Abratex vê riscos para indústria têxtil brasileira por investigação antidumping
Pedido da multinacional americana Unifi impõe tarifas sobre importações

De acordo com a Associação Brasileira dos Fornecedores de Matérias-Primas Têxteis (Abratex), uma nova investigação antidumping pode trazer riscos para a cadeia têxtil nacional. O processo, iniciado a pedido da multinacional americana UNIFI, ameaça impor tarifas de até 64,9% ou US$ 0,79/Kg (aproximadamente R$ 5/Kg) sobre a importação de fios de poliéster texturizados da China, componentes essenciais para a indústria têxtil brasileira.
Especialistas apontam que tal medida é potencialmente devastadora para a cadeia têxtil. Esta movimentação ocorre em um cenário externo já tenso, marcado pelo forte aumento da incerteza global, além de um cenário doméstico que começa a dar sinais de claro enfraquecimento da demanda interna, a partir de altas taxas de juros e inflação persistente. A coincidência temporal e a possíveis consequências da imposição de tal medida sobre um setor altamente intensivo em mão-de-obra, levanta questionamentos sobre o real interesse público de sua eventual aplicação.
Lucas Ferraz, ex-Secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia e professor da FGV, avalia:
"Esta investigação antidumping representa um retrocesso significativo para a competitividade da indústria têxtil brasileira," afirma Ferraz. "Impor tarifas tão elevadas em um insumo crucial vai na contramão de uma política comercial moderna e dinâmica, essencial para a inserção do Brasil nas cadeias de suprimentos internacionais”.
Ferraz destaca que a medida, se aprovada, poderia ter consequências de longo alcance: "Estamos diante de um cenário onde uma decisão mal calibrada pode não apenas encarecer produtos essenciais para o consumidor brasileiro, sobretudo de baixa renda, mas também comprometer milhares de empregos ao longo de toda a cadeia têxtil. É um exemplo claro de como o protecionismo em excesso pode, na verdade, ser contraproducente, levando à piora do quadro econômico de um setor tão importante para nossa economia”.
A Abratex corrobora a análise de Ferraz, enfatizando que o mercado brasileiro de fios texturizados já é diversificado e competitivo. A entidade alerta que a imposição de tarifas tão elevadas poderia desequilibrar toda a cadeia produtiva, com repercussões negativas para a economia brasileira como um todo. Além disso, a Abratex ressalta que esta é uma tentativa injusta de restringir a competitividade da indústria têxtil nacional.
A Unifi, empresa que solicitou a investigação, representa cerca de 15% da oferta do produto no mercado brasileiro, sendo um das únicas produtoras nacionais. Este dado evidencia a forte dependência do setor em relação às importações, que são essenciais para suprir a demanda interna. A imposição de tarifas antidumping na magnitude proposta elevaria os custos de produção em mais de 60%, um impacto que inevitavelmente seria repassado ao consumidor final.
A indústria têxtil brasileira, que emprega diretamente mais de 1,5 milhão de pessoas, depende desses insumos para manter sua produção competitiva. As tarifas propostas são exorbitantes e, se aprovadas, inviabilizariam a produção nacional de tecidos e malhas, resultando em aumento dramático de custos, inflação nos preços de vestuário e, potencialmente, na perda de milhares de empregos em todo o país.
É importante ressaltar que a decisão anterior de suspender medidas antidumping similares, tomada em 2023 e reafirmada em 2024, foi baseada em uma análise abrangente que considerou o bem-estar econômico de toda a cadeia produtiva do setor têxtil. A multinacional estadunidense Unifi peticionou através da ABRAFAS diversas vezes pela aplicação da medida protecionista, mas o governo entendeu que a imposição de tal medida seria mais maléfica do que benéfica ao setor têxtil e à economia do país, extinguindo a medida em agosto do ano passado.
A reabertura deste debate, especialmente por uma empresa estrangeira que representa uma parcela minoritária do mercado, parece desconsiderar o delicado equilíbrio do setor têxtil brasileiro e a importância crucial das importações para o abastecimento adequado do mercado nacional.
As associações, sindicatos e federações Sifitec, Sintex, Sinditec, Sindivest, Sindivestil, Abratex, Abicol, ACIBR, FIEMS e Fiesc apoiam este alerta.
Portal oficial da Abratex: https://www.abratex.org.br/
