Artesanato gera emprego e renda para 45 mil pessoas em Fortaleza

Além de fazer a alegria de turistas nacionais e internacionais e cidadãos cearenses, a produção de elementos típicos da cultura local garante a sobrevivência de milhares de famílias na Capital

Escrito por Bernadeth Vasconcelos , bernadeth.Vasconcelos@verdesmares.Com.Br
Legenda: O artesão Sérgio Gonçalves aprendeu com a mãe a fabricar garrafinhas de areia.
Foto: Foto: Camila Lima

Renda, garrafinhas de areia, redes bordadas a mão. Artesanato que valoriza a cultura cearense e aquece a economia, gerando emprego para quase 45 mil pessoas somente na Capital. São artesãos que trabalham na feirinha da Beira-Mar, Mercado Central, Centro de Turismo do Ceará (Emcetur) e Central de Artesanato do Ceará (Ceart).

Do total, a Ceart possui 42 mil permissionários registrados, enquanto a Emcetur conta com cerca de 300 profissionais, incluindo artesãos e comerciantes. Já a feirinha da Beira-Mar, que funciona há 36 anos no cartão-postal da cidade, conta com 663 feirantes atualmente, de acordo com Djalma Rios, presidente da Associação de Feirantes da Beira-Mar (Asfabem). Além disso, são mais de oito mil pessoas envolvidas na confecção e venda dos produtos. "Por detrás desse pessoal têm as famílias, aqueles que fabricam ou compram produtos para revender, dá um movimento muito grande de pessoas. É uma ciranda financeira", comenta.

O presidente da Asfabem explica que a renda dos comerciantes da feira depende do fluxo de turistas no local, que varia entre quatro a oito mil pessoas de acordo com a temporada. "Em um ano com boa movimentação, se um feirante tiver renda mensal de R$ 3 mil, isso gera R$ 1 milhão por mês", aponta.

Ainda conforme o presidente da Asfabem, os produtos mais procurados pelos turistas são bijuterias, vestuário e materiais relacionados à castanha de caju. "Na alta temporada, são esses tipos de produtos que salvam a renda dos feirantes, porque tem épocas que temos baixas em faturamento", pondera.

Experiência

Para Erick Vasconcelos, secretário executivo da Secretaria Municipal de Turismo de Fortaleza (Setfor), os espaços gastronômicos e culturais da Capital são diferenciais para o turismo. "Hoje, o turista quer ter experiência. O diferencial de uma cidade é onde se vende o artesanato, onde eles experimentem a cultura da cidade. Nesses espaços, eles podem vivenciar a artesã fazendo renda ou garrafinhas de areia. O turista não quer só usufruir das belezas naturais. Ele quer ver como é feito. A gente chama isso de turismo de experiência", explica.

Já no Mercado Central, mais de duas mil pessoas estão empregadas, segundo dados da Cooperativa dos Permissionários e Locatários do Mercado Central (CoopCentral). Na alta temporada, a movimentação pode alcançar até 8 mil turistas em todo o período.

"Estimamos que os turistas gastem, em média, R$ 100. Se a gente colocar uma média, dá em torno de R$ 180 mi por mês, segundo a cooperativa. Então, a gente pode estimar de ter um faturamento bem relevante, de em torno de R$ 16 milhões a R$ 20 milhões em um mês de alta estação", avalia Erick Vasconcelos.

Segundo o secretário, a movimentação de turistas na feirinha da Beira-Mar é superior à do Mercado. "A feirinha é mais visitada, porque não tem restrição de horário e está no nosso cartão-postal, o que atrai mais", aponta.

Feito a mão

Há 35 anos, o grupo de artesãos Grão de Coco produz garrafinhas de areia colorida com paisagens cearenses. Eles já exportaram para Inglaterra, Alemanha, Itália, Holanda, Japão, Estados Unidos, Portugal e Espanha. "Os turistas gostam das garrafinhas que representam as praias, as jangadas, o clima cearense", aponta a artesã Maviniê Mota, integrante do grupo.

No ano passado, o faturamento do Grão de Coco chegou a cerca de R$ 150 mil. "O nosso negócio começou a se desenvolver mais no Ceará quando passamos a exportar para fora. Hoje, nosso maior cliente é localizado no Estado", explica. Orgulhosa, a artesã comenta que só na Capital são cinco pontos de comércio que vendem as garrafinhas, um deles na Ceart. Além disso, o Grão tem lojas físicas em Tianguá e Canoa Quebrada.

Integrante do comércio na feirinha da Beira Mar, o artesão Sérgio Gonçalves aprendeu a fabricar as garrafinhas de areia através de uma tradição familiar, vinda da mãe. Hoje referência na região, ele consegue chamar a atenção dos turistas curiosos, que gostam de ver como ele fabrica as garrafinhas a mão na orla da Capital. "Na hora, eu consigo gravar o nome da pessoa nas garrafinhas. Isso é um diferencial. Talvez seja por isso que eu esteja há tanto tempo no mercado", explica.

Gonçalves aponta também que os custos para fabricação das garrafinhas não são altos e que isso influencia no preço final para o consumidor. "Temos preços de todos os tipos. Temos um kit com seis garrafinhas a R$ 10, sai a R$ 1,66 a unidade. Temos peças também de R$ 250. Depende do que o turista quer, da quantidade de horas trabalhadas", destaca o artesão. Para conseguir atender às demandas em grande volume - em determinadas épocas do ano -, ele conta com a ajuda de outras pessoas na produção. "Eu compro a matéria-prima e pago a eles pelo serviço prestado. São quatro pessoas que me ajudam nesses momentos", aponta.

Segundo Sérgio Gonçalves, os feirantes costumam passar por altos e baixos em faturamento de acordo com a época do ano, mas ele diz que, mesmo com toda a inconstância da renda, não desanimou de continuar a desenhar com a areia. "Já pensei em colocar, como meus colegas fizeram, todo o artesanato em geral para vender. Mas, de vez em quando, alguém agradece pelo meu trabalho e eu vou ficando só com minha areia colorida, que é uma tradição para mim", reforça.

Bordados a mão

Além das garrafinhas, outro produto popular na feirinha são as rendas. O artesão João Batista tem 30 anos de experiência na fabricação de artigos de confecção totalmente manuais. "Eu trabalho com renda de bilro e faço por conta própria", explica. Os preços das rendas de Batista podem variar de R$ 5 a R$ 300.

Sobre a movimentação de turistas na Beira-Mar, o artesão comenta que a feirinha não é a mesma em relação aos anos anteriores. "Por noite, eu consigo vender só três peças, porque o fluxo na região está meio baixo", afirma. Mesmo assim, o artesão consegue manter seu negócio com otimismo e paixão. "Eu amo o que eu faço. Os turistas adoram bordados e tudo feito a mão, como centro de mesa, conjunto de pão, toalha de mão, entre outros. Isso é gratificante", avalia.

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