As coisas estão diferentes ou foi a forma como você lida com elas que mudou?

As pessoas têm se acostumado a olhar para fora para poder saber como se deve agir, o que se deve pensar ou ser modificado. Mas isso não ajuda na autopercepção e, muito menos, no processo de autoconhecimento.

Escrito por Priscila Diniz ,
floresta
Foto: Agência Brasil

“Você acha que as coisas estão diferentes em si ou a forma como você lida com elas foi o que realmente mudou?” Essa pergunta foi feita a uma paciente em uma das sessões desta semana. O objetivo deste questionamento era saber se ela mudou interiormente ou se foi a situação (que ela havia relatado em uma sessão anterior) que havia se modificado.

Inevitavelmente, surgem muitos questionamentos a cerca disso, e é sobre estes que pretendo discorrer.

As pessoas, de um modo geral, têm se acostumado a olhar para fora de si mesmas para poder saber como se deve agir, o que se deve pensar ou ser modificado. Mas isso não ajuda na autopercepção e, muito menos, no processo de autoconhecimento.

Geralmente, se olha para fora, pois se tem a distorcida ideia de mudar no outro aquilo que incomoda, sem perceber o real motivo dessa demanda (e sua origem interna). 

Sem perceber ainda que só se pode modificar a si mesmo. Transferir o negativo para fora é hábito de quem não pratica o autoconhecimento. Para a Psicanálise, o conceito de projeção é um tipo de defesa primitiva. Assim, é caracterizada pelo processo no qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro ou em alguma coisa, qualidades, desejos, sentimentos que ele desconhece ou recusa nele mesmo.

1- Por que não devemos esperar que a mudança venha do outro e não da gente? (Por que devemos nos apropriar da mudança ao invés de jogá-la para o outro?)

Falar em mudança é falar em si mesmo. Sempre. Afinal não se consegue fazer pelo outro algo que ele não julga ou não percebe ser necessário modificar. Já que mudar está diretamente relacionado ao “si mesmo” o que pode ser feito? A resposta é bem simples: Tudo.

Afinal, o ser humano possui uma grande capacidade de mudar o sentido e o significado das coisas em sua vida. É como se houvesse uma “virada de chave” onde tudo fica mais simples e prático, mas isso não se conquista olhando para fora, mas para dentro de si. Se possui todas as respostas, mas se dá mais atenção aos ruídos externos.

E quando isso ocorre temos conflitos, dificuldades e relacionamentos fragilizados pela nossa falta de autocuidado, que culmina na falta de cuidado e respeito com o outro. Afinal, não se proporciona a ninguém algo que não se proporciona a si mesmo, primeiramente.

Por que, ao invés de se esperar ou na maioria das vezes, exigir a mudança do outro, eu não vejo o que precisa mudar em mim? Quando não se percebe o que precisa ser modificado em si, se perde a capacidade de evoluir, crescer e trabalhar a flexibilidade que é tão necessária para a aceitação do outro.

2 - Como desenvolver autoconhecimento?

A psicoterapia é uma das modalidades de busca por autoconhecimento mais comum, onde o sujeito precisa estar aberto e disposto a olhar para seus próprios sentimentos, atos atuais e passados que influem no presente ou sentimentos que geram os sintomas levados para análise. Geralmente é doloroso entrar em contato com o lado obscuro que carregamos, mas se faz necessário para que se valorize e se reconheça a própria a luz.

Podemos acrescentar a ela a meditação acerca dos próprios pensamentos e sentimentos, bem como a escrita sobre como se tem se sentido nos últimos períodos com relação a certas pessoas e situações que são pertinentes para o sujeito. Acompanhar e analisar esses escritos por um tempo nos proporciona a percepção de quem estamos nos tornamos e de quem somos.

Em resumo, acolher é a palavra de ordem em nosso processo interior, pois precisamos aceitar nossas imperfeições para aceitar as do outro. Neste sentido, constroem-se relações mais sólidas e duráveis, pois são baseadas em sinceridade e transparência.

3 - Quando meu sofrimento com relação ao outro é uma demanda válida, ou seja, de fato, esse outro precisa mudar?

Importante estar atento com relação a isso, pois o estabelecimento de limites é fundamental em quaisquer relações - seja amorosa, de trabalho, social, etc. Há situações violadoras de nossa subjetividade que não devem ser toleradas nem admitidas. Quando o modo de ser e agir entra em foco, a vestimenta, modo de falar, sorrir, gostos pessoais são constantemente levantados com críticas ácidas, piadas inferiorizando a subjetividade, temos uma relação violadora, abusiva, tóxica e, por tanto, desnecessária.

Quando o limite não é respeitado, há a necessidade de se repensar este tipo de relação. Sentimentos como medo ou ansiedade extrema em falar, vestir, postar ou agir de certas formas com receio da reação do outro são um sinal de alerta para o que é abusivo e controlador sendo, portanto violador. Sintomas como choro fácil, insegurança, medo, ansiedade estão presentes em relações abusivas.

Há também as situações onde a pessoa é tóxica com ela mesma e isso também precisa ser modificado, mas não através do julgamento moral ou imposições abusivas. Lembre-se de que o diálogo é sempre a melhor forma de gerar entendimento. Esteja preparadx para orientar e acolher.

Relacionar-se não é uma tarefa muito fácil. Estejamos preparados para trabalhar nossa inteligência emocional para que não sejamos reativos em demasia. Acolhimento com respeito ao outro somente será possível se você fizer isso por si mesma.

Priscila Diniz

Psicóloga Transpessoal

CRP: 11/07636

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