Wilco chega aos 25 anos de estrada com o irregular 'Ode to Joy'; Veja outros lançamentos

11º disco de estúdio aponta um breve retorno às origens acústicas que fizeram da banda um dos grandes nomes da cena independente

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Legenda: Pat Sansone, Jeff Tweedy, Glenn Kotche, John Stirratt,Mikael Jorgensen e Nels Cline: Wilco preso a uma constante fórmula criativa
Foto: Annabel Mehran

A estrada percorrida pelo Wilco reflete boa parte dos destinos assumidos por Jeff Tweedy. Figura central, voz e encarnação da mistura entre melancolia, sutileza e entrega às raízes da sonoridade folk norte-americana, o músico é uma espécie de termômetro e farol das muitas fases enfrentadas pela banda ao longo dos 25 anos de existência. Hoje, sexteto, o grupo oriundo de Chicago solta no mercado o 11º álbum de estúdio, "Ode to Joy".

O trabalho eclode a partir da possível mediação dos interesses pessoais de Tweedy e dos parceiros John Stirratt (baixo), Nels Cline (guitarra), Glenn Kotche (bateria), Pat Sansone (gutiarra) e Mikael Jorgensen (pianista). Olhando superficialmente, fica a impressão de que o Wilco seja uma instituição dominada pelo homem de frente e principal compositor. De certo, "Ode to Joy" sucede "Schmilco" (2016) e acontece quase paralelamente ao lançamento de três discos solos de Tweedy, "Together at Last" (2017), "Warm" (2018) e "Warmer" (2019).

A batalha pessoal do músico contra a depressão e ansiedade foi encapsulada como parte do contexto criativo responsável pelo sucesso do Wilco. A safra de reconhecimento e elogios, tão marcante nos primeiros anos dos 2000, parece ter estacionado após o disco homônimo de 2009.

De lá para cá, o sentimento é que a banda fixou uma fórmula produtiva imutável e mais preocupada em operar para quem já fosse fã da obra. Tal aura de conforto adentra a curiosa impressão de que o Wilco tornou-se um time de músicos individualmente geniais, porém distantes de elaborar peças coletivas tão tocantes como em jornadas anteriores.

Percurso

A competência musical de "Ode to Joy" é inquestionável. As audições insinuam um conjunto de trilhas virtuosamente bem concebidas e orquestradas, porém pouco inspiradas. A bela "Bright Leaves" finca residência no fiapo de voz entristecido do vocalista. É um acerto. Em seguida, "Before Us" contempla um mesmo processo construtivo ao explorar violões, percussão discreta e um coro de vozes quase gospel.

De cara, "One and a Half Stars" é uma das peças que melhor se encaixam do conjunto acústico desenvolvido nos primeiros minutos da obra. "Quiet Amplifier" propicia uma queda brusca no material. Rapidamente esquecida, dá lugar a "Everyone Hides", faixa que resgata o tom solar da safra fincada entre os álbuns "The Whole Love" (2011) e "Star Wars" (2015). Não decepciona.

"White Wooden Cross" emula bênçãos a George Harrison (1943-2001) e pouco escapa do regular. "Citizens" é uma daquelas crias apáticas e fica mais próxima de uma sobra de lados b. "We Were Lucky" confirma que os trabalhos em "Ode to Joy" não ultrapassam a zona de conforto cimentada pelo Wilco. Destaque entre os singles de divulgação, "Love is Everywhere (Beware)" tenta reforçar o frescor da criação coletiva entre o seis e falha. "Hold Me Anyway" e "An Empty Corner" completam sem maiores surpresas o disco.

Wilco continua um nome relevante e com a força de ser um conjunto discreto, avesso a badalações e capaz de produzir músicas incrivelmente bem executadas. "Ode to Joy" talvez sinalize a necessidade do grupo em escapulir da zona de conforto.

Ode to Joy
Wilco

dBpm
2019, 11 faixas
$10.99 (Importado)

O retorno triunfante de Kim Gordon

Legenda: Multiartista gravou o álbum logo após voltar para a cidade natal, Los Angeles, em 2015
Foto: Natalia Mantini

Durante três décadas, a entidade Kim Gordon foi uma das principais forças sonoras do Sonic Youth. A voz dilacerante, por vezes fantasmagórica, as bases musicais criadas no baixo eram um contraponto ao trabalho dos parceiros Thurston Moore, Lee Ranaldo e Steve Shelley. Também sinônimo de família, a banda ruiu após a separação do casal Kim e Moore em 2011.

A baixista e cofundadora prosseguiu o caminho enquanto artista visual, designer de moda, atriz e ainda publicou o livro de memórias "A Garota da Banda". Entre quedas e renascimentos superou um câncer e voltou ao cenário musical com o projeto Body/Head, realizado com o guitarrista Bill Nace. A iniciativa experimental rendeu três registros: "Coming Apart" (2013), "No Waves" (2016) e "Last Time" (2018).

Dona de uma produção artística fértil e capaz de atravessar decepções e renascimentos, Kim faz a estreia solo com "No Home Record". Ao todo, o material conta com nove faixas que resultam da colaboração com o produtor Justin Raisen (Sky Ferreira, Yves Tumor e Ariel Pink).

Liberdade

A pegada nervosa e punk tão características dos tempos de Youth segue como uma raiz para o debut. Grande parte do estranhamento proposto por Kim se conecta com as batidas eletrônicas de Raisen. Quem explica bem a proposta é o single "Murdered Out". Produzido pela dupla em 2016, a música foi um anúncio das intenções da cantora e integra o disco de 2019.

Cordas melancólicas anunciam "Sketch Artist" e a colagem de loops chega ao ápice com a inserção de rápidos e soturnos acordes. "Air BnB" dialoga ironicamente com a Kim de estações passadas e inclui um refrão furioso. "Paprika Pony" se destaca no casamento de pianos e sussurros.

A artista segue livre e dominante com a já citada "Murdered Out" até colidir na mistura industrial electro de "Don't Play It". A estranha cria "Cookie Butter" destoa da levada até convencional de "Hungry Baby". As composições "Earthquake" e "Get Yr Life Back" concluem a obra solo de uma Kim Gordon instigada, inserida em outro cenário musical e ainda inspiradora.

No Home Record 
Kim Gordon 

    

Matador 
2019, 9 faixas 

LANÇAMENTOS

Corpo Possível
Bruna Mendez

A cantora e compositora goiana navega na dualidade entre elementos orgânicos e sintéticos. O segundo trabalho de estúdio traz a participação especial da banda curitibana Tuyo e entre os destaques da suave voz de Mendez estão as canções "Avisa", "Corpo Miragem", "Pele de Sal" e a poderosa "Imagem (Em mim).

Independente
2019, 11 faixas

Não Vejo a Hora
Humberto Gessinger

O veterano se une a dois power trios para compor as canções do sucessor "Insular", de 2013. Um primeiro núcleo, elétrico, conta com Rafa Bisogno (bateria) e Felipe Rotta (guitarra). Na outra metade da gravação, Gessinger investe no acústico ao lado de Nando Peters (baixo) e Paulinho Goulart (acordeon).

Deck
2019, 11 faixas

Somebody's Knocking
Mark Lanegan Band

Considerada uma das maiores vozes de sua geração, Lanegan adentra um território menos sombrio e ainda mais repleto de incursões eletrônicas. Safo em tal território, consegue a mesma qualidade dos materiais lançados no formato banda. Gravado em apenas 11 dias, o disco tem boas surpresas como "Penthouse High" e "Night Flight to Kabul".

Heavenly
2019, 14 faixas

Vagabon
Vagabon

Lætitia Tamko retorna e adianta uma busca por novas possibilidades e ritmos. A cantora e compositora de origem camaronesa atravessa delicadamente instrumentais que vão do R&B ao rock minimalista. Sintetizadores marcam presença em "Water Me Down" e a multi-instrumentista brilha em "Every Woman" e "Flood"

Nonesuch
2019, 10 faixas

 

 

 

 

 

 

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