Cresci em Fortaleza, mas em 2014, fui trabalhar em Aracaju-SE. Para sair de Fortaleza e chegar à capital sergipana, meu caminho mais comum era realizar conexões em Guarulhos-SP, Galeão-RJ, Brasília-DF.
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A “perna” Fortaleza-Aracaju, portanto, era dificilmente completada em menos de 8 longas horas entre voos e tempo de conexão, a maioria das vezes voos na madrugada. Justamente, um voo que, se direto, não chegaria a 1h20 de duração. Quem voava nessa época saindo de Fortaleza para outras capitais do Nordeste, sabe bem do que estou falando.
Em 2016, porém, a Azul Linhas Aéreas inovou na região ao formalizar a criação de um centro de conexões aéreas (hub) na cidade de Recife-PE. Um centro de conexões é um aeroporto com grande quantidade de voos, permitindo aos passageiros se conectarem a destinos variados.
O hub, portanto, concentra e distribui passageiros, pois acrescenta na malha viajantes de outras praças, enchendo mais aviões e viabilizando novos voos.
Objetivamente, o passageiro tem a chance de se conectar para o Norte e Nordeste com facilidade, não mais precisando voar para os grandes e distantes centros como eu muito fiz.
Assim, um hub permite que o passageiro chegue mais rapidamente, já que na maioria das vezes, a conexão é realizada bem mais perto da origem ou do destino.
Com o sucesso da Azul, outras companhias buscaram replicar o modelo em outras capitais nordestinas: em 2018, a Gol escolheu Fortaleza para montar bancos de conexões para as principais capitais do Norte e Nordeste (5 capitais ao todo), iniciou voos intra-Ceará com Caravans da antiga Two Flex, além de badalados destinos internacionais, como Miami, Orlando, Paris e Amsterdã.
Em 2019, a Latam também escolheu Fortaleza para montar uma estrutura ainda maior que a da Gol, pois reunia mais capitais como Teresina, São Luís, além de Miami.
Com a pandemia, o eixo de alguns desses hubs se deslocou: a Gol, desfalcada do seu avião 737-Max, escolheu Salvador para montar um hub bem maior que o de Fortaleza, pois passaria a reunir novos destinos no Centro-Oeste como Goiânia, todos as capitais do Sudeste e do Nordeste (exceto Teresina) e, em parceria com a aérea regional Passaredo, conseguia atingir boa quantidade de destinos regionais, como Ilhéus, Porto Seguro, Petrolina, Barreiras. Conseguira superar com folga a estrutura da falida Avianca.
A Azul ganhou mais fração de mercado e enrobusteceu ainda mais sua estrutura em Recife com mais aviões turboélices ATR e com a criação da empresa sub-regional Azul Conecta, surgida da compra da Two Flex.
Assim, Recife avançaria ainda mais em cidades com aproximadamente 100 mil habitantes no Nordeste, como Patos-PB e Serra Talhada-PE.
Fortaleza foi o centro que mais sofreu com a pandemia e teve a continuação do seu hub ameaçada: a Latam estava desfalcada com sua recuperação judicial, coligou-se com a Azul, fazendo com que a capital cearense retrocedesse mais de 10 anos no tempo, estando presa a conexões distantes em Brasília e São Paulo. E assim foi durante 2020 e metade de 2021, com movimentação pífia.
Porém, com o arrefecimento da pandemia e aprovação da recuperação judicial, a Latam já mostrou que buscará instalar um hub ainda mais abrangente que o de 2019: trouxe para 2022 um número sem precedentes de 18 destinos diretos (eram apenas 13 antes da pandemia) para todas as regiões do Brasil.
Todas as capitais do Sudeste se ligam a Fortaleza, bem como Curitiba (a primeira da região Sul); escalas muito convenientes para Macapá (via Belém) e Porto Velho (via Manaus) além de também se coligar com a Passaredo e passar a vender destinos regionais locais, como Juazeiro do Norte, Parnaíba e o fenômeno Jericoacoara. Sem mencionar que iniciou novos voos próprios em Juazeiro e Jeri.
Ademais, a Latam já retomou as vendas do seu primeiro destino internacional próprio em Fortaleza: Miami. Isso permite boas conexões de todos os voos domésticos com a Flórida, nos Estados Unidos.
Dessa forma, a Latam já tem uma malha bem mais robusta em Fortaleza que antes da pandemia, ainda que ofereça aos clientes horários de viagens apenas diurnos.
O Nordeste, portanto, que já tinha 3 dos 11 maiores aeroportos do país, se consolida também como 3 dos aeroportos com maior número de destinos diretos do Brasil, permitindo conectividade eficiente no país. E novos destinos diretos virão!
Essa descentralização aérea é de grande valor para a região que possui grande mercado consumidor e possui destinos turísticos nacionais muito desejados.
Um viva aos hubs nordestinos!
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor