Além do Ceará, disputa pelo Senado vira peça-chave para eleição no Nordeste; veja cenários
O Diário do Nordeste listou quem são os cotados e conversou com analistas políticos, que avaliaram o quadro.
Exatas 54 cadeiras no Senado Federal estarão em disputa na eleição do próximo ano, o que equivale a dois terços de todo o quadro da Casa Legislativa. Destes assentos disponíveis, 18 serão ocupados por políticos nordestinos, representando os 9 estados que compõem a região.
Na maioria das unidades federativas localizadas nesta parte do mapa do Brasil, a corrida eleitoral visando mandatos na Casa Alta do Congresso Nacional será uma peça-chave em 2026 — refletindo o que ocorre no contexto cearense, em que governistas e oposicionistas já protagonizam uma competição pela indicação para concorrer ao cargo.
Em 2026, o eleitorado de cada estado escolherá dois senadores para representá-los. O Senado é a Casa revisora das leis e essencial na aprovação de ministros de tribunais superiores, de presidentes e diretores de diversas agências reguladoras federais (como Anac, Anvisa, Aneel, entre outras) e de emendas constitucionais.
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Obter maioria do plenário é uma sinalização de maior governabilidade para o grupo que obter a chefia do Executivo. Assim, a disputa pelo Senado nos estados nordestinos em 2026 é estratégica e crucial, não somente ao nível regional, mas para a consolidação do poder federal.
Nesta matéria, trazemos análises de cientistas políticos sobre como este cenário se desenha e qual o impacto dele nacionalmente. Além disso, mostramos quais nomes são cotados em Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Nordeste é estratégico, opinam especialistas
A eleição para o Senado Federal em 2026 emerge como um elemento essencial nas estratégias de diferentes grupos políticos, sobretudo na região Nordeste. A disputa é considerada determinante tanto para os grupos alinhados com o presidente Lula quanto para os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Para o campo governista, uma das prioridades será a manutenção da hegemonia regional e garantir a governabilidade federal. Já para o bolsonarismo, o objetivo estratégico é conquistar cadeiras no Senado, ampliando o arco eleitoral e garantir a visibilidade dos partidos aliados em uma região do país onde o grupo é eleitoralmente minoritário.
O cientista político Cláudio André, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), explica que o Poder Legislativo, de forma geral, passou a se valorizar e a ser um espaço de mais disputa.
Isso ocorre, segundo especialista entrevistado pelo Diário do Nordeste, porque o presidencialismo de coalizão brasileiro é impactado pelas emendas, o que redimensiona a carreira política de quem busca vagas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Cláudio André destaca que a chegada do bolsonarismo na agenda política de Brasília já demonstrou uma busca por ocupação de espaço no Legislativo federal.
A estratégia do ex-presidente em 2018 era apresentar chapas competitivas, em razão da influência nos fundos eleitoral e partidário, permitindo que os partidos se tornem grandes máquinas para arrecadar dinheiro e ser "players mais efetivos no jogo político".
"O presidente Lula, a partir de 2022, faz uma leitura de que é necessário aumentar a capacidade eleitoral de ganhar força no Senado e na Câmara para até blindar o governo em relação ao impeachment, em relação a pautas conservadoras. E isso foi retomado agora, mais recentemente, com uma espécie de prioridade do presidente Lula em montar chapas competitivas ao Senado", afirma ele.
O cientista político ressalta a importância institucional da Casa: "É um espaço que envolve as indicações para o STF, que envolve o impeachment de ministros, do Supremo. Então, passa a ser um cargo com mais atenção".
Para ele, o cenário de 2026 será um teste dessa estratégia, sendo que a grande novidade é que o lulismo passa a "olhar com muito mais cálculo, frieza e atenção como ele vai conseguir uma estratégia de disputa política efetiva no Senado".
André salienta que Lula ventila a possibilidade de que, em alguns cenários, será "até melhor abrir mão da disputa para o governador para ter um senador eleito na chapa".
A professora Mariana Andrade, doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e docente da Universidade de Fortaleza (Unifor), reforça que, como cerca de dois terços do Senado estarão em disputa em 2026, haverá uma reconfiguração significativa da Casa.
De acordo com ela, uma bancada forte, alinhada ao governo ou à oposição, será fundamental, já que o Senado Federal controla votações importantes, como reformas, aprovação de ministros e leis estruturantes.
Embora cada estado do Nordeste possua dinâmicas próprias, a professora aponta a existência de padrões regionais claros na disputa para o Senado em 2026.
Ela identifica quatro similaridades que permeiam a maioria dos estados: "Predomínio de candidaturas já conhecidas, o papel decisivo das alianças locais, chances de composição entre um bloco governista e um de oposição e, finalmente, o forte peso do voto combinado com o governador".
A docente também salienta que um dos traços mais marcantes no Nordeste para 2026 são as disputas internas, que ocorrem em praticamente todos os estados, mesmo que com intensidades diferentes.
Conforme explica a entrevistada, essa fragmentação se manifesta tanto na oposição quanto na base aliada, como visto em Pernambuco, Bahia e Maranhão, devido às coalizões estaduais serem muito amplas.
Andrade conclui que a definição da eleição ao Senado na região dependerá de fatores duplos: "No final das contas, a eleição ao Senado em 2026 no Nordeste será definida tanto pelas alianças entre blocos quanto pelas brigas internas dentro desses blocos".
Quem são os cotados?
A formação de chapas majoritárias é um elemento a ser lembrado nessa escalada rumo ao pleito, visto que movimentos intrapartidários, sinalizações de senadores tentando continuar no Legislativo, governadores em fim de mandato indicando vontade em seguir na carreira política e disputas internas para a seleção dos postulantes já ocorrem um ano antes dos eleitores irem às urnas.
Confira como estão as articulações em cada estado:
Alagoas
Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o senador Renan Calheiros (MDB) deve ser candidato à reeleição pelo estado de Alagoas. Seu filho, o ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB), já indica que quer disputar a cadeira de governador mais uma vez.
Além dele, Alfredo Gaspar (União Brasil) e Paulão (PT) também têm sido cotados e são mencionados em pesquisas eleitorais que avaliam o clima eleitoral ainda em 2025.
Na oposição, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), tem demonstrado disposição para concorrer ao Senado, numa estratégia casada com um candidato ao Governo do Estado.
E o deputado federal Davi Davino (Republicanos) também é pré-candidato a senador por Alagoas. Em novembro, ele indicou apoio à possível candidatura do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), ao Palácio República dos Palmares.
Bahia
Atual ministro da Casa Civil no Governo Lula, Rui Costa (PT) colocou seu nome à disposição do grupo político para ser lançado ao Senado em 2026, representando a Bahia.
No estado, é ventilada a ideia de uma possível chapa unicamente petista, uma vez que Jaques Wagner (PT) deve buscar uma renovação do mandato na Casa Alta.
Quem também deve ir em busca da reeleição é o senador Angelo Coronel (PSD), aliado do agrupamento liderado pelo Partido dos Trabalhadores na Bahia.
Apesar disso, o senador Otto Alencar (PSD), líder do partido no estado e que tem mandato no Senado até 2030, indicou o apoio da sigla na Bahia ao presidente Lula e ao governador Jerônimo Rodrigues (PT) na eleição do próximo ano.
O ex-ministro da Cidadania na gestão de Jair Bolsonaro (PL), João Roma (PL) é tido como o nome da oposição ao Senado Federal, com o apoio de ACM Neto (União Brasil), que deve tentar novamente a eleição para assumir o Palácio de Ondina.
E, conforme decisão unânime do diretório estadual do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), foram escolhidas as pré-candidaturas de Ronaldo Mansur ao Governo da Bahia, com Meire Reis como vice, e Delliana Ricelli ao Senado.
Ceará
O Ceará é um palco de disputas intrapartidárias na base do governador Elmano de Freitas (PT) e variadas pré-candidaturas oposicionistas.
No campo governista há, além de Cid Gomes (PSB) — apto à reeleição, mas que diz não ter planos para isso —, os deputados federais José Guimarães (PT), Eunício Oliveira (MDB), Júnior Mano (PSB) e Luizianne Lins (PT), o ex-senador Chiquinho Feitosa (Republicanos), o ex-vice-governador Domingos Filhos (PSD) e o chefe da Casa Civil, Chagas Vieira.
No decorrer dos últimos meses, o nome do deputado federal Moses Rodrigues (União) passou a ser ventilado. O parlamentar, apesar de vinculado à legenda que rompeu com o Governo Lula em setembro, indicou apoio ao governador Elmano em 2026.
Apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o deputado estadual Pastor Alcides (PL) é um dos nomes da direita ao Senado. Da mesma legenda, a vereadora de Fortaleza, Priscila Costa (PL), é considerada pré-candidata, inclusive com o apoio da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL).
O ex-prefeito da capital, Roberto Cláudio (União), é outro integrante do campo da direita especulado como possível candidato em 2026 como senador. Ele, que não confirma ou nega tal intento, concorreu ao Palácio da Abolição em 2022, quando foi derrotado por Elmano.
Maranhão
O senador maranhense Weverton Rocha (PDT) deve disputar a reeleição. Da mesma maneira que a senadora Eliziane Gama (PSD) deve concorrer a mais um ciclo no Legislativo. Ambos ocupam seus mandatos desde 2019, quando foram eleitos pela primeira vez para a Casa Alta.
O ministro do Esporte, André Fufuca (PP), mira sua candidatura ao Senado. Recentemente, ele foi punido pelo seu partido por permanecer como auxiliar do Governo Lula mesmo após a entrega de cargos que eram ocupados pela agremiação. O político foi afastado da cúpula nacional do PP e da presidência do diretório estadual.
O afastamento de Fufuca abriu espaço para um político do União Brasil, o deputado federal Pedro Lucas Fernandes, assumir o comando da federação formada pelos dois partidos no Maranhão. Ele deve representar a oposição na briga por uma cadeira de senador.
Em setembro, o Psol estadual indicou os escolhidos para concorrer ao Governo do Maranhão e ao Senado. Serão, respectivamente, Enilton Rodrigues e a liderança quilombola Antonia Cariongo. Os dois políticos concorreram aos mesmos postos na eleição de 2022.
Além disso, o governador Carlos Brandão (PSB), que estará no fim do mandato em 2026, é considerado em pesquisas eleitorais para a disputa por uma vaga na chapa majoritária concorrendo ao Congresso Nacional, mas o mandatário tem indicado permanecer no governo até a conclusão da sua gestão.
Paraíba
Na Paraíba, o governador João Azevedo (PSB), em seu segundo mandato, não pode concorrer à reeleição e afirma publicamente que será candidato ao Senado Federal na próxima eleição. Ele desponta com destaque em pesquisas recentes de intenção de voto no estado e, apesar de ser aliado do presidente Lula, indicou que irá apoiar o vice-governador Lucas Ribeiro — de um partido rival do chefe do Palácio do Planalto, o PP — como sucessor.
O senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB) é outro nome que deve estampar o rosto nas urnas, como candidato à reeleição, em 2026. Em declarações recentes, o político afirmou que pretende contar com o Partido dos Trabalhadores na chapa majoritária, seja na vice do candidato ao Governo do Estado, o prefeito da capital Cícero Lucena (MDB), ou na segunda vaga ao Senado.
A senadora Daniella Ribeiro (PP) não irá concorrer à reeleição. A decisão foi comunicada em agosto, quando da homologação da federação do seu partido com o União Brasil. Ela alegou que a medida foi tomada para viabilizar a candidatura do seu filho, Lucas Ribeiro, ao Governo da Paraíba e fortalecer o projeto governista.
Já Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da Saúde e dirigente partidário estadual, surge como o pré-candidato do bolsonarismo no estado da Paraíba. Sua candidatura deve seguir uma lógica de tentativa de “voto casado” com o senador Efraim Filho (União), que vai concorrer ao Governo do Estado em 2026.
Pernambuco
A ex-deputada federal Marília Arraes (SD) é uma das aventadas para a corrida por uma cadeira de senadora representando Pernambuco. Em inserções partidárias, a política, que concorreu ao Governo do Estado na última eleição, fez sinalizações de alinhamento com o presidente Lula e com o prefeito de Recife, João Campos (PSB).
Os senadores Humberto Costa (PT) e Fernando Dueire (MDB) são pré-candidatos à reeleição como representantes do estado na Casa Legislativa.
Na esteira desse cenário pré-eleitoral também figuram como prováveis candidatos o ministro de Portos e Aeroportos Sílvio Costa Filho (Republicanos), o ex-senador Armando Monteiro Neto (Podemos), o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho (União) e a vereadora de Recife Jô Cavalcanti (Psol).
Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro também despontam, entre eles o ex-ministro do Turismo Gilson Machado (PL) e o ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira (PL).
Piauí
Em 2026, os piauienses deverão ter nas urnas dois candidatos à reeleição para as duas vagas no Congresso Nacional: o senador Marcelo Castro (MDB) e o senador Ciro Nogueira (PP).
O emedebista é apoiado pelo mandatário do Palácio do Planalto, enquanto Ciro já conta com a declaração de apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem foi ministro da Casa Civil.
Em julho deste ano, Bolsonaro anunciou que o empresário Thiago Junqueira (PL) será o candidato ao Senado pela sua legenda partidária.
Já o deputado federal Júlio César (PSD), que é aliado do governador Rafael Fonteles (PT), é outro nome do grupo governista cogitado na competição para se tornar senador.
Rio Grande do Norte
Styvenson Valentim (PSDB) é um dos pré-candidatos à reeleição ao Senado Federal no Rio Grande do Norte, da mesma maneira que a senadora Zenaide Maia (PSD) também deve buscar sua recondução ao mandato parlamentar em 2026.
No fim do mandato e sem possibilidade de retornar ao cargo mais alto do Executivo estadual, a governadora potiguar Fátima Bezerra (PT) deve ser candidata para retornar ao Senado no próximo ano. Ela apoiará o secretário da Fazenda Cadu Xavier (PT) para o Governo do Rio Grande do Norte.
No estado, o Partido Verde (PV) já demonstrou interesse em ter o presidente estadual da sigla, Rivaldo Fernandes, como candidato a senador ao lado de Fátima Bezerra.
O ex-senador Jean Paul Prates, que se desfiliou do PT, deve ser mais um nome na corrida eleitoral por uma cadeira de senador. Sem destino certo, o político revelou recentemente que mantém diálogo com siglas como MDB, PCdoB e PDT.
O Coronel Hélio Oliveira (PL) deve ser lançado numa dobradinha com senador Rogério Marinho (PL), que é pré-candidato ao Governo do Estado como aliado de Jair Bolsonaro.
A disputa pelo Senado pode ganhar outro nome, o da vereadora de Natal Thabatta Pimenta (Psol). Pré-candidata à Câmara dos Deputados, a parlamentar afirmou que foi convidada pelo diretório nacional da sigla para concorrer por uma vaga na Casa Alta do Congresso Nacional.
Os ex-prefeitos de Natal Álvaro Dias (Republicanos) e Carlos Eduardo Alves (PSD) também são cogitados no páreo para o Senado.
Sergipe
Dois candidatos do Partido dos Trabalhadores devem ser candidatos ao Senado Federal por Sergipe: o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Márcio Macêdo e Rogério Carvalho (PT). Sendo esse último candidato à reeleição.
Além destes, o ex-prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), é pré-candidato da base governista na disputa por uma vaga no Congresso em 2026.
Outro que buscará reeleição no pleito que se aproxima será o senador Alessandro Vieira (MDB), que tem uma postura de independência ao governo em seu mandato no Congresso.
O Psol já apresentou, em agosto, o ex-deputado estadual Iran Barbosa ao Senado. O anúncio veio acompanhado de uma resolução se opondo ao governo estadual, comandado por Fábio Mitidieri (PSD), e priorizando a reeleição de Lula (PT).
A oposição possui pré-candidaturas como a do ex-senador Eduardo Amorim (PSDB), a do deputado federal André Moura (União), a do deputado federal Rodrigo Valadares (União) e o ex-prefeito de Itabaiana Adailton Sousa (PL).