A leishmaniose era, até pouco tempo, motivo de desespero para os tutores devido à gravidade. A eutanásia era a principal orientação por conta das poucas possibilidades de tratamentos.
Tudo mudou em 2017, quando foi autorizada a realização dos tratamentos, já que a doença não tem cura e nem vacina disponível. É o que explica o médico veterinário Tiago Ferreira.
"A partir desses novos tratamentos, a gente consegue melhorar a sobrevida desses animais. A taxa de sucesso do tratamento varia entre 70% e 80%, dependendo da gravidade das lesões e dos órgãos alterados. Agora, a leishmaniose não é uma sentença de morte pro animal"
Para além dos cuidados após o diagnóstico positivo, há também a necessidade de uma maior conscientização sobre a prevenção e a gravidade dessa doença.
"Essa doença é capaz de gerar uma série de alterações no corpo dos animais. Tanto externamente, na pele, quanto internamente, em diversos órgãos como fígado, baço, rins... E o conjunto dessas alterações normalmente traz um risco de vida pro paciente", alerta Tiago.
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E ainda segundo o médico veterinário, o tratamento é possível, mas ainda esbarra em dificuldades. "O tratamento da leishmaniose não é fácil, não é barato, não é simples, mas ele é um tratamento possível". Conheça abaixo a história de dois cães que convivem com a doença.
O Rubídio é um vira-lata caramelo que vivia livremente pelo campus da Universidade Federal do Ceará. Em 2019, foi adotado e, em seguida, diagnosticado com leishmaniose. Um tratamento assertivo para o paciente logo foi iniciado pelo veterinário Tiago Ferreira.
"O tratamento conta com uma combinações de drogas e de medicamentos pra imunidade. Desde então, esse paciente segue bem. No meio do caminho, às vezes, ele acaba tendo recaídas e piora o quadro de saúde em determinados aspectos como a pele, o sistema locomotor, ou seja fica mancando, entre outras coisas"
As recaídas são esperadas e são monitoradas pelos médicos, afinal é uma das consequências dessa doença crônica, segundo o veterinário. "Ele passa por avaliação a cada quatro meses e a gente fica fazendo o monitoramento através de exames de sangue, exames de ultrassom, exames de urina e outros".
A tutora do pequeno Téo nem queria abrir o resultado dos testes para leishmaniose. A ideia foi enviar o documento para o amigo e veterinário Tiago Ferreira para que ele pudesse ver primeiro e dar a notícia. "Quando contei do resultado positivo, ela começou a ficar desesperada, chorou e eu falei: calma, vai dar tudo certo. A gente vai entender como é que a doença está se apresentando nele pra então seguir no tratamento".
Téo foi diagnosticado em 2018 e segue o tratamento com uma carga parasitária muito baixa. "O último exame dele faz umas duas semanas, aproximadamente, e a carga parasitária continua muito baixa. A gente não tem problemas com ele. Existe vida após o calazar".
De acordo com o boletim epidemiológico divulgado em 2023, de janeiro de 2018 a dezembro de 2022, foram diagnosticados 2.437 casos, com uma média de 487 casos ao ano, sendo registrados 644 casos em 2021 e 431 em 2022.
No estado do Ceará, quase todos os casos foram da forma clínica cutânea (96,5%), sendo as maiores proporções detectadas nas Regiões Norte (97,7%) e Fortaleza (97,1%). A proporção da forma mucosa foi de apenas 3,5% no estado, sendo mais comumente detectada na região do Cariri (7,3%).
A melhor forma de evitar a doença é evitar a proliferação dos mosquitos-palha. Em locais onde há muita proliferação dos insetos, o ideal é ter tela nas casas e janelas, usar mosquiteiro, aplicar repelente, usar a coleira específica e manter sempre o ambiente limpo, não acumulando lixo.
Existia, ela foi retirada do mercado pelo Ministério da Saúde, de acordo com o veterinário. Com isso, a ideia é focar na prevenção.
Sim, essa doença é classificada como zoonose, ou seja, pode ser transmitida de animais para humanos ou vice-versa. Mas, a transmissão só ocorre através do mosquito-palha que precisa entrar em contato com o agente infectado para infectar outro. Se não for tratada, a doença pode ser fatal em 90% dos casos.