Rendimento médio: Negros recebem 49% menos do que os brancos em Fortaleza, diz pesquisa

O rendimento médio domiciliar per capita dos negros no segundo trimestre deste ano, no País, é o menor em oito anos

Escrito por Natali Carvalho , negocios@svm.com.br
Desigualdade em Fortaleza
Legenda: Vários grupos sociais têm renda familiar vulnerável e vivenciam índices desiguais quando são relacionadas questões como escolaridade e raça
Foto: Helosa Araújo

Israel Alves, de 21 anos, estava prestes a se casar quando perdeu, neste ano, o emprego que tinha de auxiliar administrativo no Centro de Fortaleza. Se antes disso a situação financeira da família já não era a ideal, complicou ainda mais. A renda que ele levava todos os meses para casa foi cortada e apenas a mãe se manteve trabalhando. Israel, então, se mudou para Goiânia na tentativa de montar um negócio. Ainda não conseguiu. “Foi difícil (para a família) não poder mais contar com a ajuda que eu dava”, desabafa o jovem.

Assim como a família de Israel, vários outros grupos têm renda familiar vulnerável e, além disso, vivenciam índices desiguais quando são relacionadas questões como escolaridade e raça. Uma pesquisa feita pelo Observatório das Metrópoles, PUC-RS e Observatório da Dívida Social da América Latina revelou que o rendimento médio domiciliar per capita da população negra, ou seja, a soma das rendas de todos os trabalhadores de um domicílio, vem diminuindo, e alcançou, em 2020, o menor valor desde 2012: R$ 653,57. Enquanto isso, a média recebida pelos brancos soma R$ 1.585,25. O comparativo considera os segundos trimestres (abril, maio e junho) de cada ano.

O levantamento mostra ainda que, em Fortaleza, neste ano, o valor médio dos rendimentos dos negros correspondeu a apenas 49,6% da remuneração dos brancos. Ou seja, se um branco recebe um salário, um negro ganha menos da metade daquela quantia.

Segundo Marcelo Ribeiro, pesquisador do Observatório das Metrópoles e Professor do Ippur/UFRJ, os dados da pesquisa retratam um quadro de desigualdade racial "muito dramático nas metrópoles" de uma forma geral no que se refere à obtenção de renda do trabalho.

De acordo com Alesandra Benevides, coordenadora do Laboratório de Estudos da Pobreza de Sobral (LEP-Sobral), ligado à Universidade Federal do Ceará (UFC), "essa manutenção da participação da renda dos negros em relação à dos brancos não tem muito a ver com a pandemia" da Covid-19: é um problema anterior e crônico.

A pesquisadora pontua ainda que essa distância da média salarial do negro em relação ao branco é uma consequência da característica do mercado de trabalho no Brasil.

“Os trabalhadores do nível de gerência, os que estão em cargos de chefia, em geral são brancos. Essa caracterização pode ser reflexo também do grau de instrução e do nível de escolaridade entre pretos e brancos”, acrescenta.

Cenário 

Para Danyelle Nilin, professora do Departamento de Ciências Sociais da UFC, a pandemia expôs desigualdades que já existiam. Conforme a pesquisadora, são necessárias políticas afirmativas, de profissionalização, estímulo à escolarização e ao trabalho formal para que as populações minoritárias possam sair das estatísticas negativas de desigualdade.

 “Há muito tempo no Brasil não acontecem mudanças realmente substantivas para diminuir a desigualdades”, explica.

Pesquisa

O estudo dos Observatórios das Metrópoles e da Dívida Social da América Latina se baseou no modo como a cidade faz a distribuição de renda entre diferentes pessoas e grupos sociais.

O valor utilizado é a soma da renda do trabalho de todos os indivíduos de um domicílio, dividido pelo número de moradores do local, independentemente de a pessoa trabalhar ou não. Nisso, se obtém a renda domiciliar per capita.

A pesquisa se baseia apenas em rendas de trabalho, seja trabalho formal ou informal. Nesse caso, valores obtidos por meio de auxílio emergencial, Bolsa Família ou outras fontes de aplicação financeira não são considerados.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados