Jornalista cearense cria perfil sobre a discografia do choro no Instagram

Também músico, Felipe Araújo tem comentado, desde o dia 1º de Janeiro, uma sequência de 365 discos do gênero musical

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@svm.com.br
Legenda: Felipe (ao centro, com o pandeiro), Felipe Bastos (bandolim) e Ribamar Freire (violão de 7 cordas) tocam na atual roda de choro do Serpentina
Foto: Arquivo Pessoal

Quando se fala em uma "típica música brasileira", a tradição normalmente envolve obras letradas. No entanto, seguindo no contrafluxo do gosto de boa parte dos ouvintes no País, o choro - e sua verve instrumental - se consolidou como parte dessa raiz e não pára de revelar admiradores e musicistas fieis ao gênero.

Um deles é o jornalista, músico e pesquisador musical Felipe Araújo (43). Colecionador do repertório "chorão", ele decidiu escrever, durante todos os dias de 2021, sobre 365 discos de choro para o perfil no Instagram @calendariodochoro

Com a ideia, Felipe quer divulgar a cultura do choro. Especialmente, os discos do gênero, "que são portas de acesso importantes para esse universo musical tão rico e fascinante. Sou um tipo de ouvinte que se guia muito pelas referências discográficas. É assim que costumo me orientar por dentro dos gêneros musicais que acompanho, como o samba, o jazz e, claro, o choro", observa.

A disposição ainda tem a intenção de disciplinar a escrita do autor, publicando uma resenha a cada dia, e trazer visibilidade ao choro pelas redes sociais - hoje mais acessíveis para o público em geral, do que os blogs ou sites especializados. 

Os discos comentados integram a coleção de Felipe, entre CD, LPs e os arquivos digitais. Para o jornalista, a relevância do gênero foi construída desde a infância. Descobria obras pela discoteca do pai e, mais tarde, como músico, se reaproximou do samba e mergulhou, também, na obra do choro - guiado pela assinatura de Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Ernesto Nazareth, dentre outros. 

"Ao mesmo tempo, a partir das rodas de samba, fui convivendo com músicos que também transitavam nas rodas de choro de Fortaleza, caso de Luiz José, David Gouveia, Chiquinho do Cavaco e Giltácio Santos", detalha Felipe Araújo. 

Rodas

Ex-sócio do Serpentina Bar e Cultura (Centro), o jornalista recapitula que a casa sempre teve o espírito de abrir espaço para o choro. Uma roda aconteceu aos domingos, no local, durante mais de dois anos e virou referência para o cenário do gênero na cidade. 

Legenda: A antiga roda do Serpentina, com Giltácio Santos, Chiquinho do Cavaco, Felipe Araújo, Luiz José, Ângelo e Jorge Cardoso (part. especial)
Foto: Arquivo pessoal

A roda acontece até hoje, mais de quatro anos depois da criação do bar, só que aos sábados. "E de forma um pouco mais restrita e limitada, dentro dos protocolos autorizados pelo Governo do Estado (em voga enquanto durar a pandemia da covid-19), no início da tarde (13h)", explica Felipe. 

Cenário

Para o jornalista, o cenário musical de Fortaleza passa por um momento excelente para o choro. "Nunca houve tantos e tão bons instrumentistas nesse cenário, a grande maioria deles formada e inserida na cena do choro", destaca. Além do Serpentina, ele sinaliza que o gênero se espalha por casas como o Pachamama, Bomtequim, Café Passeio e Abaeté.

"O choro sempre consegue criar seus espaços de agregação e divulgação, porque é um ritmo que tem uma relação profunda com a alma brasileira, com uma alegria tipicamente nossa, sofisticada, acolhedora e encantadora", qualifica Felipe Araújo.
  

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