Hepatite C: veja sintomas e como ocorre a transmissão dessa doença silenciosa
A tendência é os pacientes desenvolverem uma forma crônica da doença, a qual leva a lesões graves no fígado
A hepatite C é uma inflamação do fígado causada pelo vírus HCV, que, quando crônica, pode levar à cirrose, insuficiência hepática e câncer. A transmissão ocorre no contato com sangue infectado – como no compartilhamento de alicates e agulhas; via perinatal, transmitida da mãe para o filho durante a gravidez e no parto ou, ainda, durante relações sexuais – o que é mais raro.
De acordo com a médica infectologista Elna Amaral* esta é uma doença silenciosa, com aumento do número de indivíduos com infecção crônica em todo o mundo. Muitos têm o vírus, não apresentam qualquer sintoma durante 10 ou 20 anos e se sentem com perfeita saúde neste tempo.
“Os sintomas, para a maioria das pessoas, só vão aparecer quando o fígado dá sinais de inflamação, o que pode demorar anos. No início, as células hepáticas vão compensando o funcionamento daquelas danificadas, e a pessoa não sente nada específico”, detalha.
No geral, “quanto menos sinais no início da infecção, maior a chance de evoluir para a forma crônica, que é o que acontece com a maioria das pessoas infectadas”. E a fase avançada pode significar um quadro irreversível.
A boa notícia, de acordo com Elna, é que existe cura para a infecção. Antes de pensar em prevenção, acrescenta, o ideal é fazer teste para Hepatite C pelo menos uma vez na vida.
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O que é hepatite C?
Hepatite C é uma infecção causada pelo vírus C da hepatite. É considerada, segundo a infectologista, silenciosa, pois, diferentemente da hepatite A, em que mais comumente as pessoas ficam com os olhos amarelados e a urina escura, na hepatite C tais sinais acontecem raramente. No entanto, o vírus está lá, causando danos lentamente no fígado e só anos depois se manifestando de fato, com insuficiência hepática e cirrose.
Como ocorre a transmissão?
A transmissão se dá por contato com sangue contaminado. “Por isso, está muito ligada a pessoas que fazem uso de drogas injetáveis ou inaláveis através de canudos compartilhados. Também naqueles que, em algum momento da vida, usaram seringas de vidro”, descreve a médica. Até a década de 1970, cita a especialista, não havia preocupação com risco de transmissão pelo sangue e não havia material descartável. Então, tais seringas eram apenas lavadas com água quente e reutilizadas.
“Como se desenvolve lentamente, mesmo hoje, 50 anos depois dessa prática, ainda nos deparamos com pessoas que só agora estão evoluindo para a forma sintomática de insuficiência hepática e descobrindo a hepatite C”, diz a médica.
A transmissão pela relação sexual é bem mais rara, mas também pode acontecer, principalmente se há envolvimento de sangue no ato, frisa Elna Amaral. Outra forma comum de contrair o HCV é por material de manicure compartilhado, principalmente nos salões de beleza.
O vírus da hepatite C consegue sobreviver por alguns dias nesses materiais, se houve contato com sangue, e se os itens não foram esterilizados adequadamente. Pode passar também da mãe para o bebê na gestação e parto. Por isso é preciso solicitar exame que indica se a pessoa tem ou não o vírus no pré-natal”.
Quais os sintomas da Hepatite C?
Os sintomas, para a maioria das pessoas, só vão aparecer quando o fígado dá sinais de inflamação, frisa a infectologista. “À medida que a infecção progride e mais células vão sendo afetadas (anos depois), o indivíduo começa a sentir cansaço, indisposição, dores articulares sem febre”, lista.
Aos poucos pode começar ainda uma dor do lado direito do abdômen, que nem sempre é presente. Os olhos amarelados já se manifestam quando o fígado está bastante danificado, comenta a médica.
“São raras as pessoas que apresentam os sintomas de icterícia (olhos amarelados e urina escura) nos primeiros dias após a infecção. Quanto menos sintomas no início, maior a chance de evoluir para a forma crônica, que é o que acontece com a maioria das pessoas infectadas”, ressalta.
Outros sintomas:
- Dor abdominal
- Dores na zona do fígado
- Inchaço abdominal
- Sangramento no esôfago ou no estômago
- Urina escura
- Letargia
- Problemas de concentração
- Fadiga
- Febre
- Coceira
- Icterícia
- Perda de peso
- Intolerância ao álcool
- Náusea e vômitos
Tratamentos disponíveis
Desde 2020 existem medicamentos que curam a hepatite C. A descoberta da cura valeu inclusive o Prêmio Nobel de Medicina de 2020 para Harvey J. Alter, Michael Houghton e Charles M. Rice.
“Antes disso, havia um combinado de medicamentos e injeções de uso prolongado, com muitos efeitos colaterais, que na maioria das vezes não curavam, apenas estacionavam a progressão da infecção, com reaparecimento da inflamação algum tempo depois da sua interrupção. Agora é encontrado esquema de tratamento de um comprimido por dia, para uso de dois a três meses, e praticamente sem efeito colateral nenhum, o qual cura de fato a hepatite C”, acentua a médica.
Tem cura?
Dependendo do estágio em que se descobre a infecção, a cura é possível. “No entanto, pessoas que já tem dano hepático importante e irreversível podem necessitar de transplante de fígado. Embora os medicamentos atuais 'matem' o vírus, os estragos causados por ele podem não ser mais reversíveis (fase de 'cirrose'). E a cirrose pode favorecer o desenvolvimento de câncer de fígado. Por isso, o ideal é diagnosticar o quanto antes”, alerta.
Como se prevenir?
Antes de pensar em prevenção, Elna Amaral é enfática: ”Indico fazer o teste para hepatite C para saber se o vírus já se encontra em você. Se o exame der presença de vírus, deve-se procurar o serviço de referência em hepatites da sua cidade para buscar pelo tratamento. Se der negativo, aí falamos sobre a prevenção”.
Dicas práticas de prevenção:
- Não compartilhar agulhas, seringas ou canudos quando utilizar drogas (idealmente não utilizar);
- Ter seu material de uso individual quando for à manicure;
- Relações sexuais com camisinha quando houver risco potencial de sangramento e se a pessoa desconhece a sua sorologia para hepatite C.
*Elna Amaral é médica infectologista (UFPI). Coordena e atende no ambulatório do Instituto de Doenças Tropicais Natan Portella (SUS) que é a referência do Estado do Piauí em HIV/Aids, hepatites viriais e outras infecções sexualmente transmissíveis. Também atende em consultório de HIV/Aids, hepatites viriais e outras infecções sexualmente transmissíveis.