Trégua descumprida; 60% dos postos no CE 'secaram'

Capital também tinha situação crítica nessa sexta, com muitos estabelecimentos já sem combustíveis

Escrito por Armando de Oliveira Lima e Samuel Quintela - Repórter ,

Encontrar gasolina nos postos da Capital nessa sexta-feira (25) era uma missão praticamente impossível. Cerca de 90% dos estabelecimentos pesquisados pelo Diário do Nordeste estavam com estoque zerado ou afirmavam ter pouquíssimos litros de reserva para abastecer o tanque dos clientes. A equipe passou por nove bairros, e em um dos postos, a situação foi classificada como "crítica" pelos funcionários, estimando que o combustível deveria acabar em menos de 30 minutos. Era por volta das quatro horas da tarde.

Além do esvaziamento de insumos, a perspectiva de reabastecimento, em todos os postos, seguia sem data, ocasionado pelo bloqueio de caminhões na Base de tancagem da Petrobras.

Com a paralisação, nenhum motorista poderia entrar ou sair do ponto onde a Estatal guarda todo o combustível antes de repassar aos postos em todo o Ceará. Localizada no Porto do Mucuripe, é da base que sai, por exemplo, a gasolina que para o Crato, antes de ser direcionado à região do Cariri.

No único posto encontrado pela reportagem em uma situação tranquila, o gerente informou que ainda restavam, por volta das 18h, mais de 20 mil litros da gasolina. A unidade, da bandeira BR, localizado no cruzamento das avenidas Rogaciano Leite e Desembargador Gonzaga, no entanto já estava lotada, com grandes filas de carros para abastecer.

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A maioria dos clientes estava enchendo o tanque, como medo de ficar sem gasolina durante o final de semana.

De acordo com o gerente, se o movimento continuar na mesma toada, a gasolina do posto só deve durar até o meio-dia deste sábado (26).

No local, a gasolina estava sendo revendida com o valor do preço máximo encontrada nas últimas três pesquisas diretas feita pelo Diário do Nordeste, com litro sendo comercializado por R$ 4,890. Os levantamentos foram feitos nos dias 23, 24 e 25.

A alguns quarteirões dali, no posto da bandeira Multi, localizado na avenida Rogaciano Leite, no entanto, a situação era consideravelmente pior. Segundo o gerente do estabelecimento, o combustível deveria acabar em menos de 30 minutos.

Poucas opções

No posto BR Eco, no cruzamento das avenidas Dom Luís com Virgílio Távora, por volta das 16h30, praticamente todo o estoque já estava zerado. A única opção para os consumidores era uma modalidade de gasolina aditivada, chamada de "Podium". O preço, contudo, era bem mais alto do que a gasolina comum, sendo vendido a R$ 5,999 e barrou o ímpeto de alguns consumidores que pensavam em encher o tanque, como a empresária Jéssica Rayane.

"Isso tudo é um absurdo que está acontecendo com a gasolina. Eu não vou encher o tanque porque não dá com essa gasolina a R$ 5,99. Vou colocar um pouco para poder rodar amanhã e esperar que se resolva", disse.

O estudante Lucas Varela, que aguardava sua vez na enorme fila de carros formada no posto Eco, também havia tomado a mesma decisão. "Não vou encher o tanque. Vou garantir apenas uma quantidade para poder rodar amanhã e esperar que a situação seja normalizada", afirmou Varela.

Regularização

Mas a situação deverá permanecer igual enquanto durar a greve dos caminhoneiros. A previsão do presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Ceará (Sindipostos-CE), Manoel Novais Neto, era de que até o fim da noite dessa sexta-feira, 60% dos postos do Estado deveriam "literalmente secar". Entretanto, segundo o assessor econômico do Sindipostos, Antonio José Costa, caso as negociações com o governo deem resultado e a greve acabe, a situação, no Estado, estaria normalizada em até 48h. Na Capital, a previsão é de 24h.

Distribuição continua travada

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Manifestantes permaneciam concentrados na entrada e saída de veículos da base de tancagem do Porto do Mucuripe (FOTO: NATINHO RODRIGUES)

Caminhoneiros, caçambeiros e motoristas de aplicativos continuaram concentrados durante toda a sexta-feira (25) na entrada e saída de veículos da base de tancagem do Porto do Mucuripe, em Fortaleza. Segundo manifestantes, não havia, até o fechamento desta edição, acordo com o governo federal e não há expectativa para a liberação dos caminhões. Eles também afirmam que o combustível nos postos da Capital e do Interior só deve durar até este sábado (26).

A Avenida Dioguinho, que estava interditada pelo grupo, foi liberada por volta das 10h. Grande parte dos carros que passavam - de particulares, de empresas, ônibus ou outros - saudavam os manifestantes, com buzinas, gritos e acenos. Alguns, levaram mantimentos como água e comida para ajudar a manter o acampamento.

"Temos recebido arrecadações. Têm pessoas que moram próximo da região e tem trazido alimento e água. Então, não tem faltado nada. Estamos aqui em frente a distribuidora e não vamos sair daqui. Queremos que o Brasil pare", comentou o presidente da Associação dos Motoristas de Transporte Privado e Individual de Passageiros (Ampip-CE), Antônio Evangelista.

"A gente quer que o governo baixe o preço do combustível e resolva também a nossa situação", disse um dos manifestantes que não quis ser identificado.

Ponto estratégico

De acordo com informações dos caminhoneiros, a base de tancagem do Mucuripe tem capacidade para abastecer 24 caminhões por hora. "O combustível está acabando nos postos. A situação mais grave é no Interior. Já estão no limite", disse outro motorista acampado no local.

Muitos participantes do movimento ressaltaram que o Mucuripe é local estratégico porque abriga locais para alimentação e descanso dos motoristas.

"Aqui a gente tem toda a estrutura para acolher os caminhoneiros. Também vamos receber banheiros químicos porque a nossa expectativa é receber mais pessoas", afirmou um manifestante.

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