Taxas cobradas por fundos podem ficar caras com Selic baixa
Dados da Anbima, apontam que apesar de existir um maior apetite de investidores por fundos de renda variável. Aa maioria dos recursos ainda está concentrada em carteiras mais conservadoras
Os sucessivos cortes na taxa básica de juros podem tornar investimentos em fundos de renda fixa inviáveis. Isso porque, a depender da taxa de administração que essas carteiras cobram e da rentabilidade que entregam, o investidor pode acabar pagando mais do que recebe de retorno.
A taxa de administração remunera gestores e equipes pelo serviço de administração e gestão do fundo –que além da alocação dos recursos, inclui também a análise de ativos, setores e cenários. Essa taxa normalmente é ex-pressa em um valor percentual anual e incide diretamente sobre o total investido (capital aplicado e rendimentos).
E com a redução da Selic para os atuais 2% ao ano, na mínima histórica, essa taxa precisa ser cerca de, no máximo, 0,5% ao ano para que o investimento compense e o investidor tenha um lucro razoável. Essa situação é mais comum em fundos de renda fixa.
"A taxa de administração faz sentido para montar boas equipes e gerar retornos maiores no longo prazo, principalmente em fundos de ações e multimercados, mas esse retorno precisa estar bastante claro. Esse mercado não foi feito para deixar o gestor rico", afirmou sócio da Nord Research, Luiz Felippo.
Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), apontam que apesar de existir um maior apetite de investidores por fundos de renda variável, a maioria dos recursos ainda está concentrada em carteiras mais conservadoras.
O patrimônio líquido total dos fundos de renda fixa atingiu R$ 2,1 trilhões em julho deste ano, queda de 1,1% em relação a igual mês de 2019, mas que ainda corresponde a 43,3% do patrimônio total da indústria de fundos.
No mês, a captação líquida dessas carteiras quase quintuplicou na comparação com julho de 2019, para R$ 35,4 bilhões, mas a rentabilidade da categoria caiu em pelo menos metade dos fundos de renda fixa classificados pela Anbima.
Para o presidente da Garde Asset, Marcelo Giufrida, o cenário mais complexo para o investidor, principalmente ante os efeitos da crise do coronavírus, exige uma "lição de casa" maior antes de investir.
"Grande parte dos fundos se recuperou. Mas diante do cenário, é necessário analisar mais o fundo, olhar a equipe que gere a carteira, as mídias sociais. A taxa de administração é importante, mas não é o único fator decisivo", disse.
Quanto maior é a equipe de gestão dessa carteira, maior será a taxa de administração. Essa análise também é importante para explicar a taxa de performance, que remunera o bom desempenho do fundo e incide sobre a parcela do retorno que exceda a variação do índice determinado como parâmetro de referência (benckmark).
Esse índice pode ser o Ibovespa para as carteiras que investem em ações, por exemplo, ou o CDI e a Selic para os mais conservadores. Para Guilherme Assis, presidente do Gorila, plataforma para gerenciar investimentos, uma forma mais fácil de entender se vale a pena pagar o que o fundo cobra é avaliar a consistência dos retornos da carteira ao longo do tempo.
"Isso dá uma ideia da consistência de rentabilidade do fundo. Se houve bom desempenho em cenários adversos, uma taxa de performance de 20% faz sentido, porque ele entrega o que promete", disse.
Com a queda da Selic, a demanda por essas carteiras é crescente. Segundo a Anbima, o patrimônio dos fundos de ações subiu 31,9% em julho deste ano contra igual mês de 2019, para R$ 512,2 bilhões.
Nos multimercados, a alta foi de 17%, para R$ 1,3 trilhão.
A rentabilidade dessas carteiras também não decepciona. Todos os fundos de ações tiveram altas significativas na rentabilidade. Entre os multimercados, 9 das 11 carteiras entregaram ganhos maiores.
"Mas antes de migrar para a renda variável, o investidor precisa entender qual o nível de risco e volatilidade que aceita, para que não se frustre ou perca dinheiro na primeira chacoalhada do mercado", disse a diretora de riscos da SulAmérica Investimentos, Maria Augusta Mosca.