Leishmaniose em cães: saiba o que é, sintomas, prevenção e tratamento

Anualmente, conforme o Ministério da Saúde, cerca de 3.500 casos da doença são registrados no Brasil

Escrito por
Matheus Facundo matheus.facundo@svm.com.br
(Atualizado às 18:31)
Foto de cão recebendo coleira antiparasitária em Fortaleza para matéria sobre Leishmaniose em cães.
Legenda: Em Fortaleza, há campanhas de encoleiramento antiparasitário, que é a melhor forma de prevenção da doença.
Foto: Rodrigo Carvalho.

Zoonose que infecta humanos e cães, a leishmaniose é causada por um protozoário e pode ser letal quando não diagnosticada e tratada corretamente. Os sinais mais comuns em cachorros são lesões, emagrecimento, descamação da pela, diarreia e apatia. A enfermidade se tornou endêmica no Brasil, e não se restringe mais a regiões específicas.  

Segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o Brasil concentra 96% dos casos de Leishmaniose Visceral nas Américas. Anualmente, conforme o Ministério da Saúde, cerca de 3.500 casos da doença são registrados, tanto em animais quanto em humanos. 

O Diário do Nordeste conversou com Romeika Reis e Kátia Soares, médicas-veterinárias e especialistas no tema, e preparou um guia sobre a doença em cães.  

O que é leishmaniose em cães?

Por serem muito próximos de humanos, os cães são os principais reservatórios urbanos de leishmaniose, segundo Romeika Reis, médica-veterinária e membro do Brasileish – Grupo de Estudos de Leishmaniose Animal. Esses animais são acometidos com a forma visceral da doença.  

Quais os principais sintomas da leishmaniose em cães?  

Segundo o Brasileish, os principais sintomas da leishmaniose em cães são:  

  • Linfadenopatia generalizada (inchaço de gânglios);
  • Emagrecimento;
  • Alterações de apetite;
  • Letargia;
  • Palidez de mucosas;
  • Poliúria (xixi excessivo) e polidipsia (ingestão de água excessiva);
  • Febre;
  • Vômito;
  • Diarreia;
  • Dermatites;
  • Conjuntivites.

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É perigoso viver com cachorro com leishmaniose?  

Foto de cachorro da cor carmelo de coleira e roupinha. O animal está com a língua para fora e é há uma pessoa ao fundo segurando ele para matéria sobre Leishmaniose em cães.
Legenda: A prevenção contra a leishmaniose deve ocorrer desde os primeiros meses do cachorro.
Foto: Divulgação/Sepa.

Sim. Caso um cachorro não tenha o tratamento adequado, os sintomas da leishmaniose canina podem piorar e levar ao óbito. De acordo com a veterinária Romeika Reis, o Brasil ainda possui uma política canicida, que prefere sacrificar os cães, e isso deve mudar, pois é possível o cachorro sobreviver ao tratamento. 

“Nós precisamos mudar esse cenário cada vez mais. Hoje já temos campanhas de encoleiramento público, mas precisamos que isso seja mais constante e presente, pois não basta uma única coleira ou um único ciclo. É necessário fazer um ciclo de dois anos para termos uma redução dos números. É um trabalho árduo de repetição de educação à população”, comenta a veterinária do Brasileish, em entrevista ao Diário do Nordeste.  

Quem transmite a doença? 

Cães são infectados com leishmaniose pela picada de um flebotomíneo fêmea, popularmente conhecido como mosquito-palha. Esses mosquitos são vetores do protozoário Leishmania infantum e Leishmania braziliensis, causadores da doença.  

Qual o tratamento para os cães afetados?

Cães que testarem positivo para o leishmania, devem ser tratados com imunoterapia combinada de dois medicamentos: o alopurinol e a miltefosina, aprovados no Brasil para essa terapia. As medicações irão controlar a doença e melhorar os sintomas da leishmaniose no cachorro, mas não vão curar o animal.  

"Todos os animais positivos têm que ser tratados corretamente e também utilizar inseticidas para impedir o mosquito de picá-los e transmitir para outros animais", comenta Kátia Soares. 

É necessário ainda que cães positivos para a doença sejam retirados de programa de reprodução e doação de sangue

Saiba como prevenir a leishmaniose em cães  

A leishmaniose é a segunda doença parasitária que mais mata pessoas no mundo, atrás somente da malária, de acordo com a veterinária Kátia Soares, da MSD Saúde Animal, a prevenção é melhor forma de mitigar esse problema.  

A prevenção contra a leishmaniose em cachorros é feita por meio do encoleiramento antiparasitário. Nesses tipos de coleira, são liberados gradualmente substâncias ativas que matam ou repelem o mosquito infectado e ainda pulgas e carrapatos que queiram se instalar no animal. O princípio ativo do medicamento deltrametrina presente na coleira se espalha na pele e nos pelos do cão. 

“É um produto que vai na pele, que tem ação repelente contra esse mosquito e que também mata esse mosquito. Esse é o método primário de prevenção, é, de fato, o que os especialistas preconizam”, explica Kátia.  

Outra forma de prevenção contra a infecção é descartar lixo adequadamente na casa de tutores. Segundo a veterinária, o acúmulo de dejetos em locais impróprios pode atrair o mosquito transmissor e fazer com que ele se prolifere e coloque ovos. 

Há diversos modelos de coleiras antiparasitárias no mercado. O Diário do Nordeste, inclusive, participou do lançamento da Ectofend, uma nova coleira desenvolvida pela Zoetis e que garante seis meses de proteção.  

O medicamento tem 4% de deltrametrina e é repelente contra o mosquito-palha e possui ação ectoparasiticida, e ainda indicação de controle de infestações causadas por pulgas e carrapatos. 

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Tem tratamento gratuito para leishmaniose canina? 

Dois voluntários participam de ação comunitária de cuidado animal ao ar livre. Um deles examina o pescoço de um cão, enquanto o outro segura um balde verde com suprimentos. Ao fundo, há outro cão e mais pessoas envolvidas na atividade. Imagem usada para matéria sobre Leishmaniose em cães
Legenda: O Governo do Ceará possui campanhas de encoleiramento de animais contra a leishmaniose.
Foto: Divulgação/Sepa.

Sim. Em Fortaleza, por exemplo, tanto a Prefeitura quanto o Governo do Ceará possuem atendimento veterinário gratuito por meio de clínicas populares e hospitais universitários, que podem ser consultados por meio dos sites oficiais das secretarias de proteção animal

Na prevenção, as gestões municipal e estadual também promovem mutirões de encoleiramento antiparasitário gratuito, mas é preciso estar atento às redes sociais e sites para saber da programação. 

Tem cura para a leishmaniose canina?  

Não há cura para esta doença, mas um tratamento da leishmaniose canina no tempo correto e vigilância dos tutores garantirá qualidade de vida para o animal.  

“A gente sabe que o tratamento que existe hoje, mas ele não é um tratamento curativo. O que isso significa? O animal, uma vez infectado, para sempre ele estará infectado. A ideia do tratamento é que aquele animalzinho consiga controlar melhor essa infecção e que ele tenha menos manifestações clínicas, ou que ele não tenha manifestação clínica”, indica a médica veterinária.  

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