Redação do Enem 2021: professores citam surpresa, mas dizem que repertório do assunto é vasto

Prova abordou questões do registro civil e invisibilidade no Brasil, com viés da garantia de acesso à cidadania

Legenda: Tema surpreendeu professores, mas eles avaliam que alunos podem se sair bem desenvolvendo o assunto. Tema da redação do Enem 2021 é considerando pertinente diante do contexto de pandemia
Foto: Almir Gadelha

A redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021, inclusa entre as provas deste domingo (21), pediu aos candidatos a produção de texto dissertativo-argumentativo sobre “Invisibilidade e registro civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil”.

O tema foi anunciado oficialmente pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, nas redes sociais e, segundo professores ouvidos pelo Educalab, apesar de surpreendente, o assunto pode render boas formulações.

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É nisso que acredita João Filho, professor de redação e linguagens. Ele ressalta que o tema pode não ter sido exaustivamente discutido em salas de aula, mas o eixo no qual está disposto tem material suficiente para servir como base de argumentação.

"O recorte temático do Enem sempre traz a questão da inclusão. Embora esse especificamente não tenha sido trabalhado, o aluno pode ter reproduzido alguns repertórios ao longo do ano que podem servir de suporte para esse tema", opina o especialista.

Segundo o professor, o assunto em questão pode ser definido como "complexo", porém sem estar fora da curva de aprendizado. Nesse caso, ele explica, as argumentações baseadas no contexto geral da sociedade podem auxiliar na questão da especificidade.

"Por exemplo, nós tocamos recentemente em sala de aula sobre o Estado como provedor assistencial em momentos de crise, citando programas como o Bolsa Família, e acabamos falando de pessoas que são invisíveis ao Estado, que nao são reconhecidas. Isso acaba servindo como base", pontua. 

Enquanto isso, segundo Eveline Valério, professora de Redação do Colégio Antares, a discussão proposta possui altíssima relevância, visto que todo brasileiro, para ter seus direitos como cidadão garantidos, precisa do registro civil. 

"Acredito que os alunos conseguirão desenvolver os textos, incluindo, até mesmo, a presença dessa necessidade para obter acesso aos benefícios do governo no atual momento pandêmico", ressaltou.

Assunto é pertinente

A professora de Língua Portuguesa e coordenadora de Linguagens e Códigos da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Jenny Gomes, Lúcia Regina Rodrigues, corrobora a avaliação de que o tema não era esperado. "Eu confesso que apostava na área tecnológica para o tema deste ano".

Lúcia Regina considera, porém, que o assunto é muito pertinente diante da realidade imposta pela pandemia e que pode ser muito bem desenvolvido caso os alunos façam um bom aproveitamento dos textos norteadores.

"Estamos passando por um processo de pandemia, e a população precisou mais do que nunca ter a documentação em dia para o acesso a recursos básicos como saúde e benefícios sociais", explica a professora.

Ela também pontua que o tema, apesar de surpreender de certa forma, foi trabalhado indiretamente pelos professores em sala de aula.

"Acredito que os professores indiretamente abordaram esse assunto em sala de aula, porque para receber o auxílio emergencial, cesta básica e para ter acesso à saúde, o cidadão precisou ter registro civil", analisa Lúcia Regina Rodrigues. "O número de pessoas não registradas é muito alto, é uma discussão que vai muito além da prova do Enem", reforça.

Ela acredita, portanto, que o tema será facilmente desenvolvido pelos alunos. "Lembrando que é importante que eles não deixem de usar nos textos as palavras-chave, como 'invisibilidade' e 'garantia', explicando o que é essa invisibilidade e as garantias ao cidadão a partir do registro civil".

Enem 2021

O Enem 2021 é aplicado para mais de 3 milhões de estudantes em todo o País. Neste primeiro dia, os participantes fazem as provas de linguagens, ciências humanas e redação. No segundo, o próximo domingo (28), matemática e ciências da natureza.

O exame seleciona estudantes para vagas do ensino superior públicas, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), para bolsas em instituições privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni), e serve de parâmetro para o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Os resultados também podem ser usados para ingressar em instituições de ensino portuguesas que têm convênio com o Inep.


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