Há quatro anos, Wagner era filiado ao Pros. Hoje, ele comanda o União Brasil, que acomoda o deputado estadual Oscar Rodrigues e o filho, o deputado federal Moses Rodrigues.

Pai e filho já disputaram a Prefeitura contra Ivo e manifestaram o desejo de voltar ao páreo. Ao Diário do Nordeste, Oscar afirmou que, a preço de hoje, é a opção mais viável para o partido. “Mas se o nome dele (Moses Rodrigues) tiver melhor do que o meu nas pesquisas, lógico que eu vou deixar que o candidato seja ele”, pontuou Oscar.

O parlamentar pode ser uma opção, admite Wagner, mas pondera: “Ainda estamos avaliando o cenário”.

“Oscar tem grande chance de ser candidato, tem um ‘recall’ (é lembrando pelo eleitorado devido a eleições anteriores) bem elevado, mas ainda estamos avaliando o cenário, fazendo pesquisas. Também temos outros nomes, como o Moses, a Lara, os vereadores que pleiteiam estar na chapa majoritária”, avalia o dirigente. 

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Assim como Moses, Lara Rodrigues é filha de Oscar. O primeiro é responsável pelas tratativas em Sobral, além de fazer uma ponte entre a cúpula do União Brasil, devido ao seu trabalho em Brasília, e a direção estadual. Já a segunda não é detentora de mandato eletivo.  

“(Vamos verificar se) é melhor permanecer com nome que já tem ‘recall’, tem experiência, ou se podemos lançar um nome novo para mostrar a capacidade de renovação política”, destaca o secretário. 

Quanto à composição do arco de aliança, Wagner prefere não detalhar com quais partidos deve caminhar neste ano. Mas adianta que está em diálogo com o PL, presidido no Estado pelo deputado estadual Carmelo Neto, com quem deve se reunir na próxima semana para tratar sobre a relação nos maiores municípios cearenses. Segundo Oscar Rodrigues, há negociações com dois partidos. 

As duas legendas concorreram juntas ao governo cearense em 2022, com Wagner encabeçando a chapa também composta pelo atual presidente da Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci) de Fortaleza, Raimundo Gomes de Mattos (PL). 

Na Região Metropolitana de Fortaleza, segundo o dirigente, há candidaturas definidas em Caucaia, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba e Pacajus, além da Capital, em que o partido lançará o próprio Wagner à disputa. Pelo menos em Caucaia e em Fortaleza, o União e o PL andarão em caminhos distintos no primeiro turno.

O Diário do Nordeste buscou o deputado estadual Carmelo Neto para ele comentar como estão as tratativas do PL relacionadas a Sobral, mas não obteve retorno. Moses Rodrigues também foi procurado, mas não foi possível estabelecer contato até a publicação desta matéria. 

O MDB em 2024

Mesmo sem nomes próprios eminentes em Sobral, o MDB busca o seu espaço na eleição municipal. Segundo o presidente estadual da sigla, o deputado federal Eunício Oliveira, houve um primeiro contato com Moses Rodrigues no sentido de dialogar sobre aliança, mas nada foi firmado até o momento.

O dirigente está em viagem internacional, o que dificulta a conversa por ora. Com o retorno, os dois podem sentar para tratar sobre o assunto. Caso decidam seguir juntos nas eleições de outubro, a dinâmica não vai surpreender. Como mencionado anteriormente, o MDB foi a legenda que acomodou Moses e Oscar em 2020.

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Por outro lado, uma vez cessada a relação conflituosa com Cid, Eunício passou a fazer acenos públicos aos aliados do mais novo pessebista. Somado ao desafeto que ainda mantém com Ciro Gomes, após uma pilha de processos judiciais, o deputado federal chegou até a convidar o senador e seu grupo para se filiar ao MDB.

“Todo mundo acha que tenho problema com o Cid, nunca tive problema com ele. Tenho uma relação muito boa também com o Ivo, aliás, tenho um apreço grande pelo Ivo, gosto muito dele. Ele é um prefeito que sempre reconheceu quando ajudei Sobral, mesmo com toda divergência entre o Ciro e eu", disse, há cerca de um ano.

O Diário do Nordeste questionou Eunício sobre essa alternativa, que foi classificada pelo deputado como “possível”.

Eleição bate à porta

As eleições ocorrem sempre no primeiro domingo do mês de outubro. Neste ano, o pleito municipal está marcado para 6 de outubro em primeiro turno e para 27 do mesmo mês para segundo turno. No Ceará, apenas duas cidades estão aptas para uma nova rodada de votação por abrigarem um eleitorado superior a 200 mil pessoas: Fortaleza e Caucaia. Já Sobral define o novo comando da Prefeitura apenas em primeiro turno. 

Antes do período decisivo, partidos, candidatos e eleitores têm uma série de prazos a cumprir. O último grupo, por exemplo, precisa se atentar ao prazo de alistamento eleitoral, que termina em 8 de maio. Até essa data, há a possibilidade de tirar o título, alterar o local de votação ou fazer a transferência do domicílio eleitoral, seja em postos presenciais ou pela internet. 

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A reforma eleitoral de 2015 estabeleceu que a filiação dos candidatos deve ser deferida pelo partido no mínimo seis meses antes da data da eleição, ou seja, no início de abril. Um vez cumprido esse requisito, os filiados estão aptos a colocar os nomes à disposição nas convenções que, como manda a Lei das Eleições, deve ocorrer entre 20 de julho e 5 de agosto. Após selecionar os postulantes, as siglas devem registrar os nomes na Justiça até 15 de agosto. 

No dia seguinte, em 16 de agosto, inicia-se a campanha eleitoral. Já em 30 de agosto - conforme prevê a lei que restringe os 35 dias anteriores à antevéspera do primeiro turno como o momento para a divulgação - é que a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão terá início. Ela será exibida até o dia 3 de outubro. 

Em resumo:

  • Alistamento eleitoral - prazo encerra no dia 8 de maio de 2024;
  • Convenções partidárias - serão realizadas entre 20 de julho e 5 de agosto;
  • Registro de candidaturas - os partidos devem realizar até 15 de agosto;
  • Propaganda eleitoral - só poderá ser feita a partir do dia 16 de agosto;
  • Horário eleitoral gratuito - será exibido no rádio e na TV entre 30 de agosto e 3 de outubro.
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