Estudo defende que carne de cobra pode ser alternativa para dietas ricas em proteína; entenda
Apesar de muitos apostarem no vegetarianismo para reduzir a pegada de carbono associada à pecuária, cientistas afirmam que répteis podem oferecer resposta mais eficiente
A demanda por carne cresce mundialmente, apesar da pegada de carbono associada à pecuária tradicional. Embora muitos apostem em dietas vegetarianas como melhor alternativa, alguns especialistas acreditam que répteis não têm sido suficientemente considerados. Um estudo publicado, neste ano, na revista Nature, concluiu que a carne de cobra pode ser uma alternativa mais eficiente para dietas ricas em proteínas.
Na análise, os cientistas destacaram que as serpentes toleram temperaturas altas e seca, se reproduzem e crescerem mais rápido do que outras fontes de proteína animal, consumindo menos comida. "Elas podem sobreviver meses sem comida ou água e não perdem a forma", frisou o diretor do Instituto Africano de Herpetologia Aplicada e um dos autores do estudo, Patrick Aust.
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Eles ainda estimam que existam pelo menos 4 mil criadouros de serpentes só na China e no Vietnã, que produzem vários milhões de cobras, principalmente para a indústria da moda. Apesar de venderem o couro desses animais, muitas vezes a carne é descartada por falta de mercado.
"A criação de cobras pode oferecer uma resposta flexível e eficiente à insegurança alimentar global", concluíram os pesquisadores do estudo, que passaram um ano analisando cerca de 5 mil serpentes pítons-reticuladas e birmanesas em dois criadouros comerciais no Vietnã e na Tailândia.
Durante a investigação, os especialistas observaram que, por terem uma dieta baseada em restos de galinhas e roedores caçados na natureza, esses animais podem gerar melhores retornos econômicos do que os proporcionados às aves, ao gado ou mesmo aos grilos. Eles também se reproduzem mais rapidamente, segundo explicou Aust, que acrescentou que as pítons fêmeas põem entre 50 e 100 ovos por ano.
Demanda por carne e impacto climático
Cobras selvagens são consumidas há muito tempo no sudeste asiático, mas sua carne, com textura semelhante à de frango e baixa em gordura saturada, ainda não atraiu interesse internacional.
O impacto climático da pecuária tem sido amplamente documentado. Especialistas em mudança climática da ONU afirmam que a carne de gado, especialmente a bovina, é "o alimento com maior impacto no meio ambiente".
Mas enquanto a ONU e os ativistas ambientais defendem uma dieta mais vegetal, a OCDE estima que a demanda de carne terá aumentado 14% em 2032 devido ao crescimento populacional nas regiões de baixa renda e à melhoria dos padrões de vida nos países asiáticos.
Ao mesmo tempo, a seca e os fenômenos meteorológicos extremos dificultam cada vez mais a criação de gado em partes do mundo onde a necessidade de proteínas é urgente.
Em 2021, de acordo com um estudo da Global Burden of Disease, a desnutrição proteico-energética causou 190 mil mortes em todo o mundo.
Esse paradoxo incentiva a busca de alternativas à carne, desde insetos comestíveis até carne produzida em laboratório, todas ainda em um estado muito embrionário.
Obstáculos
Os criadores de serpente também enfrentam obstáculos, como padrões de processamento de carne muito rígidos, considerados desatualizados por quem faz parte do setor. No entanto, Patrick Aust se mantém confiante no "enorme potencial" desta carne. "Você pode grelhar ou comer com curry, ou ensopados. Gosto de fritar na manteiga de alho até ficar crocante", detalhou.
Já as organizações de direitos dos animais estão menos entusiasmadas. Este ano, o grupo Peta acusou o criadouro do empresário italiano Emilio Malucchi, que vive na Tailândia há mais de quatro décadas, de crueldade após registrar secretamente que cobras eram mortas a marteladas antes de terem sua pele removida.
Como resposta, o empreendedor colocou enormes cartazes nas paredes instruindo como matar pítons "de forma humana" e garante que sua indústria não é diferente das outras. "Animais de fazenda são mortos em todo o mundo", disse ele. "As serpentes não são diferentes".