Skiplagging: entenda prática para conseguir voos baratos com até a metade do preço
Prática pode trazer grandes economias, mas envolve riscos e/ou desvantagens. Confira como fazer e economizar na hora de comprar
Com a chegada da alta estação, os preços para diversos destinos brasileiros, principalmente, no Nordeste, ficam muito elevados. No entanto, muitos passageiros conseguem viajar a preços mais baratos, utilizando um método conhecido como skiplagging.
O que é skiplagging?
Imagine que estou em Campinas, interior de São Paulo, e desejo viajar a Recife, um grande hub aéreo. Voos lotados, muitos voos ao longo do dia, para diversas praças do Nordeste e do Brasil.
Um voo em cima da hora entre Campinas e Recife pode custar facilmente mais de R$ 2000,00 só o trecho de ida, caríssimo nesse fim de ano. Ao invés disso e se eu procurasse por voos saindo de Campinas, para outras praças do Nordeste via conexões em Recife?
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Algumas dessas praças conseguem manter voos regulares para Recife, mas, por falta de maior demanda, os preços não são “astronomicamente altos”, seria um truque para buscar voos mais baratos.
Assim, por exemplo, pode ser que eu consiga voar entre Campinas e Mossoró-RN com conexão em Recife com um preço menor que um voo direto entre Campinas e Recife.
Dessa maneira, posso comprar o voo entre Campinas e Mossoró e desembarcar em Recife, não pegando o voo até o destino final: economizaria exatos R$ 900,00. Essa estratégia é chamada de skiplagging.
Obviamente, não posso despachar mala em Campinas, dado que só teria acesso novamente ao pertence no destino final, ou seja, Mossoró.
O mesmo comportamento vi saindo de Campinas a Campina Grande passando por Recife no dia 10/01.
É evidente que podemos não ver a estratégia funcionando todos os dias, de forma que, para quem precisa viajar em dia determinado, o skiplagging pode não se aplicar.
Outro problema ocorreria se a companhia convidar o passageiro a despachar a bagagem involuntariamente no portão de embarque. Por isso, faz-se importante o passageiro embarcar o quanto antes.
Vencido o não despacho da bagagem, o passageiro desembarca em Recife sem maiores problemas. Quando a companhia aérea iniciar o embarque para o trecho Recife-Mossoró, o passageiro certamente será anunciado na sala de embarque para que compareça, porém, não estará no local.
Um problema adicional que o passageiro pode enfrentar é que, caso o voo São Paulo Recife seja cancelado, a companhia me remarcaria como destino para Mossoró, e eu não desejo ir para lá.
Como fazer skiplagging no sentido Nordeste - Sudeste
Testei e consegui comprovar o skiplagging de primeira tentativa também entre Fortaleza e São Paulo. O fato de conseguir preços bem melhores, pode estar relacionado com a alta estação, quando os preços são normalmente mais elevados.
O voo mais barato entre Fortaleza e São Paulo no dia 09/01 vi por caríssimos R$ 2.337,47.
Considerando que São Paulo é um grande hub, quase todos os voos ao interior do estado passariam por conexão na megalópole. Tentei Ribeirão Preto como destino final.
Buscando um voo entre Fortaleza e Ribeirão Preto, no oeste paulista, chegaria a São Paulo por apenas R$ 970,47, menos da metade do preço.
Na ocasião, entretanto, haveria um complicador: o voo seria Fortaleza->Salvador->São Paulo -> Ribeirão Preto. Haveria uma parada em Salvador. Caso esse voo em Salvador tivesse um atraso ou um cancelamento, a companhia aérea me reacomodaria de alguma forma para Ribeirão Preto, via São Paulo, ou não.
Perceba que o skipplaging pode trazer grandes economias, mas envolve riscos e/ou desvantagens:
- Não pode despachar bagagem no check-in
- O voo não pode ser alterado/cancelado
- A companhia pode cobrar o despacho de bagagem no portão de embarque
- Desgastes com as companhias aéreas
Skiplagging é proibido?
Quando perguntamos a algumas companhias sobre o que tinham a comentar sobre a prática do skiplagging em 2022, recebemos indicação de que havia proibição à prática, mas não foi mencionada nenhuma ação prática contra o passageiro.
“(...) esclarece que a prática de Skiplagging não é permitida no contrato de prestação de serviço da companhia. Caso o passageiro, por iniciativa própria, decida interromper a viagem no destino de escala, nenhum reembolso será feito pela companhia”, disse uma companhia na época.
Busquei nos contratos de transporte de algumas empresas menção à prática, mas não havia nenhum indicativo, apenas o mesmo trecho acima em três companhias:
“Nenhum reembolso será devido pelo transportador se, por iniciativa do passageiro, a viagem for interrompida em aeroporto de escala”.
Em outra empresa havia:
“A interrupção da viagem em aeroporto de escala por iniciativa do Passageiro (...), não dará direito a qualquer reembolso”.
E por fim:
“A interrupção da viagem em aeroporto de escala por iniciativa do Passageiro (...) não dará direito a qualquer reembolso, assistência material, tampouco prosseguir com o transporte do Passageiro até o destino contratado”.
O skiplagging é efeito colateral da precificação agressiva
O skiplagging parece se mostrar mais aparente quando buscamos viagens entre grandes hubs e destinos regionais. Funcionou bem e de primeira tentativa entre Recife, Campina Grande, Mossoró e Guarulhos e Ribeirão Preto. Buscar um destino menos badalado, visando outro muito badalado/demandado, parece ser um potencializador do efeito da estratégia.
A tentativa da prática entre capitais pode funcionar também, mas teoricamente, envolveria destinos em que as demandas associadas seriam naturalmente maiores que as demandas para destinos regionais, por isso, pensaria ser menor a diferença de preços.
Quanto menor a diferença de preço, menos vale a pena o truque, dado que há, como vimos, o lado negativo da estratégia.
Os voos diretos como vimos entre cidades hubs A e B chegam a ser tão caros, que voar para destinos menos buscados passando por B precisa ser mais barato para encontrarem demanda suficiente.
As companhias praticam a precificação livre e isso é pilar do mundo capitalista, preços baseados não no custo das coisas, mas baseado na demanda, ou na conveniência.
Porém, entendo que realizar o skiplagging também “é do jogo” e é causado por efeito colateral das próprias companhias.
Lógico que elas ganham no final mesmo assim, pois, a demanda para os grandes centros é largamente maior que algumas dezenas de assentos no dia para um destino regional.
Acima, vimos inclusive nos dois casos voos com ATR, de apenas 70 assentos para chegar tanto no interior do Nordeste, quando ao interior de São Paulo.
Companhias também têm seus truques
Se o passageiro tem seu truque para pagar menos, as companhias também os têm. Um deles é o overbooking na venda de passagens.
Se a companhia tem um mapeamento estatístico de que certa porcentagem de passageiros não comparecerá ao voo, esta pode vender mais passagens que assentos.
A companhia prejudicará eventualmente o passageiro, porque haverá vezes em que todos os passageiros buscarão voar. Nesse caso, o passageiro pagou para voar e foi no jargão da Resolução 400 da Agência Nacional de Aviação Civil, preterido.
Para conhecer um portal que simula mais diretamente as possibilidades de skiplaging, conheça o portal: é como simular a compra de uma passagem aérea em qualquer plataforma.
Como achar voos baratos com skiplagging?
Existe um site chamado Skiplagged em que o viajante pode consultar voos 'ocultos'.
Segundo a plataforma, o algoritmo do site mostra os voos regulares mais baratos e os voos com atraso. Conforme a empresa, os voos skiplagging referem-se a itinerários com múltiplos trechos onde o viajante sai antes do destino final.
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*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.