Livro reúne relatos e imagens do desaparecimento e recuperação da escultura "La Femme Bateau"

Obra é marca da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará

Escrito por Wolney Batista , wolney.santos@verdesmares.com.br
Legenda: Livro traz relatos e fotografias da operação para içar do mar, em março de 2018, a escultura "La Femme Bateau", que estava afixada no mar da Praia de Iracema
Foto: Foto: Gentil Barreira

Quando o guarda-vidas José de Alencar emergiu do mar revolto na Praia de Iracema e sinalizou positivamente, em março do ano passado, chegava ao fim a apreensão com o desaparecimento da escultura "La Femme Bateau". A obra havia sido arrancada da estrutura durante uma ressaca do mar, no início daquele mês, e, desde então, uma comoção pública acompanhava a operação de resgate.

Os detalhes do naufrágio e recuperação da estrutura permeiam as 88 páginas do livro homônimo da obra, que será lançado hoje, às 20 horas, na programação da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, no Centro de Eventos do Ceará (CEC). A arte feita pelo cearense Sérvulo Esmeraldo (1929 - 2017) é a marca do evento nesta edição.

A obra literária é composta por nove textos publicados, na época, por artistas e jornalistas. Entre eles, um artigo do diretor de teatro Ricardo Guilherme, um poema do compositor e cantor Ednardo e uma crônica de Ana Miranda, impressa em sua coluna no Diário do Nordeste.

"Para mim, aquele momento foi muito simbólico porque teve a grande angústia de você ver a escultura desaparecer da paisagem em tão pouco tempo. Mas também me trouxe uma grande esperança e sensação nova que foi ver o poder que uma obra de arte tem de mobilizar a cidade, os meios de comunicação de massa e as mídias sociais", exprime Dodora Guimarães, viúva de Sérvulo, curadora de arte e presidente do Instituto Sérvulo Esmeraldo.

Ela é também a responsável pela seleção dos escritos que compõem o livro, ao lado do pesquisador e professor Gilmar de Carvalho.

"Nós fizemos uma sequência cronológica, de acordo com a data de publicação. O Gilmar e eu queríamos dar conta da emoção do momento. De como os textos foram reconstituindo dentro do imaginário da população", conta a organizadora do livro.

A edição é recheada ainda por imagens do fotógrafo Gentil Barreira, impressas no livro, e por código QR Code que dá acesso ao documentário sobre "La Femme Bateau", do videomaker e fotógrafo Tibico Brasil. "Eles deram plantão lá na praia desde o início da operação de resgate, na manhã do dia 5, até a tarde do dia 7", ressalta Dodora. Reproduções de matérias jornalísticas do período também integram o livro.

Sobre a importância da escultura para o acervo do artista e para os fortalezenses, a curadora divaga. "As obras são como filhos, são iguais aos olhos dos pais. Todas as obras do Sérvulo têm o mesmo peso artístico porque ele foi muito criterioso e aplicado ao trabalho dele. No entanto, nesse contexto, a Femme Bateau é uma das obras que conquistou a cidade. Talvez por ter esse grande poder de sedução, por ser meio barco, meio mulher, por ser uma biruta, por estar no mar ou por surgir no horizonte".

Ano comemorativo

O livro é o primeiro lançamento de uma série prevista para o "Ano Cultural Sérvulo Esmeraldo", promovido a partir de fevereiro pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult). "Nós temos, inclusive, uma coleção para crianças. Queremos fazer ainda esse ano, com autores cearenses", adianta Dodora.

A programação terá também o Festival Sérvulo Esmeraldo 90, em novebro, no Crato, que será composto por seminário de arte, curso para professores de arte do ensino fundamental, residências artísticas, uma exposição coletiva e outra individual do artista Maciej Babinski. Outro destaque é a inauguração do ateliê Sérvulo Esmeraldo, em fevereiro de 2020, mês que marca o fim do ano comemorativo.

La Femme Bateau

Organização: Dodora Guimarães e Gilmar de Carvalho

Instituto Sérvulo Esmeraldo 2019, 88 páginas

R$ 33