Ceará pode sofrer com redução da oferta de empregos de qualidade? Entenda

De acordo com Relatório da Organização Internacional do Trabalho, desaceleração econômica pode comprometer a justiça social

Escrito por Redação ,
Carteira de trabalho desgastada
Legenda: Nesse contexto socioeconômico, deve-se ampliar as desigualdades exacerbadas pela crise da Covid-19, de acordo com um novo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Foto: Natinho Rodrigues

Os efeitos da pandemia de Covid-19 e do conflito da Rússia contra a Ucrânia pressionaram uma desaceleração da economia global cuja consequência pode ser o agravamento da precarização do mercado de trabalho em 2023. A avaliação consta em relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), publicado na última semana.

Nessa conjuntura, os trabalhadores serão obrigados a aceitar empregos de menor qualidade, mal remunerados, precários e sem proteção social"

Contudo, o professor de Economia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Rafael Barbosa, acredita em impactos mais suaves para o Brasil e para o Ceará. Ele pondera que os países estarão compensando os caixas devido aos gastos com saúde durante a crise sanitária e lidando com a reorganização do mundo do trabalho pós-pandemia.

Por isso, espera-se uma recessão e, consequentemente, essa realidade provoca um cenário de desemprego. Para ele, trabalhadores de baixa escolaridade serão os mais impactados por esse novo contexto de "mercado pró-tecnologia".

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"O caso brasileiro é ainda um pouco mais complexo do que o global. A tendência mundial é ter gastado muito durante a pandemia, causando inflação. Agora, os países se reequilibram reduzindo a atividade econômica para a inflação não estourar", exemplifica. 

"No Brasil, em vez de o Governo, de certa forma, seguir o que está sendo feito no contexto global, a gente está acelerando um pouco mais. Foi aprovada a quebra do teto de gastos, da qual terá quase R$ 200 bilhões de recursos disponíveis, e o Bolsa Família foi retirado do teto", compara. 

Barbosa avalia que, se o governo conseguir sustentar essa política, haverá menos precarização. "Apesar de a gente estar caminhando para um momento de informalidade, isso tende a ser num ritmo menor", observa. Ele pondera, todavia, que a situação pode ser preocupante no longo prazo. 

Não sei qual é o pensamento do Governo Federal para tentar equilibrar as contas no futuro, mas, cada vez mais, está se tornando uma bola de neve difícil de controlar. E, se isso estourar, pode ser mais pernicioso para as pessoas mais pobres, porque virá acompanhado de falta de assistência somada a aumento de inflação"  
Rafael Barbosa
Professor de Economia da UFC

E o Ceará? 

Rafael Barbosa reforça que a expectativa para o Brasil é de ocorrer o mesmo fenômeno a ser notado globalmente, "mas numa velocidade menor", incluindo no Ceará. 

"No caso do Estado, temos, majoritariamente, o emprego localizado no setor serviços, que foi muito afetado tecnologicamente, mas, como haverá um reforço por parte do gasto do governo, a gente espera que, embora haja uma precarização do trabalho, não necessariamente isso repercuta em termos de precarização social", analisa. 

Conforme o relatório da OIT, além do desemprego, “a qualidade do emprego continua a ser uma preocupação fundamental para a justiça social”.

A crise da Covid-19 interrompeu os progressos alcançados na redução da pobreza durante a década anterior. Apesar de uma recuperação incipiente em 2021, a escassez contínua de melhores oportunidades de emprego provavelmente se agravará, aponta o estudo.

O texto também identifica uma nova metodologia para determinar as necessidades não atendidas relacionadas ao emprego – o déficit global de empregos.

Para além das pessoas desempregadas, o método inclui quem quer trabalhar, mas não procura vagas, seja por desânimo ou por terem outras obrigações, como responsabilidades de cuidados.

O déficit global de empregos ficou em 473 milhões em 2022, cerca de 33 milhões de pessoas a mais do que o nível de 2019.

Mulheres e jovens serão mais prejudicados, diz relatório

De acordo com o relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), a situação das mulheres e dos jovens no mercado de trabalho é mais crítica. Globalmente, a taxa da participação feminina foi de 47,4% em 2022, em comparação com a de 72,3% dos homens.

Essa diferença de 24,9 pontos percentuais significa que, para cada homem economicamente inativo, existem duas mulheres nessa situação.

As pessoas com idades entre 15 e 24 anos também enfrentam sérias dificuldades em encontrar e manter um emprego decente. A sua taxa de desemprego é três vezes superior à da população adulta.

Mais de um em cada cinco (23,5%) jovens está em situação de não estudar, não trabalhar e nem estar em treinamento (nem-nem).

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