Alta do dólar e protocolos são desafios para comércio na Black Friday
Além de o câmbio elevado limitar descontos em itens importados, lojistas têm desafio de evitar aglomerações. Setor diz estar preparado para atender os clientes seguindo as medidas e confiante com o desempenho das vendas
Mesmo com descontos que chegam a mais de 80%, para alguns produtos e serviços, a Black Friday 2020, realizada hoje (27), deverá refletir o impacto da alta do dólar ao longo do ano, reduzindo a margem dos varejistas para oferecer promoções, sobretudo de itens importados. Outro desafio para os lojistas será conciliar o grande movimento de pessoas, típico deste evento, com os protocolos que estabelecem o distanciamento social. Apesar desses entraves, a expectativa é que o evento siga a tendência de recuperação do comércio varejista observada nos últimos meses.
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"Do ponto de vista da pandemia, nós estamos preparados, seguindo todos os protocolos de higiene da mesma forma que estamos fazendo desde a reabertura das lojas", aponta Assis Cavalcante, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza. "Os colaboradores estão utilizando os EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), fazendo a higienização das mãos constantemente, assim como do piso das lojas. Então, estamos tendo todos os cuidados para que os consumidores sejam bem atendidos e possam fazer as compras com segurança", diz.
Com relação às promoções, Cavalcante diz que, nos casos em que não é possível oferecer grandes descontos, os lojistas buscam dar melhores formas de pagamento, como parcelamentos mais longos.
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Quanto à expectativa de vendas, ele diz que o setor está otimista. "Sabemos que, de julho a outubro, tivemos resultados até razoáveis, e agora em novembro vemos que o consumidor já começou a fazer as compras para o Natal", destaca Cavalcante.
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Uma pesquisa nacional realizada pela Sociedade Brasileira de Consumo e Varejo (SBVC), com 600 pessoas revelou que 100% dos entrevistados pretendem ir às compras na Black Friday. A intenção é gastar, em média, R$ 1.728,32, valor 30% maior que em 2019.
Impacto do câmbio
Após o dólar registrar uma alta de quase 50% ao longo do ano, chegando a pouco mais de 30% no acumulado até novembro, o consumidor poderá se frustrar tanto com descontos abaixo do esperado como pela menor disponibilidade de alguns produtos, devido ao aumento do custo de produção e à falta de matéria-prima. "Tivemos uma alta bastante expressiva do dólar e do euro neste ano, mesmo considerando a queda recente dessas moedas ante o real. Então, os importados serão bastante impactados", diz o economista Ricardo Eleutério.
Ele cita, por exemplo, produtos como vinhos e uísques, que costumam ter grande procura durante a Black Friday, e de alimentos como chocolates e doces em geral. "Será difícil fazer uma promoção maior desses produtos por conta da alta dessas moedas. Além disso, o mesmo deve acontecer com o segmento de eletrônicos, seja de importados ou com componentes importados, como celular, aparelhos de som, computadores", diz.
Segundo estudo feito para empresa de pesquisa GFK, na Black Friday do ano passado, 56% das unidades vendidas de itens eletroeletrônicos tiveram descontos acima de 5%. Para este ano, a expectativa é que, entre 40% a 42% das unidades, tenham esse abatimento. De acordo com a empresa, as quantidades de eletroele-trônicos vendidos com descontos, para faixas de 5% a 30%, equivalem a um terço do volume em promoção do mesmo período de 2019.
Apesar do cenário atípico deste ano, a maioria das empresas brasileiras tem perspectivas positivas com relação a vendas na Black Friday, de acordo com levantamento da Boa Vista Central de Proteção ao Crédito (SCPC). Segundo o estudo, feito com representantes dos setores do comércio, serviços e indústria, 66% das empresas acreditam que as vendas da data neste ano serão iguais ou superiores às de 2019.
Faturamento
De acordo com a pesquisa, as vendas da Black Friday têm uma representatividade de, em média, 5,7% no faturamento anual das empresas. No ano passado, essa média era de 3,7%, indicando uma maior importância da data este ano para as empresas, muito por conta do desempenho fraco nas vendas em datas comemorativas anteriores, afetadas pelas medidas contra a pandemia do novo coronavírus.
Aproximadamente, dois terços das empresas (69%) estão preparados para conceder crédito nesta Black Friday, número que chega a 81% nas empresas do comércio. Destes estabelecimentos, um terço afirma que precisará de apoio na concessão de crédito.
Comércio eletrônico
Para as vendas online, a expectativa do mercado é que as vendas deste ano batam recordes. Segundo a consultoria Ebit/Nielsen, o comércio online na Black Friday deste ano deve crescer 27% em relação a 2019, considerando as vendas de quinta e sexta-feira. Nos cálculos da Associação Brasileira de E-commerce (ABComm), o crescimento deve ficar em torno de 77% na comparação anual, contando as vendas de quinta até a próxima segunda-feira (30).
"Por conta da pandemia, a base de clientes brasileiros que passaram a usar o comércio eletrônico cresceu muito. E isso deverá dar um grande impulso para as vendas online neste ano, podendo superar as vendas do ano passado", diz Ricardo Eleutério.