A Doença de Crohn afeta predominantemente a parte inferior do intestino delgado (íleo) e intestino grosso (cólon), mas pode ocorrer em qualquer parte do trato gastrointestinal. Habitualmente causa diarreia, cólica abdominal, às vezes febre e sangramento retal. Também pode ocorrer perda de apetite e de peso. Os sintomas podem variar de leves a graves, mas, em geral, as pessoas com a doença podem ter vida ativa e produtiva.
A causa da enfermidade é desconhecida, mas não está descartada a hipótese de que seja provocada pela desregulação do sistema imunológico. Fatores genéticos, ambientais, dietéticos ou infecciosos também podem estar envolvidos, relata a gastroenterologista Rafaelle Marques*.
No Brasil, a prevalência das doenças inflamatórias intestinais varia de 12 até próximo a 55 por grupo de 100 mil habitantes, dependendo da região e do estudo epidemiológico, segundo informações da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. No País, a ocorrência de novos casos de Doença de Crohn e retocolite fica em torno de sete para cada 100 mil habitantes. Nos países desenvolvidos, incluindo EUA, Canadá e algumas nações europeias, a prevalência pode chegar próxima a 120/130 para cada 100 mil habitantes.
O que é a Doença de Crohn
É uma doença crônica que causa inflamação no trato gastrointestinal. Como a Doença de Crohn se comporta como a colite ulcerativa (às vezes é difícil diferenciar uma da outra), as duas são agrupadas na categoria de doenças inflamatórias intestinais (DII).
Diferentemente da Doença de Crohn, em que todas as camadas estão envolvidas e na qual pode haver segmentos de intestino saudável entre as partes de intestino doente, a colite ulcerativa afeta apenas a camada mais superficial (mucosa) do cólon e de modo contínuo.
Dependendo da região afetada, a Doença de Crohn já foi chamada de ileite, enterite regional ou colite, etc. Para reduzir a confusão, o termo Doença de Crohn começou a ser usado para identificar a doença, qualquer que seja a região do corpo afetada (íleo, cólon, reto, ânus, estômago, duodeno, etc.).
Ela é chamada Doença de Crohn porque Burril B. Crohn foi o primeiro nome de um artigo de três autores, publicado em 1932, que descreveu a doença.
Sintomas da Doença de Crohn
Variam de acordo com o local acometido e o grau de inflamação. Como a região mais frequentemente afetada é o intestino, o sintoma mais comum é a diarreia. “Trata-se de uma diarreia duradoura (mais de três semanas), que pode vir com sangue, associada à dor abdominal. Quando mais grave pode levar à obstrução intestinal com distensão abdominal e vômitos ou perfuração com uma dor mais intensa. Na boca podem surgir aftas e no ânus podem ser percebidos abscessos e fístulas (pequenos furos com saída de secreção ou mesmo fezes)”, descreve a médica.
O que causa a Doença de Crohn
Infelizmente, explica a gastroenterologista, é uma doença com causa ainda desconhecida. “Provavelmente é uma associação de predisposição genética com fatores ambientais. Existe uma ativação de células inflamatórias do sistema imune que passam a atacar o próprio corpo e provocam a lesão no trato gastrointestinal”, avalia.
Tratamentos possíveis
O tratamento deverá ser individualizado, considerando o local de acometimento e a gravidade da doença. Corticoides são utilizados para amenizar os sintomas na crise. E sempre será necessário uma ou mais medicações para manter a doença sob controle, ou seja, em remissão. Como há uma ativação exagerada do sistema imunológico, então o tratamento utiliza drogas imunossupressoras, como a azatioprina ou medicações biológicas (são selecionadas para casos mais graves ou que não respondem). Nas complicações, como perfurações ou fístulas, pode ser preciso realizar cirurgia.
Mudança na alimentação
A parte nutricional deve ser acompanhada de perto para evitar a desnutrição. Essa complicação pode acontecer nos casos mais graves ou quando há inflamação em pontos específicos do intestino, em que ocorre a absorção de nutrientes, avalia Rafaelle Marques.
Períodos de crise podem vir acompanhados de hiporexia ou vômitos, o que restringe ainda mais a alimentação. “Portanto, o acompanhamento conjunto com um nutricionista experiente pode ser útil. Fora da crise, não há necessidade de maiores restrições, a menos se o paciente apresentar alguma doença associada, como intolerância à lactose, o que pode ser comum”, adiciona.
Na fase ativa da doença existem alguns alimentos que devem ser evitados: embutidos, leite integral e seus derivados, queijos amarelos, manteiga, açúcar em quantidade, verduras folhosas, temperos e condimentos picantes. Reduzir o consumo de gordura, principalmente na preparação de alimentos, assim como dar preferência para carnes magras, também é indicado em qualquer quadro da doença.
Prevenção das crises
A maioria dos doentes, quando entra em remissão, leva uma vida praticamente normal. Algumas medidas simples podem ajudar a prevenir as crises:
- Não fumar;
- Praticar atividade física moderada;
- Procurar identificar os alimentos que fazem mal e evitar os que possam agravar os sintomas;
- Controlar o peso;
- Evitar, dentro do possível, situações de estresse;
- Reduzir a ingestão de alimentos gordurosos de origem animal e de alimentos ricos em fibra;
- Pedir a orientação de um nutricionista para selecionar uma dieta balanceada;
- Verificar o aspecto das fezes sempre que utilizar o vaso sanitário. Se notar sinais de sangue e alterações sem justificativa aparente nos hábitos intestinais, consultar um médico.
Principais dúvidas
Tem cura?
Qual exame detecta a doença?
A condição é hereditária?
Pode matar?
*Rafaelle Marques é graduada pela Universidade Federal de Paraíba (UFPB). Trabalha como preceptora em gastroenterologia pelo Hospital Geral de Fortaleza. Mestre em Ensino em Saúde e Tecnologias Educacionais pela Unichristus.