De café da manhã a lanches da madrugada: aplicativos de delivery registram alta no número de pedidos

Empresas percebem mudança de hábitos por parte do consumidor. Na América Latina, a estimativa é um crescimento de US$ 1 bilhão no faturamento frente ao ano passado

Escrito por Heloisa Vasconcelos , heloisa.vasconcelos@svm.com.br
Legenda: A demanda cresceu nos aplicativos e o número de restaurantes cadastrados aumentou no último ano
Foto: Shutterstock

Passado o momento da pandemia em que as pessoas precisaram usar aplicativos de delivery pela impossibilidade de consumir presencialmente em restaurantes, empresas que atuam no ramo continuam percebendo um aumento no número de pedidos. 

Além disso, houve mudança nos hábitos dos consumidores. Alguns aplicativos tiveram aumento no número de pedidos de café da manhã e lanches da madrugada.

Segundo relatório elaborado pela venture capital e private equity Atlantico, a projeção é que haja um aumento de US$ 1 bilhão no faturamento de deliverys de comida na América Latina neste ano frente ao ano passado. Para 2024, a expectativa é que a receita alcance os US$ 9,8 bilhões - em 2020, eram US$ 6,8 bilhões. 

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Para empresas do setor, o crescimento do delivery mesmo com os estabelecimentos já de portas abertas representa uma mudança de hábito por parte do consumidor. Ao mesmo tempo, mais restaurantes se integram às plataformas para atender à maior demanda.  

Curva ascendente 

Quando a pandemia começou, em março do ano passado, os deliverys de alimento experenciaram um verdadeiro boom. Segundo o general manager do Rappi Brasil, Eric Dhaese, a plataforma teve um aumento de 300% nos pedidos no início do ano passado em comparação com 2019, principalmente nos setores de supermercados, farmácias e restaurantes. 

“Esse aumento reflete uma resposta das pessoas às contingências impostas pela pandemia e suas restrições sanitárias. E os aplicativos, naturalmente, contribuíram para que as pessoas pudessem acessar serviços e produtos com segurança, sem sair de casa”, considera. 

Outros aplicativos como o iFood também sentiram o aumento na demanda. Em nota, a empresa afirmou que houve uma mudança no comportamento dos clientes principalmente com relação ao horário dos pedidos 

Durante a semana, houve um aumento de 533% nos pedidos de café da manhã entre março de 2020 e o mesmo mês deste ano. Considerando o final de semana, o aumento foi ainda maior: de 468%. Outro momento a ser destacado foi o lanche da madrugada, que saltou 44% durante a semana nos meses analisados.  

“Para milhões de consumidores, o delivery era algo que remeta muitas vezes à pizza do fim de semana. A pandemia fez muitos desses clientes perceberem que o iFood é bem mais do que isso e que podia ser inserido no dia a dia dos brasileiros”, afirmou em nota. 

O movimento de alta continuou mesmo depois da flexibilização das medidas de restrição da pandemia. No Uber Eats, o faturamento mundial cresceu 75% no segundo trimestre de 2021, em comparação com o mesmo período do ano anterior. 

A designer de moda Amanda Mota e Mota, de 25 anos, foi uma das consumidoras que aumentou o consumo de delivery já neste ano. Ela conta que passou a pedir mais comida em julho, após conseguir um novo emprego. 

“Era mais prático nos finais de semana, já chegava na sexta cansada e sem saco pra fazer comida”, diz. Segundo ela, os pedidos ocorrem principalmente no período da noite, no jantar com seu namorado. 

Mais restaurantes 

A maior demanda de pedidos colaborou para um aumento no número de restaurantes aderindo às plataformas de delivery. No iFood, 110 mil novos restaurantes aderiram ao aplicativo desde março de 2020. 

“Mensalmente o iFood realiza cerca de 60 milhões de pedidos. Do total de pedidos, 16 milhões (~30%) foram realizados por restaurantes cadastrados no primeiro ano da pandemia no aplicativo, e que enxergaram na empresa uma saída para o seu negócio durante a pandemia”, informa a empresa. 

Também em nota, a Uber Eats pontuou que houve um crescimento de 80% no número de restaurantes na plataforma, muitos deles entrando no mundo digital pela primeira vez. 

Adaptação ao novo 

Para o CEO do grupo Menu Brands, Tiago Diógenes, o aumento da presença do delivery na vida dos consumidores já era esperado – tanto que a empresa investe apenas nesse ramo. Segundo ele, a pandemia acelerou um crescimento que o grupo já havia previsto para dois anos no período de seis meses.  

Ele destaca que não houve um movimento de altos e baixos no movimento, mas sim um crescimento constante. A empresa seguia em um crescimento de 30% ao ano em número de pedidos, mas, em 2021, esse número saltou para 93%. 

“É um novo hábito na vida das pessoas, o delivery chegou para ficar. As pessoas mudaram os hábitos, preferem ficar em casa em vez de sair. A vida das pessoas mudou e o delivery se adequa bem melhor a essa nova rotina de vida”, constata. 

A empresa teve um crescimento mais expressivo em número de pedidos que em faturamento. Tiago explica que houve uma redução de 15% no ticket médio gasto pelos consumidores, que buscam opções mais em conta no cardápio para driblar a inflação.  

Diante da maior demanda, a empresa acelerou a criação de novas lojas e está no processo de inauguração da quarta unidade em Fortaleza e com planos para expandir a operação para outra capital no Nordeste. 

Eric Dhaese, do Rappi, também relata que a plataforma passou por mudanças para conseguir atender à demanda.

"Tivemos que nos adaptar e investir rapidamente em nossa estrutura para poder atender a forte demanda gerada no início da pandemia, o que compreendeu ampliação de nossa equipe, tecnologia e estrutura", coloca.

Uma das inovações foi o Turbo-Fresh, serviço de entregas ultrarrápidas. Segundo Eric, houve um crescimento orgânico de 364% nos pedidos da modalidade em Fortaleza no período de três semanas. 

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