Sam's Club deve ampliar operações no Ceará, com previsão de abrir nova unidade em 2024

Diferente de outros estabelecimentos do setor de supermercados, clube de compras segue modelo que tem atraído novos públicos

Escrito por Luciano Rodrigues , luciano.rodrigues@svm.com.br
Sam's Club Fortaleza
Legenda: Unidade do Sam's Club em Fortaleza no bairro Papicu
Foto: Thiago Gadelha

O clube de compras Sam's Club deve abrir uma segunda unidade no Ceará. A informação foi obtida com exclusividade pelo Diário do Nordeste com fontes do setor varejista. A segunda loja deverá ser instalada na Avenida Washington Soares, no bairro Luciano Cavalcante, onde atualmente funciona um hipermercado da bandeira Carrefour. 

Hoje, só há um Sam's Club no Ceará, no bairro Papicu, em Fortaleza. 

A previsão, segundo apurou a reportagem do Diário do Nordeste, é do hipermercado Carrefour encerrar as operações na Avenida Washington Soares em 31 de janeiro, assim como outras três lojas em Fortaleza. A companhia francesa não confirma a informação do novo estabelecimento na Capital, mas divulgou um plano de conversões para todo o País.

De acordo com um fato relevante de novembro de 2023 do Grupo Carrefour Brasil, entre 2024 e 2026, 40 hipermercados serão convertidos em Atacadão e Sam's Club, metade desse total apenas neste ano. Além das conversões, o grupo planeja abrir entre 10 a 12 lojas da bandeira de atacarejo, e entre 7 e 9 da marca de clube de compras.

Os números de atacarejo no Ceará revelam que o mercado aponta para uma nova tendência no setor de supermercados. Para além do cash and carry, como é chamado o atacarejo, os clubes de compras também indicam que o segmento ganha modalidades ainda inexploradas em todo o Brasil.

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Diferente de atacarejos, supermercados e hipermercados, os clubes de compras ainda estão longe de serem populares para o público brasileiro. A principal rede atuante no setor no País é o Sam's Club. De acordo com informações no site da companhia, são 51 lojas da marca em 16 estados e no Distrito Federal.

Questionado sobre as mudanças da marca no Ceará e no País, o Grupo Carrefour Brasil informou apenas que não iria se manifestar sobre o assunto.

Mas o que diferencia o clube de compras de outros tipos de negócios do setor supermercadista? Especialistas consultados pelo Diário do Nordeste apontam que produtos, experiências e serviços podem estar entre as explicações.

Investimentos na marca

Uma característica unifica a experiência entre as principais marcas de clube de compras em todo o mundo: a assinatura. Para comprar nesse tipo de loja, é necessário pagar uma mensalidade (ou anuidade). No caso do Brasil, o Sam's Club cobra R$ 75 por ano por até duas pessoas como assinantes.

O caso nacional ainda traz um modelo diferente. O clube de compras do Grupo Carrefour Brasil opera de forma híbrida entre as bandeiras existentes no setor, como supermercados, hipermercados e atacarejos.

Como aparece no site da loja, são ofertados produtos como alimentos, bebidas e produtos de higiene, mas também estão disponíveis mercadorias como vinhos — nacionais e importados — cama, mesa e banho, eletrodomésticos, móveis e decoração para casa. 

Também é possível obter produtos com embalagens maiores do que as convencionais, disponíveis ainda na marca própria da loja, além de cashback mensal nas compras feitas no estabelecimento.

“A área de vendas trabalhada no varejo de alimentos físicos nunca foi tão gerenciada. Atualmente cada cm² das lojas é preparado para atender assertivamente os consumidores e proporcionar o melhor resultado para o negócio, seja no formato de atacarejo ou não”, afirma Randal Mesquita, especialista em varejo e serviços e diretor de educação corporativa da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil no Ceará (ADVB-CE).

Para o especialista, o crescimento desse tipo de segmento em todo o Brasil, embora seja ainda em ritmo bem menor do que a expansão dos atacarejos, não significa que havia uma demanda reprimida nesse mercado.

“O brasileiro vem descobrindo novas formas de se relacionar com as empresas e suas marcas preferidas. Nossa geração vem estendendo para o offline o comportamento de consumo criado em ambientes online e esse comportamento chegou ao varejo de alimentos”, diz.

Os clubes de compras personalizam a 'cesta de compras' de seus assinantes, proporcionando experiencias customizadas com o grande benefício da conveniência proporcionada pela automatização recorrente do modelo. Imagine receber toda semana em sua casa, a ração ideal para seu pet, o seu kit de salgados preferido, sua cerveja ou seu vinho mais apreciado, ou até visitar a barbearia toda semana, as possibilidades são inúmeras.
Randal Mesquita
Especialista em varejo e diretor de educação corporativa da ADVB-CE

Carrefour Washington Soares
Legenda: Carrefour da avenida Washington Soares deve ser convertido em Sam's Club
Foto: Thiago Gadelha

No último balanço trimestral divulgado pelo Sam's Club, com resultados de julho a setembro de 2023, o clube de compras apresentou resultados mais positivos em comparação com o segundo trimestre de 2022.

Em cinco anos, houve a abertura de cinco lojas (de 42 para 47), além de um aumento nas vendas líquidas (+ 10,2%). Em setembro de 2023, o Sam's Club contava com 628 mil assinantes no País, 58 mil a mais do que no mesmo mês do ano anterior.

Público-alvo como desafio

Tanto o preço quanto os produtos do clube de compras, embora mostre certo custo-benefício atraente, evidencia que o alvo está longe de ser um público mais diverso, como em atacarejos, como explica Ulysses Reis, professor de varejo da Strong Business School (SBS), instituição conveniada à Fundação Getulio Vargas (FGV).

Ele relembra a primeira tentativa de uma loja do segmento no Brasil, no fim dos anos 1990, destacando que o perfil dos estabelecimentos de clube de compras que vieram para o Brasil na época teve dificuldades em se adaptar ao comportamento do consumidor local.

“Para você conseguir um preço bom, você tinha que conseguir juntar várias pessoas que queriam um produto e era comprado diretamente do fabricante com desconto. Esse modelo não funcionou aqui, porque o brasileiro gosta de comprar a prazo. Esse modelo só funcionava se comprasse à vista, se você planejasse a sua compra, e o brasileiro não é tanto de planejar, e sim comprar por impulso”, recorda.

O professor da SBS destaca que o modelo ainda “não é a característica do perfil do brasileiro, não é para classe baixa, é para classe média alta e alta”, e estabelece um comparativo com os outlets, centros comerciais ao redor de grandes cidades do Brasil que têm lojas de marcas famosas a preços mais baixos.

Quando lançaram os primeiros outlets, a gente achava que quem ia comprar nos outlets no Brasil era a classe média. Foi um erro que a gente cometeu. Na verdade, a classe média, quando quer comprar, compra no camelô, a classe rica é quem compra no outlet.
Ulysses Reis
Professor de varejo da SBS

Embora o segmento de clubes de compras esteja em crescimento, ainda que levemente, Ulysses Reis acredita que é preciso olhar para experiências bem-sucedidas ao redor do mundo e adaptar com inteligência no mercado local. Segundo ele, Fortaleza tem um mercado pouco aproveitado que pode ser uma das chaves para o negócio dar certo.

“Estamos trabalhando não de forma errada, mas não estamos aproveitando as melhores experiências. Não é uma coisa para se botar em tudo quanto é lugar, é uma experiência interessante. No momento que a gente está no Brasil, deveríamos tentar. (…) Fortaleza é uma cidade que tem uma demanda reprimida forte nessa área, não está bem explorada e acho que cabem mais empresas. Tem que ser feito um trabalho de educar o público e ensinar vantagens do porquê que esse modelo é bom”, finaliza.

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