Advogado que confundiu "O Pequeno Príncipe" com Maquiavel já foi condenado por agredir mãe e irmã
Em 2022, o caso foi para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde aguarda decisão
O advogado Hery Waldir Kattwinkel Junior recorre de uma condenação por violência doméstica contra mãe e irmã. Na última quinta-feira (14), ele ganhou notoriedade durante a defesa de um dos acusados dos ataques do 8 de janeiro após confundir reflexão do livro “O Príncipe”, de Maquiavel, com a obra infantil “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry.
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Em julho de 2019, o advogado foi condenado pela 2ª Vara Criminal de Votuporanga, no interior de São Paulo, pelo crime de lesão corporal contra a mãe e a irmã.
Na denúncia, feita em 2016, o Ministério Público de São Paulo conta que durante uma discussão com a mãe, Kattwinkel “ficou muito nervoso e acabou por agredi-la, tendo chutado a mãe pelas costas, derrubando-a ao chão”. A irmã, vendo a agressão, interveio, tentando apartar os dois, mas também foi agredida.
“Hery partiu em direção à irmã, derrubou-a ao chão, sentou sobre as costas dela e passou a agredi-la, golpeando a cabeça dela contra o chão, desferindo-lhe socos e tentando sufocá-la”, afirmou o MP. Conforme a denúncia, após as agressões o advogado fugiu do local com o celular da irmã.
CONDENAÇÃO
Em 2019, Hery Kattwinkel foi recebeu uma pena de três meses pelo crime cometido, contudo, como, na ocasião, ele era réu primário, o juiz de primeira instância concedeu a suspensão condicional do processo — benefício no qual o réu precisa cumprir algumas restrições mais brandas por dois anos e o caso é arquivado.
No caso, o advogado teria que ir a cada três meses ao fórum prestar contas do que estava fazendo. O advogado está recorrendo da condenação. Em 2022, o caso foi para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde aguarda decisão.
Procurado pela equipe do Estadão, Hery afirmou que o episódio se refere a “divergências familiares que já foram superadas”. “Hoje convivo muito bem com minha família”. Ele também disse que o que ocorreu foi um “desentendimento familiar” e negou as agressões.
Junto as respostas, ele enviou, à reportagem do Estadão, uma foto dele abraçado com a mãe.
COMPARAÇÃO COM O HOLOCAUSTO
Além de protagonizar a confusão entre as obras literárias, durante a sustentação oral desta última quinta-feira (14), Hery chegou a comparar a prisão dos manifestantes golpistas no presídio da Papuda, em Brasília, com o Holocausto e disse que Moraes “invertia o papel de julgador”.
“Eu vejo que o ministro Alexandre de Moraes inverte o papel de julgador aqui nessa Suprema Corte. Ele passa de julgador a acusador. É um misto de raiva com rancor com pitadas de ódio quando fala dos patriotas. A cena que vi lá [na Papuda] me lembrou muito o Holocausto. Vi muitos pais de famílias de cabelos brancos, como vossas excelências, mulheres, aposentadas, como se bandidos fossem da mais alta periculosidade”, afirmou.
Moraes afirmou que a sustentação do advogado era um exemplo do que não fazer em um tribunal, além de chamar a sustentação de "patética e medíocre”.
“É patético e medíocre que um advogado suba à tribuna do Supremo Tribunal Federal com discurso de ódio, com discurso para postar depois nas redes sociais. Talvez pretendendo ser vereador do seu município no ano que vem. Digo com tristeza que o réu aguarda que ele venha aqui defender tecnicamente. O advogado não analisou nada, absolutamente nada. Preparou um discursinho para postar em redes sociais”, afirmou Moraes.
“Os alunos que aqui se encontram, do curso de Direito da Universidade de Rio Verde de Goiás, hoje tiveram aula do que não deve ser feito numa Suprema Corte. Hoje tiveram aula do que advogado constituído não deve fazer para prejudicar o seu constituinte. Ou seja, esquecer o processo e querer fazer uma média com os patriotas. Realmente é muito triste”, concluiu o ministro.
O cliente defendido pelo advogado recebeu uma pena de 15 anos de reclusão.
EXPULSÃO DO PARTIDO
Após a defesa do réu realizada no STF, o Solidariedade expulsou o advogado Hery Kattwinkel Júnior do seu quadro de filiados, segundo informações da CNN.
Segundo o partido, o advogado protagonizou um “grotesco espetáculo de ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal” durante o julgamento em vez de “se limitar a desempenhar as legítimas funções que se espera de um advogado”.
Ainda conforme o Solidariedade, o advogado verbalizou e endossou “discurso de ódio, não raro permeado de fake news, que contaminou parte da sociedade brasileira”.
O partido diz ainda que “logo após a sua lamentável participação no julgamento de hoje, já passaram a circular nas redes sociais do referido filiado diversas mensagens alusivas à sua pretendida candidatura nas eleições do próximo ano” e que, “desta forma, mostra-se uma insuperável incompatibilidade entre a linha de atuação política do Sr. Hery Waldir Kattwinkel Júnior e o partido Solidariedade”.
Na nota divulgada, a sigla disse que “o Solidariedade é um partido político com inabalável compromisso com a defesa do Estado Democrático de Direito e jamais admitirá que qualquer de seus filiados afaste-se desse inegociável princípio com o regime democrático”.