Vacinar adolescentes é fundamental para volta segura às aulas em Fortaleza, alertam especialistas
70% dos alunos estão cadastrados para imunização contra a Covid-19, segundo prefeito; turmas de todas as séries retornam nesta segunda-feira (20) às salas de aula
Milhares de estudantes de todas as séries da rede municipal de Fortaleza estão, agora, a caminho ou já nas salas de aula. A partir desta segunda-feira (20), metade dos 240 mil alunos matriculados em escolas públicas estará em aula presencial e, a outra, em ensino remoto.
Com isso, a prefeitura concretiza a última etapa do cronograma de retorno às atividades de ensino in loco, com inclusão dos estudantes dos 6º, 7º, 8º e 9º anos e da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A retomada gradual iniciou no dia 8, pelas turmas do ensino infantil, e semanalmente novas séries foram incluídas.
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Na sexta-feira (17), o governador Camilo Santana anunciou que as salas de aula poderiam voltar a atuar com 100% da capacidade, mas de acordo com a Secretaria de Educação de Fortaleza (SME), o plano municipal não será alterado.
“Estão respeitando as novas regras”
A professora Jéssica Rodrigues, 30, que leciona em turmas infantis da rede municipal, relata que o retorno às salas tem sido “tranquilo”. “A turma está dividida em dois grupos, e nem todos os alunos estão indo. Todos os protocolos estão sendo respeitados”, pontua.
O maior desafio em relação às crianças, porém, é quanto ao uso da máscara. “Algumas ficam baixando e temos que pedir para usarem de forma correta. Mas, até agora, eles respeitam as novas regras direitinho”, comemora.
Na escola em que Jéssica leciona, no bairro José Walter, o momento de lanche dos estudantes, nessa semana, foi realizado em sala de aula. “A escola vai fazer diferentes horários de recreio, para que não haja aglomeração. Acredito que o maior desafio será neste momento”, projeta.
Eles estão bem animados, pois alguns não tinham condições de participar das aulas online. Outros dizem que aprendem melhor na sala de aula, pois em casa é barulhento. Finalizei a primeira semana hoje, foi tranquila.
"A diferença está no medo de contaminação"
A também professora Kelly Rayol, que leciona em um Centro de Educação Infantil (CEI) de Fortaleza, confirma que "o retorno presencial está sendo tranquilo", mas menciona "as dificuldades de readaptação dos alunos".
Segundo ela, os pequenos estão inquietos, e as famílias ainda não frequentam a escola com tranquilidade, apesar das medidas sanitárias.
Os protocolos estão sendo seguidos, estamos trabalhando com todos os EPIs exigidos. É muito desafiador, para nós professores e pros alunos, acostumar com esse novo tempo"
Para Gabriel, 8, que cursa o 2º ano do ensino fundamental na rede pública municipal, retornar às aulas presenciais “foi importante demais pra ver pessoas e voltar a ter uma rotina”, como afirma a mãe, a vendedora Mariana Freitas, 35.
“No colégio, tem os amigos, os professores, as brincadeiras. Em casa, ele acabou ficando muito só, porque temos só ele de criança. E ainda teve as dificuldades nas aulas online”, relembra a mãe, garantindo que deu “todas as orientações pra ele não tirar a máscara e não ficar abraçando os colegas”.
Vacinação é fundamental
Professores ouvidos pelo Diário do Nordeste ainda em julho descreveram a mistura de ansiedade, expectativa e medo pelo retorno às salas de aula, diante da ainda baixa taxa de imunização de crianças e adolescentes contra a Covid.
Caroline Gurgel, virologista, epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), avalia que a possibilidade de transmissão do coronavírus nas escolas será pequena, desde que todos os protocolos sejam seguidos.
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“Se houver distanciamento, as crianças e adolescentes não se abraçarem, permanecerem de máscaras adequadas o tempo todo, removendo apenas para comer ou beber água, reduz bastante a transmissão”, lista.
O problema, ela alerta, é que o longo período sem convívio dificulta o cumprimento das medidas entre o público infantojuvenil. “É difícil ver os amigos e não abraçar, beijar, não ficar próximo e em grupo. Isso é intrínseco ao ser humano, e é mais forte ainda na adolescência”, reconhece.
A pandemia não vai passar tão cedo, será necessário aprendermos a conviver. A adoção de hábitos de higiene e protocolos é o que vai fazer com que se reduza o número de casos a níveis tranquilos.
Apesar de reforçar que a taxa de incidência e de mortalidade por Covid entre crianças e adolescentes é baixa, a epidemiologista reforça a importância de ampliar a vacinação dessa faixa etária com as duas doses do imunizante, já que ela é potencial transmissora.
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“Crianças podem passar até três semanas excretando vírus respiratórios, assintomáticas, por isso a máscara é importante. Seguindo os protocolos, não acredito que a volta às aulas causará prejuízo epidemiológico, e ainda vai ter uma vantagem psicológica para as crianças, que ficaram tanto tempo dentro de casa”, finaliza Caroline.
A importância de Fortaleza avançar com a vacinação do público entre 12 e 17 anos de idade, “potencial transmissor e portador assintomático, é frisada também pela pediatra Vanuza Chagas – não só em prol da imunidade coletiva, mas da proteção deles de forma mais graves da Covid.
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“Com a imunização dos adultos e a volta às aulas, a não vacinação dos adolescentes os torna vulneráveis à Covid-19, principalmente diante do aparecimento de novas cepas. Além disso, as atividades estão mais flexibilizadas, permitindo festas, que são mais comuns entre esse público”, salienta a médica.
O retorno às aulas nesse momento em que se discute a imunização dos adolescentes, aliás, é uma oportunidade de inserir a temática no ambiente escolar, uma vez que as coberturas vacinais para diversas doenças teve queda alarmante no Ceará, nos últimos anos.
Em locais onde os serviços de saúde vão até a escola, fazem ações conjuntas dentro desse ambiente de educação, se tem uma melhor cobertura vacinal. Isso é muito importante.
Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, o prefeito de Fortaleza, Sarto Nogueira, garantiu que “mais de 70% dos estudantes de 12 a 17 anos estão cadastrados para receber a vacina contra a Covid”. A decisão do Ministério da Saúde de suspender a aplicação, segundo gestor municipal, “não coloca em risco” o retorno pleno das aulas in loco.
Cronograma de volta às aulas
O segundo semestre letivo de 2021 das escolas municipais iniciou no dia 29 de julho, de forma remota. Até o dia 13 de agosto, profissionais da educação e familiares passaram por formações para o novo momento, de acordo com a prefeitura.
Entre os dias 17 e 27 de agosto, foi aplicada pelo Município uma avaliação diagnóstica para “identificar os níveis de aprendizado dos estudantes”, como explicou, na ocasião, a secretária Dalila Saldanha.
A fase de testes das aulas presenciais começou neste mês, no dia 8, e segue, semanalmente, avançando por etapas. Relembre:
- 1ª etapa: iniciou no dia 8 de setembro, com retorno presencial das turmas dos infantiis III e V, e dos 1º e 2º anos do Ensino Fundamental, cerca de 33% dos alunos matriculados;
- 2ª etapa: começou em 13 de setembro, com inclusão dos alunos dos infantis I e II, e 3º, 4º e 5º anos do Ensino Fundamental, cerca de 61% dos estudantes da rede municipal;
- 3ª etapa: iniciada nesta segunda-feira (20), com a volta dos estudantes dos 6º, 7º, 8º e 9º anos e da Educação de Jovens e Adultos, completando 100% dos alunos.