Com uma moda autoral tão rica e diversa, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) preferiu convidar uma grande fast fashion para vestir os atletas nas Olimpíadas de Paris 2024
Chegamos às vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e nós, brasileiros, estamos aqui com esse gostinho de Copa do Mundo (já que a seleção canarinha não tem dado show de bola) para ver o que os atletas brasileiros vão trazer para casa.
Temos a certeza de alguns "ouros" quando se trata da delegação brasileira, o mesmo não pode ser dito sobre os trajes olímpicos. Enquanto outros países optaram por trazer informação cultural, como a Mongólia, o Brasil apostou em um grande nome do varejo para essa missão. E o resultado foi uma combinação mal-ajambrada e insossa do que se pensa ser a forma que um brasileiro se veste.
Os trajes olímpicos do Brasil foram confeccionados a partir de tecidos recicláveis com detalhes bordados à mão, técnicas provenientes de Natal e do semiárido do Rio Grande do Norte. Com motivos da fauna e flora brasileira, o traje de longe representa nossa riqueza cultural e trabalho autoral de tantos artistas deste país de escala continental - o que não é justificativa para um design tão recatado e sem qualquer molejo.
A parceria da Riachuelo com bordadeiras de um estado do Nordeste desce quadrada, porque a mensagem das roupas não dialoga conosco. Moda é comunicação, a roupa é texto e subtexto, e há um grito não dito nesse uniforme: um brasileiro estereotipado, uma moda sem identidade nenhuma e sem pertencimento.
Afinal, o Brasil não é só uma folha de palmeira, com uma onça e um tucano, certo? Certo.
A gente não precisa ir tão longe na comparação e olhar para o traje dos atletas franceses, por exemplo, que moram num país que é referência de moda, atualidade e bom gosto. Muito menos precisamos de grandes nomes, como Adidas e Ralph Lauren, para assinar o "nosso" uniforme.
O Brasil tem uma das maiores Fashion Week do mundo, uma moda autoral de causar inveja e um artesanato premiado. Faltou renda de bilro, de filé, Mestre Espedito Seleiro, Ronaldo Fraga, Isabela Capeto, Catarina Mina, David Lee, Meninos Rei, Lenny Niemeyer e tantos outros.
É cansativo ver essa ilustração desleixada do brasileiro, como se estivéssemos sempre de chinelas Havaianas do escritório ao barzinho baixo clero. É cansativo se ver representado por uma visão internacionalizada de quem somos, uma caricatura que mais mostra como querem nos ver.
From Brazil, um comeback do brasileiro estilo Zé Carioca, o traje olímpico nos fez perceber que: é, a moda não é tão fútil assim.
*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora