Perdas nas granjas: 150 mil aves serão sacrificadas
Aproximadamente 15 milhões de animais no Estado estão com a alimentação comprometida
Com o bloqueio das principais vias federais e estaduais em decorrência da greve dos caminhoneiros, o setor avícola têm enfrentado uma série de problemas que travam o processo logístico da atividade. No Ceará, de acordo com a Associação Cearense de Avicultura (Aceav), são movimentados, semanalmente, no Estado, 1,5 milhões de frangos e cinco milhões de ovos diariamente. Desse total, 80% está represado devido aos efeitos da paralisação nas estradas.
Essa é a situação vivenciada pelas granjas há, pelo menos, três dias, de acordo com o presidente da Associação, João Jorge Reis. Ele detalha que, além da falta de movimentação dos produtos, o setor sofre com a falta de ração pronta e de insumos para a fabricação do alimento dos animais. "É algo que a maioria das nossas granjas está enfrentando. São quase 15 milhões de aves na expectativa pela chegada da ração", diz.
Com toda a cadeia paralisada, ele afirma que são sérias as consequências geradas. "Os frangos não estão saindo das propriedades e isso traz uma série de consequências. Primeiramente, a gente não fatura. Nós corremos ainda o risco de perder a qualidade do ovo ou até mesmo perder o produto. No caso dos frangos, quanto mais tempo passam aqui, mais eles consomem ração, quando não devia estar sendo consumido", lamenta.
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Com a situação considerada insustentável pelos avicultores, o presidente da Associação revela que não há atividade para os funcionários, que ficam sem ter como trabalhar. "A situação vem apertando cada vez mais", acrescenta João Jorge Reis.
Sem o escoamento das aves abatidas, a Companhia de Alimentos do Nordeste (Cialne) terá que sacrificar 150 mil pintos por falta de espaço e o estoque para alimentação das aves só vai até domingo.
Abate
A empresa chegou a deixar de fazer abate em alguns dias da semana, ou fazê-lo em quantidade menor para preservar as aves maiores por mais tempo como uma medida emergencial, mas não tem sido suficiente para conter os impactos do bloqueio das estradas pelo País.
"Na hora que não tiramos as aves para fazer a venda, não libera espaço para novos alojamentos. É uma sequência. Quando qualquer elo da cadeia é afetado, se tem esse tipo de transtorno. Nós não temos como mensurar todo o prejuízo agora, mas o impacto é relevante e, somente em vendas, nós podemos estimar a perda de R$ 3 milhões pelo volume", explica o diretor comercial da Companhia Nacional de Alimentos do Nordeste, Marcelo Alves. Sem o restabelecimento do tráfego rodoviário ainda neste fim de semana, o diretor prevê que a alimentação das aves seja prejudicada. "Estamos torcendo para que as lideranças consigam chegar a um acordo e considerem o impacto dessa movimentação", aponta.
Perda nacional
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) diz que a falta de ração nas unidades produtivas pode causar a perda de 1 bilhão de aves e de 20 milhões de suínos nos próximos dias. Além disso, estima-se que 152 plantas estão paradas e mais de 220 mil trabalhadores sem exercer suas atividades.
"O acordo consolidado na quinta (25) entre governo federal e caminhoneiros ainda não surtiu efeito nas estradas. Caminhões com carga viva não são autorizados a transitar. A situação mais grave está no trânsito de ração", diz a nota da ABPA.
A associação ainda afirma que os produtores que contam com estoques estão fracionando para prolongar ao máximo a oferta do alimento. "A estimativa, entretanto, é de que até a próxima segunda-feira todo o plantel fique sem ração", acrescenta o comunicado. "Empresas poderão fechar pelos prejuízos causados pela paralisação. Uma intervenção rápida e forte por parte do governo é urgente".