Parlamentares cearenses da base e oposição ao Governo Federal apoiam o pedido de abertura de inquérito da Procuradoria Geral de República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) registrado nesta sexta-feira (2), contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Ao mesmo tempo, parte da bancada não esconde a surpresa com a decisão, já que a Procuradoria historicamente tem ligação com a presidência da República. O objetivo do pedido da PGR é investigar suposto crime de prevaricação no processo de compra da vacina Covaxin.
Bancada
Procurado pelo Diário do Nordeste, o senador Eduardo Girão (Podemos), que se coloca como independente - nem da base do governo de oposição -, diz que devem ser apuradas "todas as denúncias consistentes que envolvam indícios de corrupção", como a da Covaxin.
"Mas a CPI vem sendo cada vez mais parcial e seletiva. Age com rapidez e prioridade máxima quando a denúncia envolve o Governo Federal. Mas no caso do escândalo do Consórcio do Nordeste envolvendo 9 Estados Nordestinos não se aprova nada", diz ainda Girão.
Atuando no campo da oposição ao governo, o deputado federal Idilvan Alencar (PDT) vê com surpresa a postura da PGR de investigar Jair Bolsonaro. "Vivemos tempos em que tempo que precisamos analisar bem a real intenção dos atos", diz.
Em meio à cautela, o pedetista apoia a investigação. "Nosso receio é que essa decisão de investigar seja também uma forma de protegê-lo. A decisão veio somente após o STF negar o pedido da PGR de esperar o fim da CPI para decidir se investiga ou não e foi assinada pelo vice-procurador, não pelo Procurador Geral", disse o parlamentar.
O deputado federal Denis Bezerra, do PSB, avalia a decisão como positiva. O parlamentar cearense defende que a CPI da Pandemia "vem mostrando grandesa resultados, principalmente na descoberta de questões de prováveis crimes de prevaricação. Bezerra diz ainda que a "bandeira anticorrupção do governo cai por água abaixo".
Investigação
Eleito em 2018 na esteira bolsonarista, e em seguida se afastando da base do governo, o deputado Heitor Freire (PSL) também é um defensor da abertura do inquérito. Freire argumenta ainda que empresas, governos estaduais e prefeituras também entrem no escopo de investigações.
Da mesma forma que eu defendo que todos os outros também sejam. Empresas, governos estaduais, e prefeituras [...] acredito na inocência do presidente Bolsonaro, por isso acho importante ele mostrar sua integridade e agora será o momento.
O deputado Danilo Forte (PSDB) também argumenta que o presidente seja investigado, uma vez que há a denúncia. "Onde tem o dinheiro público tem que ter fiscalização. Tudo que envolve dinheiro público tem que ser fiscalizado. É muita explícita a aproximação da relação do PGR de Aras com o presidente Bolsonaro. Vamos aguardar os acontecimentos", diz o parlamentar.
Inquérito
A ministra Rosa Weber (STF) já havia enviado à PGR o pedido de investigação sobre suposta corrupção na negociação das vacinas.
A notícia-crime aponta suposto pedido de propina em negociação entre o Ministério da Saúde e a empresa Daviti Medical Supply no Brasil, para a compra de 400 milhões de doses da vacina contra Covid-19 da AstraZeneca.
CPI
O caso veio à tona após o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda afirmar, em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), pressão atípica para a compra da vacina indiana. Desde então, o caso entrou no foco da CPI da Pandemia.
A comissão suspeita do contrato para a aquisição da imunização, por ter sido fechado em tempo recorde, em um momento em que o imunizante ainda não tinha tido todos os dados divulgados, e prever o maior valor por dose, em torno de R$ 80 (ou US$ 15 a dose).
Meses antes, o ministério já tinha negado propostas de vacinas mais baratas do que a Covaxin e já aprovadas em outros países, como a Pfizer (que custava US$ 10).