Sem recursos liberados, obras da Transnordestina estão atrasadas no Ceará, admite presidente da TLSA

Cronograma de construção da ferrovia depende da liberação dos recursos pelo Governo Federal

Escrito por Luciano Rodrigues , luciano.rodrigues@svm.com.br
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Legenda: Ferrovia Transnordestina avança em construção no Ceará, mas ainda falta liberação de recursos para acelerar obra
Foto: Kid Júnior

Sem os recursos necessários para o andamento das obras da Transnordestina, a construção da ferrovia está atrasada no Ceará. Isso porque o Governo Federal ainda não repassou R$ 1 bilhão previsto para 2024, necessários para contratar os próximos trechos da linha férrea. Essa cifra faz parte de um montante de R$ 3,6 bilhões previstos até 2027. 

O cronograma se mantém. Claro que a cada mês que a gente não contrata, vai empurrando. O desafio de recuperar fica maior, mas a gente continua falando do primeiro semestre de 2027 rodando, com o porto pronto, a empresa portuária de logística instalada, com a ferrovia toda instalada até o Porto do Pecém. O compromisso que assumi com o presidente Lula, vamos cumprir.
Tufi Daher Filho
Presidente da TLSA e da FTL

A avaliação é de Tufi Daher Filho, presidente da Ferrovia Transnordestina Logística (FTL) e da Transnordestina Logística S.A. (TLSA), em entrevista exclusiva para o Diário do Nordeste. Ambas as empresas são subordinadas à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e são responsáveis, dentre outras atribuições, pelo transporte de cargas no Nordeste brasileiro.

Apesar dos atrasos na liberação de recursos, as obras avançam atualmente do Centro-Sul cearense em direção ao Sertão Central, com trechos em construção entre Acopiara e Quixeramobim

A construção da Transnordestina fica a cargo da TLSA e convive com atrasos há 18 anos, quando as obras foram iniciadas ainda no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Embora a ferrovia tenha avançado em território cearense, a liberação de recursos para a conclusão da linha férrea é um desafio.

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Atrasos no trecho 6 da ferrovia

Esse entrave atrasou, inclusive, a contratação do trecho 6 no Ceará, entre Quixeramobim e Quixadá. Em abril, durante a visita do presidente Lula ao canteiro de obras da ferrovia em Iguatu, Tufi Daher garantiu que a empresa responsável pela construção da Transnordestina entre as duas cidades do Sertão Central aconteceria ainda naquele mês.

O discurso adotado agora, no entanto, é diferente. Como a contratação do trecho ainda não saiu do papel, a tendência é de contratar o lote 6 ainda neste mês ou, no máximo, em agosto. A condição para isso é a liberação de R$ 3,6 bilhões em recursos do Governo Federal, que serão utilizados para concluir a ferrovia até o Porto do Pecém.

Estamos com esperança ainda de no mês de julho, no mais tardar em agosto, contratar já o lote 6 também, sendo mais 50 quilômetros (km) de obras. Da visita do presidente para cá, tínhamos algumas tendências para a gente poder continuar as contratações dos empréstimos, só que havia algumas necessidades prementes para isso acontecer. Precisava aprovar um projeto de lei, que foi aprovado. Foi para a sanção do presidente, nos próximos dias deve ser sancionado.
Tufi Daher Filho
Presidente da TLSA e da FTL

"O projeto de lei aprovado vai permitir que seja editado o decreto que permite que a Sudene faça esse aditivo de R$ 3,6 bilhões que estão previstos: R$ 1 bilhão em 2024, R$ 1 bilhão em 2025, e R$ 1 bilhão em 2026 e R$ 600 milhões em 2027 para a finalização", explica.

O projeto de lei no qual Tufi Daher se refere é o PL 858/2024, do senador Confúcio Moura (MDB-RO). Nele, fica estabelecida a criação do Fundo de Investimento em Infraestrutura Social (FIIS).

De acordo com o Senado Federal, a expectativa é captar recursos para áreas como educação, saúde e áreas de infraestrutura. O montante a ser arrecadado pode chegar a R$ 10 bilhões em 2025.

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Legenda: Transnordestina deve começar a operar no transporte de cargas no Ceará já em 2025
Foto: Kid Júnior

Recursos necessários para finalizar obra

Esse instrumento permite a TLSA buscar, junto a bancos, empréstimos para angariar os recursos para a finalização da Transnordestina. Segundo o presidente da empresa, a lei também permite que seja editado o decreto entre a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e a companhia relativo ao valor que falta para concluir a obra.

Segundo o presidente da TLSA, a expectativa é, já nesta semana, se reunir com representantes do Banco do Nordeste (BNB) e da própria Sudene em busca do montante.

O próximo ato agora vai ser, com a sanção desses dois instrumentos, vamos já nesta semana começar a discutir com o BNB e com a Sudene o aditivo desse contrato, para que ainda no segundo semestre, entre setembro e outubro, a gente já tenha mais R$ 1 bilhão, e com isso, a gente já vai contratar praticamente a obra toda.
Tufi Daher Filho
Presidente da TLSA e FTL

Apesar da necessidade da liberação dos recursos — o que está próximo de acontecer nas palavras de Tufi Daher —, o presidente da TLSA ressalta que "as obras estão avançando muito bem desde a visita do presidente Lula em abril, onde foram firmados os compromissos com o Governo Federal e que vêm sendo cumpridos".

Transnordestina avança no Ceará

Segundo documentos da TLSA, 232 km dos 608 km da nova ferrovia no Ceará estão concluídos. Os três lotes já entregues (Missão Velha — Lavras da Mangabeira — Iguatu — Acopiara) totalizam 150 km, e o restante (82 km) é referente ao trecho entre Salgueiro (PE) e a entrada da linha férrea no Estado até Missão Velha.

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Legenda: Obras da Ferrovia Transnordestina devem ficar prontas em menos de três anos, garante TLSA
Foto: Kid Júnior

Mesmo com os atrasos nas contratações dos trechos em virtude dos impasses referentes aos recursos, as obras "estão prosperando muito bem", como reforça Tufi Daher. A garantia é de, apesar dos percalços, entregar a ferrovia no primeiro semestre de 2027.

Ainda conforme o presidente da TLSA, a promessa é de que a Transnordestina comece a ter operações comerciais já no ano que vem no trecho concluído, que vai de São Miguel do Fidalgo (PI) passando por Pernambuco até chegar ao Centro-Sul do Ceará.

"Em 2025, vamos fazer os primeiros transportes de grãos saindo lá do Piauí até a região central do Ceará para abranger aquela bacia leiteira, as granjas. Nosso diretor comercial está rodando com todos os produtores, tanto os fornecedores de grãos quanto aqueles consumidores. Já temos o projeto do terminal assim instalado no Piauí, estamos discutindo o projeto do terminal, não é definitivo, mas é intermediário para poder dar vazão ao consumo de grãos no Ceará", projeta.

Geração de milhares de empregos

Com as obras de infraestrutura iniciadas nos dois trechos que avançam no Sertão Central (Acopiara — Piquet Carneiro — Quixeramobim), Tufi Daher afirma que o número de empregos gerados somente nos lotes 4 e 5, referentes ao trajeto em construção, empregam, de forma direta, cerca de 2,5 mil pessoas.

"Tem mais de 500 equipamentos mobilizados. Cada lote desse que a gente contrata ele gira entre 800 e 1.000 pessoas de emprego direto e mais de 150 equipamentos pesados. As obras estão evoluindo super bem", diz.

Caso haja a confirmação da liberação do R$ 1 bilhão oriundo do Governo Federal para investir na Transnordestina, o presidente da TLSA vislumbra contratar, ainda em 2024, os lotes 7, 8 e 9. Esses trechos vão conectar as cidades de Quixadá, Itapiúna, Baturité e Aracoiaba, totalizando 147 km em linha férrea.

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Legenda: Ferrovia Transnordestina avança em direção ao Sertão Central do Ceará
Foto: TLSA/Divulgação

Além disso, Tufi Daher também estima que, entre empregos diretos e indiretos, a contratação dos trechos deve gerar 31 mil postos de trabalho no ápice das obras. Quando a ferrovia for inaugurada, esse número deve aumentar, conforme projeções feitas pela TLSA.

"Nossa estimativa é de 8 mil empregos diretos com a contratação dos lotes faltantes de forma simultânea. Isso gera, no mínimo, 23 mil novos empregos indiretos, só na fase da obra. Agora imagina o que isso pode movimentar quando ela entrar em operação? Abrange uma gama de outros negócios. Você movimenta uma gama de pequenas cidades que acabam sendo beneficiadas por um equipamento logístico hoje inexistente e que vai mudar a realidade do interior do Ceará", classifica.

 

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